Capítulo 01
THEODORA
"Tem algo de errado com você Tessy, e eu estou cansado de tentar... é frustrante..."
Vira e mexe as palavras do meu ex namorado vinham à minha mente para me lembrar que eu tinha falhado como mulher.
Eu tinha vinte e cinco anos e ainda era virgem, mesmo depois de dois anos de namoro.
— Venha ser meu par, miga. — Kaique, meu melhor amigo, me tomou pela mão.
Estávamos no estúdio de dança Cia Amaral & Drazo, meu destino todos os dias após o trabalho. Se ficar no escritório contábil era uma tortura para mim, as noites nas aulas de salão eram um escape perfeito.
— Eu deveria deixar você dançar com o Marcus. O cara não para de sorrir para você — comentou Kaique, achando engraçado. — Não olhe tão diretamente, disfarça, sua louca!
No entanto, eu já tinha virado o pescoço e me deparado com o olhar direto do rapaz sobre mim. Ele tinha boa aparência e era um excelente dançarino.
“Não vou sair com você com esse cabelo, Tessy. Não é porque você é preta que não pode passar um alisante nele.”
Essas palavras ressoavam em minha memória.
Passei a mão pelo cabelo instintivamente, quantas coisas me foram ditas por certo homem que colocou minha auto estima lá no chão? Eu ainda não estava preparada para tentar me relacionar com ninguém, ainda não conseguia.
— Para o azar do Marcus, vou te monopolizar a aula inteira! Ninguém aqui faz um par melhor comigo. — Kaique me enlaçou pela cintura — Vamos rebolar, querida!
Eu ri. Kaique era gay e talvez por isso eu me sentisse tão segura ao lado dele. Ele era capaz de me tirar uma risada descontraída nos momentos mais inoportunos.
Então o professor Jefferson colocou uma lambada antiga, mas muito agitada para tocar. Kaique e eu nos movemos com sensualidade, esfregando os corpos um no outro sem o menor pudor.
Se no cotidiano eu era retraída e me sentia pouco atraente, ali na aula de dança eu era uma outra Theodora, mais desinibida e alegre.
Quando a aula terminou, Kaique não me deixou ir embora:
— Vamos ali na outra rua tomar um café? — sugeriu.
— Não posso, estou dura — respondi. — Meu cartão de crédito já está no limite.
— Eu sei da sua situação, lindeza! Vou pagar, preciso conversar com você.
Concordo. Na última temporada de chuva, uma parte da cidade de São Paulo ficou debaixo d’água e infelizmente a casa da minha família foi uma das atingidas pela enchente. Ganhamos muitas coisas de doações, mas ainda precisei comprar boa parte dos móveis.
Quando chegamos na cafeteria, ganhei uma deliciosa torta de frango e capuccino do meu amigo. Eu estava com fome e enquanto ele falava eu apenas ouvia.
— Tessy, tenho um grande favor para te pedir.
— Fala. — Mordi um pedaço da torta.
— Você quer ser minha namorada?
Engasguei.
— Oi? Tá doído? Você é gay.
— Falsa namorada. — Ele pegou minha mão — Preciso de uma mulher linda e sexy para me acompanhar numa festa amanhã. Sei que é de última hora, mas você é a minha melhor opção.
— Kaique, para quê? Você sempre foi super assumido...
— Amiga linda, a nossa escola está negociando um contrato com o grupo RCS, aquela da rede de supermercados… Enfim, o velho, dono de tudo tem fama de ser homofóbico e...
— E você quer negociar com uma pessoa assim?
— Querida, o contrato é muito vantajoso para nós. Vamos ministrar o treinamento de todas as lojas! Será online, aulas online e talvez até a integração. — Cruzou as pernas, como sempre fazia quando estava impaciente — Temos muitas contas para pagar.
— Mas precisa levar uma namorada falsa? Não basta fingir que é hétero?
— Ele me viu numa festa rebolando até o chão e ficou perguntando ao meu pai se eu tinha namorada. Certamente desconfiou e meu pai insiste que devo passar uma boa impressão. Na verdade, a ideia de levar uma namorada é do meu pai.
