Capítulo 9
Vitória
Foram duas semanas intensas. Eu havia retornado ao campus alguns dias depois do acidente e depois de descobrir sobre meu pai e eu tive que compensar os quinze dias que perdi, tanto de aulas quanto de treino de líder de torcida.
Naquele momento eu estava no vestiário amarrando os sapatos antes de sair para campo treinar com as meninas e assim que me levantei me olhei no espelho e fiquei paralisado olhando meu reflexo. Perguntei-me quem seria a pessoa à minha frente: a pequena Victoria trancada num canto do seu quarto e abandonada à sua sorte, a menina adulta que queria ser amada, ou a desesperada à procura de algo a que se agarrar, qualquer coisa. permanecer vivo, para não morrer e continuar lutando contra uma vida que não fez nada além de me dar um soco na cara.
Inclinei a cabeça para o lado, colocando os cachos atrás da cabeça e prendendo a franja com dois prendedores de roupa, passei as mãos pelo uniforme e parei na faixa de barriga livre onde estava gravada a tatuagem de borboleta no canto direito do meu corpo. quadril. surgiu. Fiz a gente desenhar rosas sombreadas de preto dentro das asas, já que a borboleta era um sinal de mudança, mas as rosas eram um símbolo da vida, do quanto ela é efêmera. Fui percebendo cada vez mais o quão preciosos eram os momentos que vivi com as pessoas que amava e como era importante aproveitar o momento. Naquele momento vi novamente os hematomas que aquele homem, agora fugitivo, deixou em sua barriga e desejei ter uma tesoura em mãos para apertar aquele pedaço de pele entre os dedos para cortar a marca roxa e não ver. avançar. Eu estava realmente muito cansado, com muita raiva, às vezes triste, mas também queria ver meu pai, por um lado. Pensei que talvez conversando com ele pudesse encontrar uma solução, talvez prometendo que iria vê-lo todos os meses que ele decidisse se render. Eu estava pensando que talvez ir atrás dele fosse a escolha certa, que encontrá-lo antes que ele pegasse todo mundo de surpresa seria melhor para cada um de nós, mas eu tinha que fazer isso sozinho: nem Sam, nem Richie, nem Javier e Não, Kat. Só eu, minha consciência, minhas memórias e meu pai.
- Vic, você está vivo? – A voz de Katherine me fez virar em direção à porta do provador e a vi parada com os pompons nas mãos, esperando por mim, batendo os longos cílios.
- Sim. – respondi, respirando fundo e sorrindo forte. – Estarei lá, eu só estava... - me virei para olhar meu reflexo uma última vez e torci para que minhas forças não aparecessem durante o treino, caso contrário eu teria me incendiado.
- Está bem? – Ele perguntou se aproximando de mim e pegando meu braço. – Você está muito pálido. –
- Sim Kat, estou muito bem. – Sorri para ele e descansei minha cabeça em seu ombro. - Obrigado. –
- Eu sei que nos conhecemos há pouco tempo e que você ainda não me chama de amigo, não vivemos tudo o que você viveu com Sam e seu ceticismo me parece óbvio. Mas quero que saiba que me sinto bem com você e que gostaria de construir uma amizade sólida e duradoura. Gosto muito de você como pessoa, Victoria, e acredite, não pensei que pudesse ser assim. Achei que você se parecia com seu irmão, mas me enganei. Quero muito ser seu amigo, quero que você confie em mim e saiba que estou ao seu lado caso precise de ajuda, em qualquer coisa. Espero que um dia você perceba que é uma flor especial e preciosa e que cuidarei de você da maneira que puder. – Ele disse me pegando completamente desprevenido.
