Resumo
Alicia , acompanhada pela lembrança distante de seus pais na França e pela promessa que fez a si mesma, de que um voo de quatorze horas até a ilha japonesa não pareceria em vão? O Japão, por outro lado, seria o ponto de partida para a realização de seu sonho. Bem, é claro que se ver discutindo e querendo bater no primeiro garçom mal-educado de plantão não tornaria esse novo começo tão bom assim. Mas que se dane aquele japonês corrupto, ninguém mais a convenceria. O que você acha?
Capítulo 1
- Está tudo bem? -
Meu Deus, que incômodo.
- Sim, eu tento e admito que tento, com todo o meu ser, não responder mal a ele.
Mas esta é a quarta vez que ele me pede desde que voltamos para casa e minha falta de paciência sempre foi limitada por um motivo.
- Acho que não. - E lá vai ele de novo.
Levanto-me da mesa, pego os dois pratos vazios e acelero meus passos, coloco tudo de volta na pia e vou embora.
Mas, é claro, agora ele se tornou minha sombra sangrenta.
- Você tem estado de mau humor desde que entrei no carro. - Você até me persegue quando ando pelo corredor.
Puxo a maçaneta do vaso sanitário, mas é quando a mão dele pousa na minha que sinto uma contração nervosa.
Em um instante, eu me viro, agarro o braço dela e a esmago contra a porta do banheiro.
Minhas mãos nas laterais da cabeça dela, - Você quer segurá-la enquanto eu faço xixi? -
Ele enruga o nariz e levanta uma sobrancelha - Patético. - Ele mastiga essa palavra com nojo.
Pisco várias vezes, incapaz de entender como ela passa de extremamente preocupada a maldosa.
Para mim, é patético...
No entanto, pelo modo como abraçou o pequeno príncipe, ele achou que não.
Eu sorri, fechando os olhos e esfregando a ponte do nariz - Não precisa se preocupar, estou bem. - Eu me afasto com as mãos nos bolsos.
Estou incrivelmente irritado.
- Vá descansar um pouco, pois logo devemos começar a nos preparar para esta noite. -
Ele acena com a cabeça, começando a roer a unha, ainda me deslumbrando com aqueles olhos enormes.
Agora reconheço quase todos os gestos que ela faz, e está claro que a ideia de estar cercada por editores que podem torná-la famosa em um piscar de olhos a deixa louca.
- Não preciso lhe dizer, até porque eu seria a pessoa errada para isso, mas coloque em sua cabeça que tudo ficará bem, certo? -
Ele reprime um sorriso que tenta esconder mordendo o lábio inferior.
Vai ser muito bom.
Estamos no carro há cerca de uma hora e estou tremendo.
Literalmente.
Que se dane o alfaiate que fez esse vestido.
Solto a gola da maldita camisa, abrindo alguns botões.
Eu suo.
Aquela coxa meio exposta a poucos centímetros de minha mão também é uma vadia.
Aperto a maçaneta do câmbio com mais força.
- Quente? - ele se inclina para a frente, apoiando um cotovelo nos joelhos e uma mão sob o queixo, enquanto olha para mim com um sorriso conhecedor.
É tão perceptível a ponto de eu querer pisar no freio de mão e subir em cima dela?
No entanto, desde que ele saiu do banheiro, tenho feito o possível para escondê-lo.
Não é um elogio.
Tampouco parece exagerado.
- É melhor vestir seu casaco, estamos aqui. - Eu lhe digo, esperando que ele vista o casaco o mais rápido possível.
- Uau", ela olha para a janela, apoiando as mãos nela como uma garotinha, "Mas aquele é o restaurante lá em cima? -
- Sim, e é lá que fica o teleférico, que nós vamos pegar. - indico, acionando o freio de mão e tirando o cinto de segurança.
Ela gira, me chicoteando com o cabelo e deixando um rastro de coco - Vamos chegar ao topo da montanha em uma maldita caixa de ferro? - pergunta ela, alarmada.
Aceno com a cabeça, apreciando sua preocupação crescente.
É bem feito para você, provocador.
- Ei, espere! - ele grita tentando me seguir.
- Apresse-se ou você subirá sozinho. -
O clique de seus saltos enquanto ele se apressa para me alcançar me faz conter um sorriso enquanto o homenzinho de uniforme amarelo me entrega os dois ingressos.
Entro na cabana, seguido por ela, e pouco antes de a porta se fechar, a ansiedade toma conta de mim - Desculpe-me? Uma pergunta. - diz ela ao senhor que, sorrindo para ela e olhando suas coxas expostas pela fresta, reabre a porta.
- Veja, mas... essa coisa é segura? - indica a cabine ferrosa.
- Você não tem nada a temer, pois realizamos manutenção todos os dias. -
- E quanto tempo isso vai durar? -
Aperto as pálpebras e passo a língua sobre as gengivas quando percebo que ele deveria estar respondendo a ela em vez de encará-la.
- Ele lhe perguntou quanto tempo vai durar. - Eu repito.
Ele suspira, olhando em meus olhos. Vinte e quatro minutos, para ser exato. -
- Deus, eu não sei o que fazer. - Eu a ouço murmurar enquanto ela começa a apertar a bolsa nos braços.
- Mas você é francês? Porque eu estudei isso no ensino médio e, se não me engano, ele disse algo como... Acho que não, certo? - sorri o idiota, deixando-me literalmente sem palavras.
- Mmm... sim. - ela acena com a cabeça.
Os dois começam a trocar algumas palavras sob meu olhar atônito.
Mas... Você está falando sério?
Ele está realmente flertando descaradamente diante dos meus olhos?