— Por que não contrata uma prostituta? Olha pra mim, não tenho nada de sexy.
— Você é cega? — ele perguntou, inconformado. — Você é uma negra de olhos verdes, magra e alta como uma modelo, sem falar que tem traços lindos.
— Eu?
— Precisa de um banho de loja, logicamente. — Levantou-se e começou a me examinar — Tenho um amigo cabeleireiro que vai te deixar irreconhecível...
— Tá, vai que eu concordo com isso. Porquê eu faria?
— Porque vou te emprestar a casa da praia do meu pai, sei que você amou quando foi lá e suas férias estão chegando.
A oferta era tentadora, eu não tinha dinheiro para gastar nas feiras e ficar na linda casa de praia do Toninho, pai do Kaique, era uma excelente proposta.
— Ok, eu topo e que Deus nos ajude.
ROBERT
De onde estou tenho uma visão perfeita do traseiro de Cristina, ela se coloca na minha posição favorita: de quatro. Até então eu não estava animado em mais uma foda com ela, no entanto, depois de quase um mês resistindo às investidas, eu estava carente demais. Era como se qualquer mulher servisse.
— Ah, faz gostoso… Vai Robert, me pega de jeito!
Eu não faço cerimônia e me afundo nela com força e sem qualquer cavalheirismo. Ela solta um grito assustado quando dou as estocadas cada vez mais fortes. Os gemidos dela parecem ensaiados, como o de uma atriz pornô, mas não me importa, tudo o que quero é me aliviar.
Agarrei seus cabelos e puxei com firmeza.
— Aí, isso dói!
Eu nem respondo, quando estou na cama com Cristina não tenho vontade de conversar ou satisfazê-la. É como se estivesse ali para me servir. Ela visivelmente incomodada, agarra minha mão, tentando se desvencilhar do puxão no cabelo, mas o sofrimento de Cristina me excita ainda mais, puni-la pelas provocações era bom demais.
Então aumentei meu ritmo dentro dela, entrando e saindo com velocidade e força em meio às reclamações da mulher. Gozei muito e a soltei, Cristina se jogou na cama, cansada.
Sempre que termino uma foda com ela o sentimento de culpa me consome. Cristina consegue extrair o pior de mim, se no geral sou um homem gentil e atencioso com as mulheres, com ela eu acabo sempre agindo como um escroto. O pior é que a safada parece gostar de ser maltratada e sempre volta atrás de mim, porém eu sei que esse tipo de relação não é boa para ninguém.
— Está na hora de você ir! Eu tenho um compromisso agora — eu digo, entregando o vestido amassado para ela.
Cristina me encara com os olhos suplicando um pouco de atenção, só que eu nunca dei falsas esperanças, nunca prometi nada. Entrei para o banheiro e tomei um banho. Hoje vou à festa beneficente que meu pai organizou e percebo que já estou um pouco atrasado.
Quando saio do banheiro, Cristina não está mais lá e eu suspiro aliviado. Me visto de maneira elegante e ignoro a barba que está começando a crescer, não tenho paciência para me barbear todos os dias.
Não demora muito e chego na casa de eventos num bairro nobre da cidade de São Paulo, a decoração está impecável como sempre e muita gente circula no grande salão. Agarro um drink assim que o garçom passa por mim e busco meu pai entre os convidados. Logo sou surpreendido pelo abraço de Betina que está lindíssima naquela noite.
— Incrível! Você está simplesmente incrível. — Eu a tomo pela mão e rodopio para admirar o vestido elegante — Você nunca me decepciona.
— São seus olhos. — A frase é clichê e eu faço uma careta discordando — Venha, vamos encontrar seu pai.
Eu concordo.
Betina é uma amiga da família e também a candidata perfeita para mim. Não namoramos, mas é uma situação que pretendo mudar em breve.
Saímos de braços dados entre os demais convidados. Logo avisto meu pai, ao lado do meu irmão, conversando com um grupo de desconhecidos. De longe percebo uma figura feminina se destacando entre eles, meu pai aponta para mim e a mulher se vira.
Então encaro os olhos verdes mais fascinantes que já encontrei.