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Capítulo 6

“Quem faz você acreditar nisso?” perguntei, cruzando os braços sobre o peito. -Sua namorada te chama assim por acaso?-

"Eu não tenho namorada", disse Teseu calmamente. Ela estava parada na frente da televisão e ao som da minha voz seus olhos se moveram do pote de sorvete para o meu rosto.

“E então com quem eu te vi no hospital?” perguntei antes que pudesse me conter. Eu não deveria ter feito isso, mas ele era mais forte do que eu.

Teseu balançou a cabeça e passou a mão pelos cabelos, envergonhado. Seus olhos focaram novamente no sorvete derretido.

-Digamos que antes estávamos em um relacionamento sem rótulo, mas agora não estamos.

-Agora? Que significa? Vocês terminaram nesse período? - perguntei novamente.

Teseu riu com voz rouca, talvez se divertindo com a maneira entusiasmada como ela lhe perguntara.

-Por que toda essa curiosidade?-

Dei de ombros, assumindo uma expressão falsamente serena. -Foi só para conversar.

Ele assentiu, mas não disse nada, muito ocupado colocando as mãos nos bolsos das calças elegantes.

“Então?” perguntei novamente.

-Então...-, ele olhou para mim e com um sorriso travesso disse: -Que tal jogarmos um jogo?-

Olhei para ele erguendo as sobrancelhas. -Um jogo? Estamos de volta ao ensino médio?

-Vamos, Mike! “Não seja um desmancha-prazeres!” ele me repreendeu.

Estávamos separados por um sofá, um de um lado da sala e outro do outro, mas eu podia sentir claramente o jeito que ele estava olhando para mim.

Ele estava olhando para mim como se ainda estivéssemos no ensino médio e tivesse sugerido que fizéssemos um piquenique, o que eu não estava com vontade de fazer.

Ele olhou para mim como se estivesse me pedindo para fazer o dever de casa juntos na casa dele. Como se me perguntasse se poderia ler para mim um poema de que tanto gostou. Como se ele estivesse me implorando para ouvi-lo tocar uma música no piano que o fizesse pensar em mim.

Naquele momento eu era Micol Esposito, mãe independente de uma criança excessivamente inteligente, mas também Miki, uma estudante do ensino médio com um estilo extravagante que não queria nada com meninos.

Eu tinha trinta anos, mas era como se ainda tivesse dezessete e estivesse fascinado pela presença de Teseu na minha frente, me pedindo para fazer coisas proibidas com seu habitual sorriso torto.

"Ok, vamos jogar este jogo."

Mais uma vez aceitei.

Ele não podia negar nada a Teseo Montecchi.

Miki, dezessete anos, e Micol, trinta, sabiam disso.

***

-Então, que jogo você quer jogar?-

Estávamos sentados no chão, com as costas apoiadas no sofá e as pernas esticadas à nossa frente porque havíamos afastado a mesinha de centro. No meu colo estava o pote de sorvete e de vez em quando Teseu estendia a mão para arranhar um pedaço com a colher que eu lhe dera.

Havíamos apagado as luzes da sala e da televisão, então estávamos completamente escuros. Apenas uma leve luz saía da janela francesa devido à lua cheia que iluminava o céu.

-E foi mesmo necessário chegar ao terreno? “Não sou mais jovem e minhas costas já estão me matando”, reclamei, tentando convencê-lo a sentar no sofá. Ele havia tentado de tudo, mas estava obcecado em querer ficar abaixado e não havia como mudar de ideia.

-Vamos, Mike. "Faça-me feliz pelo menos uma vez", disse ele, fazendo seus ombros colidirem.

Suspirei e finalmente o deixei ir. Era impossível vencer com ele.

-Então, esse jogo?-

-Certamente você já ouviu falar sobre isso, chama-se Jogo das Vinte Perguntas -.

“Sério, Teseu?” perguntei, levantando uma sobrancelha para ele. -Já voltamos ao ensino médio, por acaso?-

Teseu encolheu os ombros e me lançou um olhar de cachorrinho. Eu só precisava fazer beicinho.

-Ok, vamos... você começa!-

Um grande sorriso se espalhou por seu rosto antes de ele me fazer a primeira pergunta.

-Você gosta do seu trabalho?-

Ok, pergunta fácil.

-Em geral sim... exceto quando os clientes são rudes-. Tomei um sorvete, lambendo o que sobrou da colher.

-Bem. É a sua vez.-

Decidi seguir a mesma estratégia e fazer-lhe uma pergunta complementar à sua.

-Você gosta do seu? No trabalho, quero dizer.-

Teseu lambeu o sorvete da colher e respondeu: -Sim. Gosto muito. Gosto de fazer algo de bom para o mundo, mas acima de tudo gosto de ver a felicidade no rosto dos pais quando descobrem que seu filho está seguro e saudável.

Balancei a cabeça, entendendo sua visão.

-Segunda questão. Você se sente realizado? Quero dizer... você gostaria de fazer outra coisa na vida?

Olhei nos olhos dele, lembrando daquela vez em que, enquanto estávamos sentados sobre uma toalha de mesa vermelha e branca, ele me perguntou qual era o meu sonho e eu não consegui responder.

-Eu não gosto da minha vida. “Eu não mudaria nada”, eu disse. -Sei que muitas mulheres agora querem ter uma carreira de sucesso e, claro, não tenho nada contra elas, mas… gosto de ter um trabalho que me permite ver meu filho todos os dias. Eu gosto de ser mãe. Acho que esse foi o sonho que antes não queria admitir que tinha.

Não houve julgamento nas íris verdes de Teseu enquanto ele olhava para mim. Só senti compreensão e aceitação.

"Estou feliz com isso", respondeu ele. -Eu nunca teria me perdoado se por minha causa você não conseguisse realizar seu sonho.

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