Capítulo 6
Muito fácil para um jogador como ele, mas pelo menos eficaz.
Eu adorei essa música.
Diante dos meus olhos, meu pai olhou para mim sorrindo, dando-me instruções com movimentos da mão direita para me ajudar a controlar o tempo.
Conforme a melodia pressionava eu me perdia nela, deixava o violão tomar conta, mudava de música me deixando levar pela música.
Os dedos da mão direita e o braço da esquerda moviam-se em sincronia ao longo das cordas, desfrutei de sensações familiares e de um ambiente caseiro.
Até que o menino deitado na cama puxou outro violão do teto, contribuindo para o sucesso da peça, combinando as notas dele com as minhas.
Os dois sons se entrelaçaram, se tornaram um com o outro, eu o vi mexer a cabeça no ritmo da música, provavelmente eu estava fazendo o mesmo sem perceber.
Ele mudou a música várias vezes, seja para me causar problemas ou simplesmente para me forçar a mudar rapidamente o repertório.
Mas eu fui treinado pelo mais maluco dos guitarristas, que se ao menos tivesse recuperado o juízo, ficaria orgulhoso de mim.
Ficamos abruptamente congelados na realidade.
A última nota daquela estranha melodia ainda vibrava no ar.
Eu o vi deitado na cama rindo.
Ninguém acreditaria se ele contasse, porém, ele havia tocado com Sam Allen, em seu quarto, usando seu violão no meio da noite.
E ele riu.
-Admito que subestimei você.-
Pela primeira vez ele parecia sincero.
Encostei o violão na parede sentado em uma cadeira, curtindo a sensação de paz típica de quando consegui me livrar de todos os pensamentos negativos.
Senti falta do meu violão e da minha antiga vida.
Eu sabia que não deveria deixá-lo ir, mas ele era mais forte do que eu.
“Quem teria pensado isso?”, pensei em voz alta.
Eu o vi sair da cama e caminhar em direção a uma cômoda.
Ela tirou uma caixa de veludo cor de vinho de uma das gavetas e sentou-se novamente.
O anel que ele segurava dentro era o mesmo que ele olhou pensativamente no Roxy Bar.
-Meu futuro depende disso.-
Ele o revirou nas mãos, era um modelo masculino de ouro branco muito fino e discreto.
-É o anel que Kayla e eu trocamos no nosso noivado oficial.-
Forcei-me a não rir, concentrando-me no fato de que ele estava me confiando algo pessoal.
Algo que nem mesmo Kayla achou importante me contar.
Mas não consegui levar a sério as palavras dele, aqueles dois mal se falavam, será que realmente trocaram alianças?
Em suma, teria sido algo romântico se tivesse sido organizado por um casal menos desastroso que o deles.
-O que você quer dizer com “compromisso oficial”? - perguntei a ele.
-Meu pai e seu pessoal tiveram a boa ideia de nos impor uma união legal para fundir as ações da empresa em meu nome.-
De repente tudo me pareceu mais claro e consegui dar sentido a uma relação tão estranha e insensível.
Essas coisas eram comuns em Manhattan.
Pessoas cujas vidas giravam em torno do dinheiro, envolvendo todos que pudessem ajudar em seus planos.
Incluindo crianças.
"Ela realmente ama você, no entanto."
Ele não sabia por que estava dizendo isso, já que não significaria nada para alguém como ele.
Para Kayla, Sam era o mundo inteiro.
Para Sam, Kayla não era nem uma pequena parte disso.
“Acho que não faz nenhuma diferença”, respondeu ele.
Ela esperava que ele tivesse o bom senso de não dirigir suas palavras tão vazias e frias quanto aquelas que saíram de sua boca em um momento de confiança.
Naquela noite percebi que a vida perfeita nunca existiria, nem mesmo para os poucos destinados a ter tudo.
Na verdade, eram eles que tinham mais a perder.
Eu tinha certeza de que, se investigasse seu passado, encontraria mais esqueletos no armário para usar em meu benefício.
Assim como ele usou o meu para o dele.
Havia uma razão para ele estar me contando tudo isso, mas eu não conseguia entender e comecei a pensar que esse era o seu objetivo.
-O que fazemos para a foto?-
"Nós conseguimos", ele respondeu calmamente.
-E quando você teria feito isso?-
-Enquanto você estava jogando.-
-Precisamos mesmo trazer uma foto minha para a apresentação do projeto?-
“Acho que depende de qualquer outra foto”, ele respondeu encolhendo os ombros.
-É a primeira vez que vejo você com o cabelo em ordem.-
Brent estava me esperando encostado na porta do carro.
Ele vestia uma camisa branca com os botões de cima estritamente desabotoados e ria do meu péssimo andar de salto alto.
“Você ainda está trabalhando nisso?” ele me perguntou, apontando para meus pés.
-Eu odeio esses sapatos.-
Continuei xingando o resto do caminho, reclamando da dor nos dedos dos pés e do vestido desconfortável, enquanto ele aproveitava para reclamar dos pais e de todas as coisas que estavam erradas em sua vida.
As viagens rodoviárias na companhia deles eram libertadoras, a tal ponto que antes de chegar ao destino pensávamos sempre em mudar de faixa e fazer outra viagem.
