Capítulo 1 Queda da graça

Deanna Jones sentiu como se um véu de névoa obscurecesse sua visão. Era uma sensação opressiva, como se o mundo ao seu redor estivesse sendo engolido por um manto de escuridão.

Ela estendeu a mão, mas não conseguiu ver sua própria mão, no entanto, todo os seus sentidos estavam aguçados. Era como se uma chama envolvesse seu corpo, ondas de calor que a envolviam e a deixavam em um estado de alerta febril.

Respirações pesadas e ofegantes ressoavam em seus ouvidos, cada uma acompanhada por gemidos baixos e tensos de um homem que a acariciava audaciosamente. O toque dele era insistente e carregava uma mistura de desejo e posse, deixando-a inquieta.

Deanna se esforçou para abrir os olhos, mas suas pálpebras pareciam pesar toneladas, recusando-se a obedecer.

Ela não sabia quanto tempo havia passado nesse estado de confusão e vulnerabilidade, mas eventualmente, o homem parou de se mover. Quando ela finalmente conseguiu abrir os olhos, desparou-se com um peito firme e musculoso. Perto do átrio esquerdo, uma tatuagem de uma águia negra voava em pleno ataque. Seus olhos afiados como uma fera feroz, transmitiam ameaça silenciosa, como o próprio olhar da morte, fazendo um calafrio percorrer sua espinha.

- Ah. - Deanna gritou, despertando de seu pesadelo com um sobressalto.

Ela se levantou da cama, encharcada de suor frio, com a barriga de nove meses de gravidez tornando seus movimentos desajeitados e difíceis.

A dona Ashley, vovó de Deanna, que dormia ao lado dela, sentiu a comoção e se levantou rapidamente para perguntar:

- O que há de errado, Anna? Outro pesadelo?

Deanna assentiu fracamente com a cabeça, incapaz de esconder a verdade. Seu rosto estava pálido e magro, marcado pelo sofrimento constante. Dona Ashley a olhou com profunda preocupação e tentou consolá-la:

- O que aconteceu naquela época não é culpa sua.

- Sério? Mas todos eles estão me culpando, me amaldiçoando. - O olhar de Deanna se desviou, desfocado, como se estivesse revivendo cada momento de dor.

Nove meses atrás, ela era a herdeira da família Jones, prestes a ficar noiva de seu amor de infância, Raphael Howard. No entanto, na véspera de seu noivado, algo terrível aconteceu. Ela perdeu a virgindade em uma festa de solteiros, e o escândalo se espalhou como fogo na internet.

#Sensacional! A herdeira da família Jones na Seachester, Deanna Jones, passa uma noite de paixão com um gigolô em um hotel, às vésperas de seu noivado!#

Sua reputação foi abalada. Sua mãe, Olivia Parker, devastada pelo incidente, cometeu suicídio por envenenamento com monóxido de carbono. Seu pai, Garrett Jones, envergonhado e furioso, a expulsou de casa e prometeu deserdá-la.

Raphael, o homem que ela amava, anunciou o cancelamento do noivado apenas uma semana depois e ficou noivo de sua meia-irmã, Emily Jones.

Ela se tornou uma pária, rotulada como promíscua e desleal. Até agora, nove meses depois, as vozes de condenação na internet não cessaram.

Deanna tinha pesadelos todas as noites, revivendo a morte de sua mãe, o rosto reprovador de seu pai e o estranho que a assombrava.

Deanna estava atormentada e exausta. Ela não conseguia entender como havia acabado no quarto de um estranho naquela noite, nove meses atrás. Raphael estava lá na festa de solteiros, por que ele não a protegeu? Por que ele ficou noivo de outra pessoa tão rapidamente? Sua mãe sempre foi forte e independente. Nem mesmo o divórcio do pai anos antes a abalou. Por que, então, ela tiraria a própria vida por causa desse escândalo?

Essas dúvidas martelavam sua mente, causando uma dor surda que se espalhava para seu abdômen.

Vendo o estado dela, a dona Ashley foi buscar água, tentando confortá-la gentilmente:

- Não se importe com o que os outros dizem. A vovó acredita que você não é assim. Aqui, tome um pouco de água.

Deanna respirou fundo, estendendo a mão para pegar a água, mas de repente sentiu uma onda de calor entre as pernas. Olhando para baixo, viu sangue vermelho, encharcando sua saia lentamente.

...

Duas horas depois, devido à condição instável do feto em seu ventre, Deanna deu à luz prematuramente a um par de gêmeos, no velho hospital suburbano, em ruínas.