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3

Evangeline sequer pensou duas vezes. Ela se sentou na cama rapidamente e encarou sua mãe. Pela primeira vez em anos, ela sentia que aquela mulher a sua frente, estava sendo sincera.

— Como assim?

Observando que conseguiu a atenção de Evangeline, Leah empurrou um dos potes para a filha e se levantou para pegar garfos. Só então quando retornou, que começou a falar.

— Sabe que trabalho para um pessoal endinheirado. — diz e Evie apenas balança a cabeça, enchendo a boca de comida. — Então, eles dão uma festa amanhã. Uma grande festa. Ouvi alguém dizer mais de duzentos convidados.

— Nossa... e cabe essa gente toda lá?

— Bem mais do que isso. Enfim. A chefe das empregadas pediu para que conseguíssemos quantas pessoas desse, para ajudar. E já que você precisa de dinheiro para aquela chatice lá...

Evangeline sentiu uma imensa vontade de abraçar sua mãe, mas conhecendo-a bem, reprimiu à vontade e continuou comendo o que tinha a sua frente.

— Quanto vão pagar? — ela tentou mostrar desinteresse.

— Acho que uns trezentos dólares.

— Uau... eu...

Ela iria aceitar. Daria para pagar o recital e ainda comprar uma roupa belíssima, para impressionar todos os presentes.

— Tem uma condição, Evangeline. — Leah diz, séria. — Naquela casa, moram pessoas muito importantes. Tão importantes, que você jamais veria qualquer um deles no meio da rua. — Evangeline estava atenta ao que sua mãe falava. Ela não fazia ideia que Leah, sendo a mulher fuleira que é, trabalhasse para alguém desse nível. — A festa vai ocupar todo o primeiro andar, que é imenso. Evie, presta bem atenção no que vou dizer. Em hipótese NENHUMA, você pode subir as escadas e entrar na sala da esquerda. Ouviu?

— O que tem lá?

Leah segura o braço da filha com força e a puxa para mais perto. Evie a encara assustada, sem entender os motivos da mãe estar agindo daquela maneira.

— Não sei e nem quero saber. Você precisa me prometer que vai fazer exatamente o que eu falei. Anda, promete.

A menina não conseguia entender o que de tão perigoso podia estar atrás de uma porta, a ponto de ela não poder nem subir as escadas. Mas como a única coisa que Evie queria, era dinheiro para enfim participar do recital de violino, ela concordaria até com injeção da testa.

— Tudo bem, mãe. Prometo que não vou entrar nessa sala.

[...]

Era verão em Nova York e o Bronx estava mais quente do que nunca. Evie e sua melhor amiga, estavam sentadas em cadeiras de praia em frente ao trailer da família de Felippa. Evangeline se refrescada com um miniventilador, que tinha o vento mais quente que o normal, enquanto sua amiga passava pedaços de gelo pelo pescoço.

— Ainda bem que você conseguiu um jeito de reaver esse dinheiro. — Felippa murmura, enfiando um cubo de gelo na boca e mastigando-o sem parar. — Estava a ponto de eu mesma ligar para JJ e conversar com o cara lá do dinheiro.

— Deixa de ser doida, menina. Aliás, eu sempre quis perguntar, mas não achava relevante. — Evangeline diz, se virando para sua amiga. — Qual o nome do JJ?

Felippa dá de ombros.

— É segredo. Ele não conta para ninguém.

— Nem mesmo para você?

A garota balança a cabeça negativamente, enquanto observa as unhas malfeitas. JJ não era nenhum pseudônimo importante. Jonathan Jensen sempre foi o menino nerd da escola, que todos caçoavam e batiam. Quando o ensino médio começou, em uma tentativa desesperada de ser descolado como a maioria daqueles que o batiam, Jonathan começou a vender drogas em festas. Quando as pessoas perguntavam seu nome ou quem procurar para conseguir drogas, ele apenas dizia JJ. 

— Nossa, amiga. Isso é triste. 

— Triste? Por quê?

— Porque vocês transavam, transam... sei lá. 

Felippa faz uma careta.

— Eu não ligo, Evie. — ela olha para a amiga. — Nós apenas nos divertimos. Não tem romantismo algum. Então, logo, não me importa o nome dele.

Ela realmente não se importava, pois Felippa era o tipo de pessoa que não criava laços emocionais com homem algum. Durante toda sua estadia no campo de trailers, ao ver a mãe de sua melhor amiga, sofrer por cada homem que conhecia, a ajudou a ser fria nesse quesito.

Bem diferente de Evangeline, que apesar da aparência fria, causada pelo abandono dos pais, ela era completamente apaixonada pela ideia do felizes para sempre. Depois de ser uma violinista de sucesso, seu sonho era encontrar um grande amor e vivê-lo. E era exatamente isso que ela esperava de Rubens Monroe, ou Ruby, como ele gostava de ser chamado. Eles estavam na mesma turma da faculdade comunitária. 

Evie iria desistir das aulas no primeiro dia. Ela achou que o descaso dos professores, diante daqueles que faziam arruaças por ali, era o fim da picada. A faculdade devia ser para aqueles que realmente querem aprender. Que querem ter um futuro longe daquela cidade. 

Ruby era a única pessoa, a pensar daquela maneira. Ele fazia abaixo assinado, reclamações, tudo para a melhora daquela faculdade. Talvez fosse a perseverança dele, que fez com que Evangeline começasse a gostar daquele rapaz. Ou os olhos verdes.

— Ei? Onde você está?

Felippa salpicava água gelada em sua amiga, que estava com a cabeça nas nuvens. Ou melhor, em uma vida que sonhava ao lado de Ruby.

— Estava pensando em chamar Ruby para sair. O que acha?

— Ah, Evie... eu nem o conheço pessoalmente e já sinto tédio.

— Para! — Evangeline ri. — Ele é um doce. E eu realmente gosto dele. Ele é o único homem por aqui, que parece ter os mesmos ideais que eu.

Felippa decide não ir contra a sua amiga. Ela sempre achou Evangeline gigante. Que sua bondade e inteligência, era demais para qualquer pessoa no bairro onde moravam.

— Eu vou para casa. Tenho que me arrumar e ir para a festa.

— E eu tenho que cobrir você no seu emprego de meio período. — Felippa disse, com preguiça. Ela fazia qualquer coisa por sua melhor amiga. — Assim que você chegar em casa, me liga. Quero saber tudo o que vai acontecer hoje à noite.

— Pode deixar.

Evie se despede da amiga com uma piscadela e vai para seu trailer. Ela estava bastante ansiosa para esse trabalho e mal podia esperar o que estava por vir.

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