Capítulo Um
Parte 3
Tinha sido apenas uma ponte para ela sair de sua vida medíocre como vendedora de uma loja, esquecida no centro de Londres, para a esposa de um jovem e rico empresário e famoso apresentador.
Amanda tinha vindo do Brasil trabalhar como modelo em Londres, mas antes já havia passado por outros países. Começara aos quatorze anos como modelo fotográfico e aos dezessete assinou com uma grande agência internacional que a fez estourar nesse meio.
Passou também a desfilar para grandes nomes da moda, fazer propagandas e outros trabalhos. Seu rosto ficou conhecido rapidamente como a nova promessa das passarelas.
Até participou de dois filmes como convidada. Ele nunca imaginou que seria ela a viúva alegre. Estava correndo tanto que via uma vez ou outra seu rosto em revistas, mas nunca parou para olhar bem.
Agora estava como um idiota preso a ela e sem saída próxima para seu desespero de fazê-la se interessar por ele. A vida era engraçada às vezes e outras vezes ela ria de sua cara.
Mesmo estando solteiro e ela viúva, Amanda nunca lhe deu uma única chance, nem mesmo mudou sua atitude com relação a ele, apesar dos amigos já terem tentado fazer com que diminuísse sua aversão.
Não entendia por que ela não o achava atraente, embora sua atração por ela só aumentasse, porque a cada dia ficava mais bonita com a idade. Agora ela estava com trinta e um anos e estava mais sexy e mais feminina do que antes.
E ele não estava exagerando porque seus amigos diziam a mesma coisa.
Quando o marido morreu ela abandonou as passarelas e o mundo da moda. Agora só fazia trabalhos para amigos pessoais e muitas vezes não cobrava cachê. Ninguém entendeu porque ela fez isso e muitos diziam que era por ter tanto dinheiro que já não se importava em ganhar mais e agora só queria gastar.
Não importava o que fosse ele só queria uma chance. Amanda adorava dizer que ele era só um amante latino de sangue quente e fogo nas calças, mas que era “só” isso. Não era verdade.
Ele sabia que dizia isso para provocar, mas estava começando a ficar magoado com esse comportamento agressivo dela. Tinha muito preconceito contra ele e nem mesmo o conhecia de verdade porque não se aproximava o suficiente.
Estava começando a se tornar o machista arrogante que ela dizia que era, mesmo não sendo assim. Cada farpa jogada era um ferimento a mais e não queria continuar dessa forma. Já admitira pra si mesmo que ele não apenas a desejava, era uma paixão doida que nunca havia sido provada ou correspondida.
Começava a incomodar seu corpo e sua cabeça. Amanda começava a afetar sua vida e sua capacidade mental. Já não era o charmoso Lorenzo Bernazzi que conquistava tudo e todos, estava perdendo a graça para outras coisas.
Até em seu trabalho estava mais disperso. Gostava de organizar e administrar seus restaurantes, tinha paixão por isso, mas agora começava a ficar mais devagar com relação aos negócios.
Sua paciência estava se esgotando. Na noite anterior ela o provocou mais uma vez e ele se segurou, mas estava querendo vingança agora. Tinha que começar a dar o troco em sua língua afiada.
Estavam em mais uma partida longa de póquer com os amigos quando o assunto de casamento apareceu na mesa. Paul informou aos amigos que iria se casar em breve com sua namorada de anos e Mauro que seria pai de novo pela segunda vez.
— Está vendo playboy?
Amanda se referiu a ele com cinismo no rosto.
— É assim que um homem de verdade faz. Se preza tanto seu lado italiano, por que não arranja uma mulher que seja boa e honesta e que possa encher sua mãe de netos? - largou uma carta — Os homens italianos são conhecidos por serem grandes procriadores.
Riu junto com os outros a mesa.
— Se parar de dormir com as Lyanes da vida, talvez conheça alguém que vale a pena investir.
Mesmo com os amigos rindo ele segurou a língua. Queria dar uma resposta, dizer que ela o havia estragado para as outras mulheres porque só pensava nela dia e noite e que estava ficando louco. Ficava com outras porque não podia ficar com ela.
Sorriu de modo enigmático e balançou a cabeça, mas não comprou a provocação.
— Nossa, acho que nosso CEO, barra apresentador, barra escritor, barra cozinheiro está de mau humor hoje - ela riu e bebeu um pouco de sua água de coco — Não vai dizer nada?
Ele só sorriu. Se segurou.
— Hum!... Sei não.
Lorenzo apertou a coxa em irritação, mas se segurou. Dessa vez ele a deixaria no ar sem resposta. Foi até bom porque percebeu a mudança no tom de verde em seus olhos quando ficou em dúvida. Apenas continuou a jogar e depois se despediu dos amigos indo embora.
Deixando a cidade para trás, sorriu e abaixou o vidro da janela para sentir o ar mais puro. Londres estava contaminada com a fumaça de fábricas, carros, motos e o barulho era muito chato. A vida era muito corrida lá e aqui no campo era diferente.
Tinha comprado a casa como um presente para os pais tão logo conseguiu juntar seu primeiro milhão e eles haviam adorado o lugar. Muito verde, espaço, ar puro e até uma pequena lagoa faziam da propriedade um lugar perfeito para morar.
Vinha muito ali para visitar a família. Agora só um dos irmãos ainda morava com os pais.
As lembranças voltaram e se recordou de quando era criança e desejava muito poder ter uma vida mais solta, mais confortável. O salário do pai era bom, mas não o suficiente para bancar a vida que ele queria e saírem do pequeno apartamento nos arredores de Londres.
O bairro não era ruim, porém não era dos melhores também e quando começou a estudar em uma escola particular com uma bolsa que a mãe conseguiu, ele passou a ver a diferença entre os alunos.
Sempre tinha facilidade de fazer amigos e logo estava frequentando as casas dos ricos e pegou gosto por coisas boas.
No começo pensou em ser bailarino porque amava dançar, mas o pai foi contra porque dizia que era coisa de meninas e um rapaz que dançava era visto como homossexual. Como se isso fosse problema ou errado.
Porém a pressão foi grande em casa e também nos estúdios de dança. Conseguiu alguns testes, mas nenhum deles para papel principal.
Começou a praticar futebol na escola e estava até indo bem, tinha talento para o esporte e prometia, mas acabou machucando o joelho em uma partida e o treinador teve a mesma opinião que o médico que o operou, deveria desistir porque o joelho não voltaria a ser como antes. Para um jogador profissional era sim importante.
Tentou aulas de teatro e acabou desistindo porque só lhe davam papéis de italiano por causa de sua aparência e mesmo fazendo teste para outros personagens nunca conseguia emplacar.
Precisando de dinheiro para pagar seus gastos ele começou a trabalhar como assistente em uma rede de televisão local e começou a aprender como funcionavam as coisas. Ficou ligado nas conversas sobre negócios interessantes, quando os mais velhos conversavam por perto.
Um dia em casa ele começou uma brincadeira com os irmãos, imitando um comediante que fazia muito sucesso em Londres e o pai gravou tudo sem ele saber.