Capítulo Dois
Parte 1
Mabel estava regando as flores em seu jardim muito bem cuidado por ela mesma. Suas rosas estavam enormes e as gérberas começavam a despontar criando um colorido perfeito em frente a janela.
Ela viu o carro de Lorenzo entrando pela estradinha de pedras recentemente feita pelo filho mais novo, Luca. Sorriu e retirou as luvas amarelas que usava para proteger as mãos dos espinhos e foi até ele.
— Meu filho lindo! - o abraçou — Eu só o esperava amanhã para o almoço - apertou sua bochecha carinhosamente.
— Eu sei mãe.
Beijou seu cabelo. Mabel era baixinha e gordinha com cabelos branquinhos. Era como se fosse um bibelô da família e todos a paparicavam. Alguns anos atrás ela tinha ficado muito doente, mas havia se recuperado e depois disso os homens da família passaram a prestar mais atenção a ela.
— Me deu vontade de vir te dar um abraço e comer sua comida gostosa - a apertou de novo nos braços.
— Ah, então a comida foi o que te atraiu? - riu.
— Adoro sua comida mãe, me faz sentir como se tudo fosse mais fácil. Não é á toa que aprendi a cozinhar cedo e hoje meus livros de culinária são famosos no mundo inteiro por causa disso. Foi seu tempero e carinho para criar os pratos que me incentivou.
— Meu bebê está triste? - fez uma cara de preocupação.
Lorenzo era um homem muito bonito de um metro e noventa e oito de altura. Alto igual ao avô e magro como o pai, mas de corpo definido. Também tinha o gênio muito parecido com o avô paterno. Era uma mistura de vários homens da família.
Quando Lorenzo se aborrecia demorava para deixar a mente relaxar. Ficava horas, ás vezes dias pensando no ocorrido e já sabia que ele voltava para casa sempre que estava chateado com algo.
— Não mãe, só um pouco cansado - torceu a boca.
Mabel sabia que tinha algo mais o incomodando.
— Algumas coisas demoram para mudar e me aborrece não ter o controle da situação.
— Problemas no trabalho? - ela questionou curiosa.
Ela tinha muito orgulho de seu segundo filho. Lorenzo desde pequeno foi decidido e ia atrás do que queria, mesmo sendo difícil. Conseguiu sucesso trabalhando da forma certa e mesmo abandonando projetos por causa da opinião pesada do pai, ele continuou até que conseguiu.
Era muito inteligente e bonito. O irmão Luca estava seguindo os passos dele e também mostrava que teria sucesso no caminho escolhido.
— Não. O trabalho vai muito bem.
Abriu a porta para a mãe entrar. A sala estava começando a ser decorada para o natal que se aproximava.
— Mãe, não está cedo para decorações natalinas?
— De forma alguma. Sabe que o natal é importante pra mim e eu amo decorar a casa.
— Mas ainda faltam dois meses mãe - sorriu.
— E daí? Sou uma mulher organizada. Aos poucos vou colocando um enfeite aqui, outro ali e quando menos se espera a casa está linda, cheia de luzes.
Ele a apertou nos braços de novo. Era muito carinhoso.
— Vamos almoçar?
— Não estou com fome, mãe.
Mabel se surpreendeu com essa declaração. Lorenzo era magro, mas comia como um animal faminto. Rejeitar comida não era algo comum e tinha algum problema aí.
— Você não rejeita comida filho. O que aconteceu?
— Isso é verdade.
Eles olharam para a cozinha. Luca vinha de lá, trazendo uma bandeja que colocou em cima da grande mesa de refeições da sala. O irmão caçula também adorava cozinhar e fazia da cozinha da mãe um laboratório de experiências culinárias, a maioria bem sucedidas.
— Oi, Luca.
Abraçou o irmão que correspondeu forte. Luca era o mais carinhoso dos três, sempre cuidando com atenção dos pais. Morava pertinho deles e todos os dias estava na casa, as vezes mais de uma vez e não se mudava para longe, apesar de ter tido uma ótima proposta para trabalhar porque não queria deixar os dois sozinhos.
Mesmo que não estivessem realmente, porque Lorenzo sempre estava por perto. Lula praticamente morava com eles ainda.
— O que está fazendo? - Lorenzo perguntou.
— Uma receita nova que estou testando. Segredo.
— Se der certo já quero provar.
— Sei! - deu risada — Quer roubar minha ideia pra algum livro novo de culinária?
— Eu? - franziu a testa — Que absurdo! - riram juntos — Onde está o pai?
— Ele já deve estar voltando - Mabel disse — Foi dar uma volta lá atrás com o cachorro.
— Papai precisa é de uma academia, isso sim. Ele está ficando redondo demais.
Lorenzo puxou uma cadeira.
— Está chamando meu marido de gordo?
— Não, só de bem cevado - Lorenzo disse.
—Verdade - Luca gargalhou.
— Está ficando redondinho igual a um leitão.
— Esperem só até ele chegar - ela disse, fazendo um gesto com a mão para cima.
Mabel riu também. Desconfiou da mudança proposital de assunto. Conhecia bem os três filhos, cada um com seu jeito particular, mas no geral o comportamento era quase idêntico e sabia quando algo não ia bem, mesmo que tentassem esconder.
Ela era de um pequeno povoado da Toscana e tinha conhecido o pai dos meninos em uma viagem para estudar em Roma. A paixão foi imediata e logo já estavam na cama. Pouco tempo depois se casaram e ela já estava grávida de seu primeiro, Leandro.
Por causa de problemas com a família de Anselmo eles mudaram e saíram da Itália amada e maravilhosa para viver em Londres, muito diferente em tudo, inclusive no clima.
Chovia demais e até os dias de hoje ela ainda não se acostumava com aquele sol fraco. Na Itália o sol é especial e as cores são vívidas.
O segundo filho já nasceu em Londres e eles não tinham muito dinheiro. Foram tempos complicados. O emprego oferecido não foi o que Anselmo esperava e não queriam retornar por causa de divergências na família, então seguiram se apertando e fazendo o que podiam para criar os dois meninos. Lorenzo já era um londrino de nascimento.
Cinco anos depois veio Luca, seu caçula e último filho. Um problema de saúde a fez retirar o útero e infelizmente não teve a sorte de ter tido uma menina como queria, mas seus três rapazes eram maravilhosos.
Cada um seguiu um rumo e tentavam de tudo para obter sucesso e graças ao bom Deus nenhum deles tinha se metido com coisas ruis e trabalhavam honestamente.
Leandro agora tinha sua própria empresa e Luca começava a sua também. Lorenzo ajudava os irmãos em tudo o que podia e sempre os incentivava. Era o filho do meio e era como uma cola entre todos eles. Sempre tinha sido encantador desde pequeno e cheio de charme.