

1⁰ Sequestrada por um lobisomem
Phoenix
Meu corpo estremece, sinto o suor deslizar pelo meu rosto, confirmando a intensidade do meu medo. Tudo está em profundo silêncio, o único som é o palpitar acelerado do meu coração, como se desejasse escapar do meu peito, a cada ruído estranho que surge do nada.
Ando em silêncio, tentando dominar o tremor que sinto, tudo está mais aterrorizante e sombrio nesta estrada, como nunca esteve antes.
— Droga! — exclamei insatisfeita.
Ao sentir as gotas de chuva em meu rosto, apressei os passos, a cada minuto a tempestade se intensificava e os trovões começaram a romper o silêncio da noite. Tropeço pela estrada esburacada, devido ao peso e ao tamanho do vaso de porcelana que as filhas do meu senhor me ordenaram buscar no vilarejo ao cair da noite.
Suspiro aliviada ao avistar a pequena faísca de luz emanando do casarão, indicando que a chegada estava próxima. Contudo, ao ouvir o estalar dos galhos das árvores, congelo, sinto minhas pernas fraquejarem e meu coração bater descompassado. Após alguns segundos em silêncio, uma figura emerge de dentro da floresta, aproximando-se cada vez mais de mim. Consegui enxergar, com maior clareza, a silhueta de um homem cambaleante, que segurava uma garrafa em sua mão, visivelmente embriagado.
Instantaneamente, um alerta estridente ecoa em minha mente, ordenando que eu desse meia volta e fugisse dali o mais rápido possível. Estando a alguns metros à minha frente, ele me encara descaradamente.
— Vejam só o que temos aqui: a escrava do senhor Campbell. O que uma bela donzela faz em uma estrada tão perigosa, em plena noite? — ele perguntou enquanto tomava um gole de sua bebida.
Eu tremi e, involuntariamente, passei as mãos pelo meu rosto para enxugar o suor que escorria. Era inevitável não entrar em pânico, meu medo era tão intenso que meu corpo parecia formigar.
Seu olhar malicioso me causa náusea. Mantive-me em silêncio e tentei passar por ele o mais rápido possível, esperando que ele não desse importância à minha presença. No entanto, ele rapidamente segurou meu braço com força, já imaginando o que aconteceria a seguir. Instantaneamente, como uma forma de me livrar, joguei o vaso de porcelana que eu carregava em cima dele.
Saí correndo escutado ele reclamar, olho para trás, e assustei-me ao ver que ele está atrás de mim não demorou muito até que ele consegue pegar‐me pelo braço, me derrubando no chão.
— Sua desgraçada, você cortou meu rosto, mas farei algo pior para você aprender a ser uma boa menina. — pronunciou.
— Solte-me. — grito em agonia, o batendo freneticamente.
— Quieta. — berrou ao desferir um tapa em meu rosto.
Sinto o gosto amargo e metálico do sangue, junto com a ardência pelo corte.
— Por favor! Não faça isso, deixe-me ir embora. Socorro. — grito implorado.
Imploro, para que alguém pudesse me ouvir e corre ao meu socorro, o desespero aumenta ao sentir suas asquerosa mãos levantado o meu vestido.
— Você vai gostar, eu garanto. — ele murmura próximo ao meu rosto após tocar meus lábios. Mesmo sentindo repulsa, mordo-os até sentir o sangue escorrer em minha boca.
— Desgraçada. — ele urra de dor, afrouxando seu aperto em mim.
Aproveito a oportunidade e o empurro com mais força, conseguindo tirá-lo de cima de mim. Levanto-me rapidamente, mas ele segura meu pé, fazendo-me cair de rosto no chão.
Ele subiu ligeiramente sobre mim, apertando meu pescoço até eu sentir a garganta queimar pela falta de ar. Minha visão começou a escurecer, e a queimação nos pulmões aumentava. A escuridão começou a me envolver, mas de repente, o corpo do homem foi arremessado para longe, caído no chão.
