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Capítulo 4...Onde está Emma?

Parte 4

Emma

Meu celular toca de novo. Dessa vez é Isabela. Com certeza a Lívia deve ter avisado que eu não vou comparecer ao encontro. Respiro fundo e atendo, tentando manter a voz a mais calma possível, para que ela não suspeite de nada.

— Oi, Isabela!

— Oi... Pode me dizer o real motivo de você não vir até o nosso encontro de hoje? – ela me pergunta com voz séria — E por favor, nem me venha com essa desculpa de que você tem outro compromisso ou então esqueceu.

Como eu sabia. Lívia tinha dado o recado a ela. Claro que iria contar. As duas são bem amigas.

— Sinto muito, Isabela... Não estou criando nenhuma desculpa. Eu realmente acabei esquecendo porque a semana foi corrida.

Isso é uma grande mentira. As aulas na faculdade ainda não recomeçaram e eu não tenho um emprego. Tenho tempo para fazer o que eu quiser. Como ir embora, por exemplo.

— Você ainda está pensando que o meu cunhado tem outra mulher?

Sim, eu estou, mas não vou dizer isso a ela de novo. Fica parecendo que estou sendo paranoica. E talvez eu seja um pouco.

— Não é isso, Isabela. Eu só não me liguei das datas. Peço mil desculpas por não poder ir.

— Tudo bem, Emma. Eu não quero ser chata e nem insistente, mas se precisar, é só me ligar.

Eu agradeci e desliguei. Preciso mesmo sair daqui.

Estou com quatro malas cheias, mas muitas coisas eu vou deixar para trás. Em breve eu vou estar barriguda e grande. Esses vestidos curtinhos e colados não vão mais caber em mim.

Eu vou ficar na casa de uma colega da faculdade. Não vai ser por muito tempo, apenas alguns dias para que eu coloque a cabeça no lugar e decida o que fazer a seguir. É muito difícil estar sozinha em outro país. Todos os meus parentes e amigos estão no Brasil.

Eu não contei a ela o que eu pretendo fazer realmente. Ela nem sabe que estou deixando meu namorado e que estou grávida. Eu só comentei que queria sair de Palermo por um tempo e ela me ofereceu estadia em sua casa, em Cefalù, que é uma cidade costeira.

Vi algumas fotos da cidade costeira na internet e achei muito bonita e calma. Acho que vai me fazer bem ficar lá por uns dias e depois eu decido para onde vou. Se fico aqui na Itália ou se volto para o Brasil.

Se bem que retornar depois de um tempo, grávida, vai ser bem esquisito e complicado de explicar para a família. E claro, as críticas vão correr soltas.

Eu não tenho coragem de contar a verdade para Alessandro e nem quero ouvir a verdade dele, sobre estar com outra mulher. Isso vai me deixar arrasada. A única certeza que eu tenho agora, é que eu não vou tirar meu filho e vou cria-lo sozinha, longe dele. Assim ele não vai ter que se decepcionar comigo por ter que assumir uma criança indesejada ou até mesmo, pagar pensão.

O modo como ele vem agindo ultimamente me diz que ele vai me culpar por esse erro. Alessandro não gostava que desfizessem um acordo com ele e mesmo nosso namoro não ser tão longo, eu já entendi que ele sempre tem que ter a última palavra.

Conferi meus documentos na bolsa e o dinheiro que eu tinha separado. Desde que Alessandro passou a pagar minhas contas, eu pude fazer uma poupança para mim. Não é muito, mas vai me ajudar nos primeiros meses, assim eu espero. E também tenho dinheiro que ele me deu na semana passada e que eu não usei, já pensando no caso de precisar.

— Vamos, Emma – eu falei alto — Levante-se mulher! – tenho que me forçar a sair ou vou desistir.

Guardei o que queria levar e o resto vou deixar aqui. Ele que faça o que quiser ou então, mande sua nova amante se livrar de tudo. Por mim, tanto faz. Eu nem vou perder tempo em achar que ele vai sentir minha falta por muito tempo. Vai estar bem ocupado e sem minha presença para cobrar atenção.

Puxei as malas até a porta principal e parei, olhando em volta pelo apartamento luxuoso que foi minha casa por um tempo. Peguei a chave do carro. Não é tão longe assim para chegar em Cefalù e vou dirigindo o carro que ele me deu de presente. Depois eu mando alguém entregar de volta. Está em meu nome, mas eu não vou ficar com ele.

Fechei tudo e deixei a chave dentro de um envelope branco. Enfiei por baixo da porta e saí sem olhar para trás, assim não fico mais triste do que já estou.

** ** **

Alessandro

Nossa, eu estou doido por um banho. Eu não durmo direito há o que? Uns dois ou três dias? Eu acho até que emagreci porque nem me lembro de parar e comer de verdade. Só estou fazendo lanches rápidos.

E ainda nem resolvi tudo realmente. Mas estou no final de descobrir quem foi o safado que teve a ousadia de invadir um de nossos clubes e roubar todo o dinheiro das mesas de jogos e ainda ferir dois funcionários nossos.

A parte do despacho da mercadoria para o Peru e Estados Unidos já foi toda encerrada. Recebemos o pagamento, entregamos a carga e cada um que faça sua distribuição como achar melhor. Só me interessa aumentar minha conta bancária e fazer o poder da família crescer, tendo Enzo como cabeça de tudo.

Achei estranho que o apartamento estava todo escuro, as luzes apagadas. Geralmente quando eu chego por esses dias, Emma está dormindo, mas ela sempre deixa a luz do hall acesa e às vezes a da sala também.

Abri a porta, mas está tudo em silêncio. Senti que pisei em algo e estiquei a mão até o interruptor, acendendo a luz. Era um envelope branco. Franzi a testa e me abaixei para pegar. Era a chave da porta principal.

Senti um arrepio na espinha. O apartamento, habitualmente repleto dos sons reconfortantes da presença de Emma, agora estava mergulhado em um silêncio perturbador. O único som que reverberava era o de meus passos.

Olhei ao redor, notando os detalhes das cortinas fechadas, o sofá vazio. Caminhei pelo corredor, sentindo meu coração acelerar ao me aproximar do quarto. Apertei o interruptor e quando a luz inundou o quarto, não gostei de ver a cama pronta, as almofadas organizadas, tudo fechado.

Olhei meu relógio. É madrugada ainda, mas em breve o sol já vai despontar. São quase quatro horas da manhã. Não gostei da sensação de vazio que bateu em mim. Engoli em seco e andei até a janela. Puxei a cortina e olhei para fora. A cidade ainda dorme.

Me virei para a cama ao meu lado e respirei fundo. Onde diabos está Emma?

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