Pisquei e fiquei no meio do campo olhando para ela com a cabeça inclinada para o lado. Eu não entendi completamente por que ele estava dizendo aquelas palavras para mim ou mesmo por que estava fazendo isso naquele momento. Eu sabia que ela havia percebido que havia algo estranho em mim, mas não acreditei a ponto de me dizer algo assim. É claro que ele ainda não podia chamá-la de amiga como Sam, mas ele estava realmente tentando. – Kat, estou tentando, acredite. – eu disse a ela enquanto me aproximava dela. – Só não estou acostumado com a presença de um amigo. Eu considero você um, obviamente, mas não como Sam. Ele consegue ler meus olhos e me entender com apenas um olhar, desejo que um dia seja igual para nós dois. Só sei que estou em um lugar onde realmente preciso de um amigo, alguém com quem passar mais tempo além de Sam e Javier, porque às vezes me sinto muito, muito sufocado por todos. Então, se você quiser, podemos passar mais tempo juntos e construir essa amizade do zero. Sou uma pessoa muito difícil, delicada e muito fria as vezes, mas me importo muito com você e você me faz sentir muito bem então sempre que quiser estou pronto para um dia com... meninas? – Não sabia se era uma pergunta ou uma afirmação porque não sabia bem como funcionava.
Katherine se jogou em meus braços, me pegando um pouco desprevenido. Por alguns momentos permaneci imóvel e imóvel como uma estátua, mas então, quando ela deslizou a cabeça na curva do meu pescoço, comecei a respirar novamente e me deixei levar, apertando os braços ao redor dela e retribuindo o gesto. Sua ternura me fez sorrir e por alguns momentos me senti um pouco menos sozinha. Acostumada exclusivamente à companhia de meninos, eu não sabia muito bem como me comportar perto de um amigo ou mesmo como ser um amigo. Duvidava que ela tivesse as mesmas necessidades que eu, mas mais pelo que havia acontecido comigo do que por seu caráter. – As meninas se abraçam quando estão felizes com alguma coisa. - Quero dizer.
Foi estranho, mas o toque dele não me incomodou, não me irritou, foi agradável. - Recebido. – respondi rindo e desfazendo o abraço. Enquanto caminhávamos para o campo notei que ao lado do grupo de líderes de torcida estava o time de futebol incluindo, claro, meu irmão. Pisquei confuso e franzi um pouco a testa, principalmente quando vi Vanessa sentada no banco com gesso na perna direita. – Kat – liguei para minha amiga, pegando-a pelo braço e olhando para o grupo que nos esperava. – Você pode me explicar por que Vanessa usa muletas e por que o time de futebol está lá? –
- Ah, sim, quase esqueci. – ele exclamou feliz. – Aquela idiota da Vanessa caiu fazendo um número e quebrou o tornozelo, a equipe avaliou as diferentes opções e, como a melhor dançarina que temos é você, você vai ocupar o lugar dela. - Eu me informo. Gesticulei por alguns momentos, tentando responder e dizer que era absolutamente contra, mas ele cortou minha resposta pela raiz e continuou com sua explicação. – E como existe a competição anual de líderes de torcida com os demais campi, é costume que uma em cada quatro concorra com o time de futebol, obviamente, já que somos as líderes de torcida deles. –
Fiquei sem palavras por alguns momentos e com a respiração bloqueada enquanto observava o grupo de meninas se esfregando e agarrando nos meninos como pobres galinhas procurando galos para acasalar. – Você está brincando, espero – falei enquanto já estávamos a alguns passos do grupo. - Vamos Kat mas olha como elas são patéticas, parecem vadias no cio! - exclamei com raiva.
- Não Vic, Vanessa falou muito sério quando disse que queria que você ocupasse o lugar dela... - Ela riu olhando para as meninas e ergueu as sobrancelhas balançando a cabeça e claramente concordando comigo.
Antes que ele terminasse a frase, Vanessa chegou mancando e acompanhada de muletas. Seu cabelo loiro descolorido estava preso em um rabo de cavalo, o uniforme vermelho e branco de líder de torcida sempre presente e o sorriso idiota no rosto, como se eu não soubesse que ela realmente me odiava. – Hastings finalmente – exclamou ele ao nos alcançar. – Achei que você tinha saído do grupo, eu estava prestes a ter um ataque cardíaco. –