Cambaleando, ainda meio atordoada, observei a cena mais selvagem que já vi. Uma criatura imponente estava sobre o homem, dilacerando sua carne. Os gritos desesperados do humano ecoavam. Em questão de segundos, o homem parou de se mexer e gritar; ele estava morto.
— O que você é? — sussurrei, minha voz vacilou quando a criatura coberta de sangue se virou para mim, involuntariamente me afasto.
A criatura que se ergue diante de mim possui dois metros de altura, um corpo musculoso coberto por uma pelagem negra, dentes afiados e garras grandes, movendo-se em duas patas. Parece irreal, mas ali, diante de mim, é mais do que real. É um lobisomem!
Ao fixar seus olhos em mim, sinto um arrepio com a intensidade daqueles olhos de rubi. Ele me avalia sem piscar por alguns segundos.
Sinto um calafrio percorrer meu corpo. O medo toma conta de mim, meu corpo treme ainda mais do que antes. Lágrimas escorrem pelo meu rosto, meu corpo fica rígido, o coração acelerado, mal consigo ficar de pé, minhas pernas tremem tanto que é quase impossível me sustentar.
Ao se aproximar, examina cada detalhe de mim. Não consigo mover meu corpo; é como se meu cérebro estivesse paralisado pelo pânico.
A poucos centímetros do meu rosto, sinto seu hálito, arrepio-me quando ele puxa o ar com força, como se quisesse sentir meu cheiro.
— Eu não quero morrer. — digo com a voz embaçada pelo choro.
Nesse momento, um latido de cachorro vindo da floresta me dá a oportunidade de reagir, e eu saio correndo em direção ao casarão.
Mas minha esperança de fugir é logo frustrada quando sinto meu corpo ser erguido do chão e jogado sobre o ombro do lobisomem, que corre rapidamente para a floresta.
Começo a sentir tontura e minha cabeça parece pesar uma tonelada,
como se o sangue estivesse descendo desconfortavelmente para ela devido à minha posição
Tento visualizar para onde estou sendo levada, mas é impossível memorizar qualquer detalhe do local. Depois de alguns minutos, a chuva cessa e a lua e as estrelas iluminam o ambiente, permitindo-me ver algumas coisas, embora seja inútil dado o momento em que estou sendo sequestrada por um lobisomem.
Luto contra a minha mente pessimista, que insiste incansavelmente que este é o meu fim. Grito por socorro até perder a voz, sentindo minha garganta queimar pela dor de tanto pedir ajuda e misericórdia.
Sinto um aperto forte na minha nádega, e um grito de dor escapa de mim quando ele faz isso. Um grunhido rouco alto enche o ambiente.
— Fique quieta. — grita o monstro.
Meu corpo fica paralisado de choque; o lobo pode falar. Decido manter o silêncio, temendo ser morta na floresta. Planejo escapar quando ele parar para descansar.
No entanto, isso parece improvável. Horas se passam, e ele continua correndo, sem mostrar sinais de cansaço. Sua resistência é assustadora; nenhum humano, por mais forte que seja, conseguiria manter esse ritmo.
Tento de todas as formas encontrar uma saída, até perceber a velocidade diminuindo. Com esforço, percebo que isso acontece ao passarmos por um local mais estreito. Vejo-o se ajustando para atravessar entre as rochas e, ao notar uma pedra acima, não hesito em pegá-la. Aguardo até que ele passe completamente entre as pedras e então golpeio sua cabeça com toda a minha força, proporcionando-me a chance de escapar enquanto ele se desequilibra pelo impacto.
No entanto, eu não havia percebido que estava a dois metros de altura, em um terreno rochoso. Caí com força no chão, sentindo minha cabeça pulsar e lágrimas escorrerem pela dor intensa do impacto. Minha visão escurece, e tudo o que consigo ver e ouvir é um uivo rouco e olhos vermelhos me encarando.