Mas não foi esse o caso.
A cabana de Taylor ficava a cerca de um minuto de carro.
A casa era grande, mas lotada de gente, a tal ponto que era impossível distinguir a massa disforme de corpos suados dançando sob a luz suave dos LEDs coloridos.
Aproveitei a comoção geral para tirar os sapatos e jogá-los em um canto, pensando em como era prejudicial à saúde o que eu estava fazendo para ter conforto.
“Quanta merda queremos fazer esta noite?” ele perguntou.
Coloquei vodca pura em nossos copos.
Estamos bastante sóbrios agora, Brent. O que você quer que eu mude quando estiver bêbado?
Nós dois caímos na gargalhada, enchendo nossos copos pela segunda, terceira, quarta vez.
Depois do quinto parei de contá-los.
“Quase sofri por ter perdido essas noites”, disse ele, gritando para abafar a música.
-Parece que eles querem me matar.-
Um grupo de meninas do segundo ano dançava loucamente ao lado do garoto que estava de costas para elas, muito ocupado dançando comigo.
-É o preço a pagar por estar na minha companhia.- ele se virou, piscando para eles, me fazendo revirar os olhos.
“Olha quem está aqui!” Kayla gritou, estendendo a mão para mim.
Ela tinha o mesmo vestido que o meu, em uma cor diferente.
Nós os compramos juntos com a intenção de atingir um objetivo que eu não tinha mais certeza se queria.
Ela olhou para mim e, como se lesse meus pensamentos, apontou para a mesa colocada no meio da sala.
Era tradição nas festas de Taylor duas garotas subirem naquela mesa para dançar na frente da multidão.
Nunca ficou claro para mim quais critérios as meninas foram selecionadas ou escolhidas, pois no início da noite estavam todas bêbadas.
Isso basicamente equivalia a uma corrida para ver quem chegaria primeiro, ocupando o lugar da amiga.
Naquele ano, nós dois destinados aos cuidados gerais, queríamos ser Kayla e eu, embora eu já não tivesse tanta certeza.
Você está pronto? - Ele me perguntou, pegando meu braço.
Era tarde demais para voltar atrás.
A voz estridente de Taylor, amplificada pelo microfone, ecoou por toda a casa.
-E agora quero Kayla Martinez e Daniela McCartney aqui nesta mesa!-
Não sabia dizer com certeza se era efeito do álcool ou da euforia do momento, mas esta noite senti que poderia fazer qualquer coisa.
Mesmo trazendo o corpo de Kayla para mais perto do meu, meus lábios nos dela para espanto geral e aplausos de encorajamento.
Vi Brent do outro lado da sala com um copo na mão e ele parecia muito chateado, mas o perdi de vista.
Assim que perdi Kayla de vista depois que ela saiu da mesa, minha cabeça estava girando e precisei me sentar.
Cada canto da casa estava cheio de gente e eu nem sabia em que cômodo ou corredor estava, só sabia que precisava encontrar Brent.
Vi uma porta e decidi abri-la, pensando que dava para o corredor, mas me encontrei em um quarto mal iluminado.
A cama de casal ocupada por dois meninos.
Luke Anderson montado no outro, muito mais magro, muito mais pálido... Alex.
Vi o terror em seus olhos quando perceberam minha presença, fechei a porta atrás de mim sem dizer uma palavra.
Virei a esquina para voltar, mas colidi com algo de que jurei ficar longe.
Terno preto, cabelo preso para trás, copo em uma mão e cigarro na outra.
Ele me viu cambalear divertido.
“Aqui está a vida da festa”, comentou com desdém.
“Onde está sua namorada?” perguntei com o pouco de lucidez que me restava.
-Eu não tenho a menor ideia. Espero que não encolha como você.-
Senti minha cabeça girar cada vez mais a cada passo, me encostava na parede buscando um mínimo de estabilidade.
Vi sua figura dupla vindo em minha direção e me segurando contra a parede com um braço para me manter equilibrado.
Eu queria afastá-lo, mas sabia que ele iria desmaiar se me soltasse.
-Como você é estúpido por se colocar nesse estado. Qualquer um poderia fazer qualquer coisa com você e você nem teria forças para se defender.-
Ele falou com a boca perto do meu ouvido apreciando minha expressão assustada.
-Embora você não faria.-
Ele pareceu surpreso com aquela resposta e por um momento afrouxou o aperto, vi o canto de seus lábios se curvar em um sorriso imperceptível.
Mas então ele voltou a si, removendo abruptamente o braço, e ficou me observando enquanto eu desabava no chão, abalado por violentas ânsias de vômito.
"Claro que não", disse ele em resposta às minhas palavras.
“Não é o meu estilo”, acrescentou, saindo definitivamente do meu campo de visão.
————
Respirei o ar puro do jardim, sem saber que horas eram ou para onde os outros tinham ido.
-OLÁ.-
Alex sentou-se ao meu lado, na beira da piscina, com os pés submersos na água que desenhava círculos concêntricos ao seu redor.
-Sobre o que você viu...-
- Não preciso de explicações. Só lamento que você não tenha confiado em mim o suficiente para me contar.-