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Anala, que das três era a mais sensível, não conseguia controlar seu estado choroso. Shanti e Kali tinham se recolhido, preferiam a solidão dos seus quartos. Anala ficou na enorme sala do Palácio, assustada e chorando copiosamente.

–Ana...–Danesh retorna, já sem toda aquela pompa de líder, e abre os braços para recebê-la.–Não fique dessa forma. Kabir sempre foi cruel em suas escolhas, você sabe bem.

–Não é justo, Dan.–Resmunga em meio ao choro sufocado pelo peitoral do irmão.–Eu não quero ser uma benção do Deus Hadaedd para um povo estrangeiro. Eu quero ser benção para o meu povo.

Danesh, sabendo que não tinha como soltar as palavras que sua irmã quer ouvir, ficou acariciando-a até que pegasse no sono. Ele estava mal com toda essa situação, mas não podia fazer nada. Ele era um líder recente e não podia passar por cima da ordem do maior líder que já existiu em Amrita. E pior, não podia passar por cima da ordem de um pai para suas filhas.

Agoniada, Kali remove todas as joias que usava e as arremessa na parede. Estava furiosa. Aguardou quase uma vida toda para ser apresentada ao povo, ao seu povo, e descobre que praticamente será vendida. E o que mais aperta seu peito e se dar conta de que o seu pai que projetou tudo isso para sua vida.

–Por Deus Hadaedd!–Exclama se jogando na cama.–Queria meu pai vivo para eu mesma o matar.

–Não diga uma coisa dessas, lady Kali.–Súria, sua fiel acompanhante, surge repreendendo de imediato sua senhora.–Você vai ter a chance de mostrar ao mundo lá fora porque Amrita é tão única e misteriosa. O que vivemos aqui ninguém de fora experimentou.

Lady Kali estava pouco se importando para o mundo lá fora. Ela queria um homem Amritês, não um estrangeiro. Eles jamais entenderiam as mulheres daqui. Praguejou o pai em voz alta recebendo mais um olhar de repúdio de Súria.

Shanti, quieta e pensativa, olhava do seu quarto o movimento fora do Palácio. Alguns homens ainda se dispersavam e ao verem a garota em sua janela acenavam enlouquecidamente. Com tédio, mostrou o dedo do meio e saiu da janela.

–Eu nunca quis ficar aqui mesmo...–Retrucou em voz alta, como se estivesse arrumando uma desculpa pra aceitar melhor sua situação.–Que se dane Amrita e todos que vão morrer aqui!

Entediada e com nenhuma vontade de ficar se lamentando, Shanti pega o livro de Amrita e se dispõe a terminar de lê-lo. Dizem que esse livro foi escrito com algumas palavras e histórias do próprio Deus Hadaedd. E Shanti amava saber dessas coisas. Ela amava conhecimento.

Em dias onde o latíbulo estava tedioso e sem muita coisa a fazer, Hadaedd resolveu descer a terra escondido para conseguir diversão. Era o Deus mais travesso e boêmio e se entendiava com muita facilidade. Pisou em um pequeno vilarejo, localizado em uma área livre e ali quis ficar. Disfarçado de andarilho, encontrou graça ao se apaixonar por uma jovem chamada Flor de lis.

Hadaedd sentia-se feliz, preenchido por um sentimento estranho e bem-vindo. Flor também estava apaixonada, mas relutava em deitar-se com seu amado. Ela exigia que o mesmo casasse com ela e a assumisse para seu povo. Ele aceitou e assim casaram. Hadaedd não entendia muito dos costumes humanos, mas ia cumprindo tudo que lhe era proposto.

A festa foi simples, mas cheia de amor. Casados, se dirigiram até sua nova casinha feita de madeira e folhas secas. Flor, totalmente intocada e dona de um corpo estonteante, fez Hadaedd quase enlouquecer ao vê-la sem roupa.

Ao abrir suas pernas, Hadaedd viu uma pequena gota brotar da sua intimidade e escorrer por ela. Aquilo o fez salivar e de imediato ele provou aquele líquido. Flor teve o prazer de ser tocada e provada por um Deus e se sentiu a mulher mais feliz e satisfeita do mundo.

Hadaedd, ao provar aquele líquido, o chamou de Amrita, que era o néctar dos Deuses. Era algo tão bom quanto e ele quis chamá-lo assim.

Os dias se passaram e Flor se descobriu grávida. Hadaedd sabia que isso era problema e assim aconteceu. Ele foi convocado a retornar ao latíbulo ou todo aquele vilarejo seria exterminado pelos seus irmãos. Ele não via outra alternativa a não ser contar tudo para sua esposa, que estava atordoada com tamanha informação.

–Cuide do nosso filho, o deixe cuidar de todo esse vilarejo. Ele será humano, como você, mas terá características especiais e isso se passará para todas as futuras gerações.–Beijou a testa da sua amada e sorriu.

Ele se direcionou ao centro do vilarejo, mostrou-se na forma de Deus e batizou aquelas terras de Amrita, pois tinha sido onde ele encontrou algo tão bom quanto o néctar dos Deuses. Desenhou no chão usando apenas um graveto o desenho de uma flor e uma gota escorrendo de dentro dela. Seria o símbolo de Amrita.

Hadaedd voltou para o latíbulo triste, mas satisfeito por ter tido uma bela experiência na terra. Ele conheceu o amor e o néctar que as mulheres oferecem.

Shanti fecha o livro e suspira pela história do Deus Hadaedd e Flor de lis. Desejou viver algo intenso assim, mas logo se viu praguejando o pensamento. Preferiu desejar alcançar mais entendimento e sabedoria. Isso era tão prazeroso quanto.

Danesh, reunido com os quatro anciãos, já estava com dor de cabeça tentando achar uma maneira de não perder suas irmãs para estrangeiros.

–Líder Danesh, parece que o senhor não puxou em nada o pulso firme do seu pai. Ele jamais hesitaria em cumprir algo pedido pelo seu antecessor.–Gorah, o mais velho de todos, se manifesta.–Elas servirão para aumentarmos o alcance territorial para o nosso povo. As terras que hoje ocupamos já estão ficando pequena e não temos uma boa expansão há muitos anos. Você sabe como nosso povo é fértil... A população cresce rápido, meu rapaz. E de que elas serviriam aqui?

–O líder é o senhor. Elas serviriam apenas de enfeite na família.–Haji complementa seu amigo.–Já estamos nos comunicando com as regiões ao redor. Logo acharemos bons interessados na tríade de Hadaedd.

Enojado e um tanto sem paciência, Danesh encerra a reunião e se recolhe.

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