- Certa vez, visitei o Louvre e o que mais me chamou a atenção foi .... -
- Se você não se mexer e não colocar esse funicular de merda para funcionar, outra coisa vai lhe atingir. - Afirmo.
Temi que meu olhar tivesse perdido a credibilidade, mas quando, depois de vê-lo ofegar, ele se curvou e fechou a porta, soltei um suspiro de alívio.
Fecho os olhos assim que sinto a cabine começar a se mover.
Posso até ouvir sua respiração, sentada à minha frente, tremendo.
Mas estou tão concentrado em me acalmar que não me importo.
Eu realmente preciso parar de reagir dessa forma.
O desejo constante que tenho por ela não deve ser uma desculpa para agir assim.
Como se você realmente quisesse marcar seu território.
Era apenas sexo.
Tanto para mim quanto, graças a Deus, para ela também.
Mas isso não pode acontecer novamente depois do que aconteceu.
Não depois daquela noite.
Aquela em que eu dormi por cinco horas seguidas depois de um longo período.
E foi lindo.
Onde abri meus olhos e experimentei o que significa sentir-se relaxado.
E foi ótimo.
Nela, minha mão começou a acariciar sua bochecha, fazendo-a sorrir enquanto dormia e, automaticamente, esse sorriso também apareceu em mim.
E aí foi estranho.
Lá eu me afastei como se tivesse acabado de ser escaldado.
Como o pior criminoso de todos os tempos, fui embora e mandei uma mensagem para o Hiro para que ele cuidasse dela com um simples "Estou ocupado".
Mas a verdade é que tudo o que eu precisava fazer era refletir.
Ali, o bastardo dentro de mim queria fazer uma aposta consigo mesmo.
Apenas para ter uma confirmação, na qual nada em mim tenha mudado.
Sexo .
Se eu estava com vontade e ela também, por que não fazer isso?
E foi isso que fizemos novamente naquele escritório, logo depois que ela admitiu que via a situação da mesma forma que eu.
Eu também estava desistindo.
Quando pedi que ele se virasse, a maneira como ele sentiu dor, mas imediatamente se rendeu ao prazer, me fez suar como nunca antes para me conter.
E é exatamente isso que me confunde.
Ter que se conter.
Por quê?
Por que eu a abracei e até pedi desculpas a ela?
Mesmo agora, diante de mim, Deus sabe o que me impede de avançar.
Um louco.
Um homem doente que a deseja, mas que, por causa de toda essa paranoia, conseguiu colocá-la em perigo.
Kaito quase conseguiu pegá-la e a culpa seria somente minha.
Mesmo lutando contra um dos mais fortes não me fez sentir melhor, pelo contrário.
-RUI! - Abro os olhos de repente e a vejo ali, parada contra a porta de vidro.
- Que diabos está fazendo? -
- Tudo está se movendo! - grita.
Só agora percebo que a cabine começou a balançar.
- Coloque-se no seu lugar, você está piorando as coisas. - Olho para fora e todas as árvores abaixo de nós também estão se movendo.
- Que merda. - Eu cerro os dentes.
- O que está acontecendo? -
Não há nada a fazer, ela ainda está lá.
Eu a pego pelos quadris e a coloco de volta em seu lugar.
Eu me ajoelho e fico de pé na frente dele; acho que houve um terremoto. -
Suas pupilas se dilatam e, automaticamente, coloco as duas mãos em suas bochechas, - Já passou Alicia, acalme-se. Por sorte, não foi muito difícil. -
Coloque suas mãos sobre as minhas e olhe para o céu, inspire e solte o ar rapidamente.
Observo cada suspiro, cada movimento que ele faz e o que vejo é uma pessoa tendo um ataque de pânico.
- Olhe para mim. - Eu aperto meu punho, fazendo com que ela olhe para o meu.
Aquelas íris geladas me olham aterrorizadas, atingidas por pequenos espasmos.
Começo a acariciar suas maçãs do rosto com meus polegares e só então ela fecha os olhos, descansando a testa na minha - Está tudo acabado, não está? - ele sussurra.
- Sim, está tudo acabado. - Eu o beijo na bochecha e sinto o músculo sob meus lábios se contrair.
Ele está sorrindo.
Ele começa a abrir a boca, mas um som metálico faz com que os dois franzam a testa.
- Prezados hóspedes, devido a um grande terremoto, o teleférico está temporariamente suspenso. A espera será de alguns minutos e depois o passeio poderá continuar, por favor, mantenha a calma -
- Oh, que idiota. - Bufei, levantando-me.
Sua mão se apressa em agarrar a minha, com urgência - Aonde você está indo? - pergunta ela, alarmada.
- Como não posso mais suportar você, decidi me matar. Eu pularei. Esse foi meu beijo de despedida. - Eu brinco, mas minha expressão ainda é séria.
Ele olha para mim por um longo tempo antes de revirar os olhos e balançar a cabeça.
- Se minhas pernas não estivessem tremendo, eu mesmo o jogaria lá embaixo. - Ele as cruza, expondo uma coxa.
- Não, - eu me sento na frente dela, abrindo as pernas e apoiando os braços nas laterais do encosto - Sou eu que não suporto você, você me adora. -
- Claro, querida, venha cá e eu lhe mostrarei o quanto a adoro. - Ele levanta uma sobrancelha, cruzando os braços sobre o peito.
- Oh, minha linda pimenta, você não vai querer jogar esse jogo comigo. -
E não, não estou brincando agora.
- Como você quiser. - Ele levanta os ombros e olha para fora da janela.
Ignorando-me.