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2 - Mas é muito metido!

Seu Garcia deixou os dois sozinhos na sala e Ricardo fechou a porta.

— Primeira regra: Porta sempre fechada.

— Ah, e existem regras? — ela perguntou sem pensar.

— Claro que existe. — ele se virou para ela. — Eu sei que com o meu tio as coisas são um pouco desorganizadas, mas meu trabalho parte disto: organização. — tirou o copo de café da mão de Verônica. — Obrigado. — ele destampou e sentou-se na cadeira do Seu Garcia.

Verônica só ficou observando. "Sinto que esse homem será uma pedra no meu sapato".

Ricardo experimentou o café e logo fez careta. — Está frio. — estendeu o copo para ela pegar.

— Eu acabei de pegar.

— Está frio. Eu gosto de café quente. Muito quente. Vai buscar outro. — balançou a mão para ela sair.

"Ele só pode estar brincando" — ela o fitou incrédula.

O café ainda estava tão quente que ela sentia nas pontas dos dedos, e na boca deve ser mais quente ainda.

— Vai logo. — balançou a mão novamente e levantou um espelho pequeno que estava em cima da mesa, depois encarou seu reflexo e sorriu.

Ela suspirou fundo e saiu da sala.

O grupo de colegas que trabalham no prédio estava todo reunido no balcão da recepção daquele andar e ansiosos, chamaram ela para se juntar a reunião.

Ela respirou fundo e abriu um sorriso gentil, indo até eles. — Sim?

— Como é o novo chefe?! — o único rapaz do grupo perguntou com os olhos curiosos e todos ficaram atentos ao que ela iria contar.

Ela pensou em alguma palavra que resumisse o que ela viu, sem soar como ofensa.

— Inestimável.

Todos ficaram impressionados, se entreolhando. — Eu disse! — uma das meninas se sentia vencedora.

— Ele é tão lindo... — Rosa, a assistente de um dos chefes, deitou sua cabeça na mão e encarou o teto como uma sonhadora. — Alto, forte, cheiroso, com um terno impecável e aquele olhar 43...

Verônica ouviu isso tudo tentando fingir que debaixo da beleza de seu chefe não havia um mandão como o de agora a pouco.

— Dizem que ele saiu na capa da revista de finanças do mês passado. — outra secretária contou em tom de fofoca. — Assim que meu expediente terminar, vou passar na banca e comprar essa revista. Quero saber tudo sobre o nosso novo chefão.

"Em 2 minutos eu já tenho um péssimo resumo dele" — pensava Verônica, com o olhar estreito.

— O que você vai fazer agora, Verônica?

— Pegar café quente pro Narciso. — ela respondeu de automático e depois de um barulho de admiração dos colegas, ela se tocou que falou demais. — Digo, pro chefe. — sorriu e procurou a lixeira para jogar o copo de café que carregava em sua mão. — Vocês me dão licença? — pediu gentilmente.

— Claro.

— Sim. — eles falavam descoordenadamente e ela entrou no elevador, sorrindo.

Quando as portas se fecharam, só ficou ela.

— Mas que azar do cacete foi esse?! — começou a conversar com seu reflexo. — Esse trabalho era perfeito. Maravilhoso. Porque aquele velhote decidiu se aposentar logo agora?! — Verônica apertou suas mãos forte e começou a chutar a parede.

As portas do elevador se abriram e três homens ficaram assistindo à reação exagerada dela.

Quando ela percebeu, parou, arrumou a postura e sorriu como de costume.

"Ele não tinha um filho? Aquele filho que tem mais 5 crianças? Porque ele não assumiu a empresa?!"

Todos no elevador comentavam sobre o novo chefe e sua primeira impressão.

Parece que todos gostaram dele. Verônica discordava de tudo, ali atrás no elevador. Ela revirava os olhos a cada elogio. Tudo o que ela queria era um chefe que não pegasse no seu pé.

Quando o elevador se abriu e ela saiu para a cafeteria, logo que pediu o café pensou em como levar o bendito quente como uma chama.

— Você pode enrolar em papel alumínio, por favor?

— Sim. — a garçonete assentiu, estranhando o pedido da Secretária Verônica.

A perturbação dela era percebida por todos, porque geralmente ela era uma pessoa muito tranquila.

Ela saiu correndo com o copo de café na mão e entrou no elevador. Em seus pensamentos, quanto mais rápido chegasse na sala do chefe, menos o café esfriaria.

Outras pessoas entraram no elevador e um deles falou diretamente com ela.

— Senhorita, que bom que te encontrei aqui! Daqui a duas horas haverá uma coletiva de imprensa, para apresentar o novo chefe. Prepare tudo. Certo?

— Aham. — ela assentiu desanimada. Cada momento que se passava, a ficha caia. Realmente, Seu Garcia se foi e Ricardo será o novo chefe.

Assim que as portas se abriram, ela saiu correndo com o copo de café enrolado em papel alumínio.

Ele virou a cadeira e fez uma careta do jeito que sua secretária chegou.

— O café. — ela se aproximou da mesa, suspirando e entregou o copo.

— O que é isso? Que papel é esse? — fez careta novamente.

— É para conservar o calor. — ela arrumou a postura. — Você não gosta de café quente?

Ele tirou o papel e abriu o copo, depois experimentou o café e imediatamente afastou a boca, fazendo uma careta. — Tá muito quente!

Ela sorriu. — Então tá do jeito que você gosta.

— Senhor. Aliás, Dr.

— Dr. — ela abriu um sorriso Colgate e pediu licença.

Após sair fechando a porta, ela desmanchou o sorriso e rugiu.

"Estou começando a gostar da ideia da porta fechada". — sentou-se em sua mesa e abriu a agenda. — Vamos a essa coletiva…

[•••]

Verônica deixou tudo impecável para a apresentação do novo chefe.

Estava ela e mais 3 funcionários importantes na comitiva, seu chefe se atrasou e os fotógrafos e repórteres estavam ansiosos por sua entrevista. Um segurança chegou ao lado de Verônica e avisou que o chefe estava esperando-a dentro da empresa.

Ela estranhou, mas foi vê-lo.

Ricardo andava de um lado para o outro, impaciente. Ela fechou a porta da sala, e perguntou o que estava acontecendo.

— Onde estava a minha secretária para arrumar a minha gravata?

"Ele só pode estar brincando, né?"

— Sua gravata está ótima. — ela olhou para o nó.

— Ótima? Chega mais perto. Eu preciso estar impecável, Verbena.

— Verônica. — corrigiu e arrumou o nó da gravata e a gola também. — Pronto, está ótima. — ela se afastou.

Ele andou com o peito inflado até o espelho e sorriu para o seu reflexo. — Impecável. Será que existe algum chefe mais bonito do que eu?

"Que filho da mãe narcisista". — ela cruzou os braços e se encostou na parede, pensando.

— Hein? Existe? — olhou para ela.

— Não. Jamais. — sorriu com muito deboche.

Ele era muito bonito e ela reconhecia isso, mas desaprovava suas falas.

— Você tem muita sorte, Gardênia. — ele garantiu admirado.

"Gardênia?"

— Sou muito sortuda, Dr. — ela concordou, com um sorriso infeliz.

@autora.nikole

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