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Capítulo 4 - Caprichos do Patriarca

Anton

No posto de combustível, comprei um galão de gasolina e retornei ao carro. Enquanto abastecia o veículo, percebi que minha vida parecia um contraste gritante em relação àquela realidade. É estranho pensar que aquele bairro ficava relativamente próximo ao meu, na mesma cidade.

Tentei desviar o pensamento do reencontro com Pietra. Havia algo diferente nela, uma aura de tristeza e amargura que não existia antes. Lembrei da garota vivaz e sorridente que conheci, com olhos brilhantes e muitos planos para o futuro. O que teria acontecido para mudá-la tanto?

Dirigi para a minha casa, uma imponente mansão no alto de Pinheiros, em São Paulo. Felizmente, não encontrei ninguém pelos corredores. Não estava em meu melhor momento e dessa forma poderia me preparar melhor para o jantar de logo mais.

Leonel Baumann, meu avô e todo poderoso patriarca da família Baumann tinha convocado a todos para um jantar na mansão naquela noite. Após descansar, pude então me preparar de maneira mais apropriada para o momento que viria e só então desci para me juntar aos demais.

Encontrei meus irmãos na espaçosa sala de estar, mas o clima não parecia nada agradável naquela noite. Mas aquilo é compreensível. Não era um evento qualquer; meu avô estava decidido a dar um passo importante na vida dos Baumann. Ele havia chamado todos nós – os netos, Ettore, e, claro, Berenice, minha avó, que estava sempre ao seu lado.

A sala de jantar, com seu lustre imponente e os móveis antigos, parecia uma cápsula do tempo, pronta para testemunhar a decisão que, ao que parecia, definiria o futuro da nossa família.

Enquanto me sentava, olhei para os rostos tensos dos meus irmãos e Ettore. Aaron, o meu irmão mais velho, estava lá com aquela postura rígida e o terno impecável, ao lado de sua esposa Paola. Ainda não consegui entender o que Aaron viu em uma mulher tão insuportavelmente arrogante e frívola.

Axel, que costumamos sempre nos referir como o irmão do meio, parecia despreocupado. Ele não estava interessado em assumir qualquer responsabilidade junto ao império Baumann. A sua única preocupação está ligada ao futebol. Axel é um jogador famoso internacionalmente e que há anos joga por times europeus. No momento ele está na Espanha.

Anneliese também estava lá. Assim como eu, Anneliese não estava nenhum pouco interessada em importantes anúncios.

— Você acredita que o vovô pode nos deserdar? — perguntei para ela, que não conseguiu conter uma risada.

— Não, querido irmão. Ele não fará isso.

Apesar da pergunta, eu também tinha aquela mesma convicção que Anneliese.

— Estou com convites para um show de pole dance em uma boate exclusiva. O que acha de irmos para lá quando o jantar terminar? — ela sugeriu, rindo com diversão quando arqueei a sobrancelha surpreso com o convite inusitado.

Para Anneliese, aquilo não passava de uma grande piada. Ao ouvir a risada de Anneliese, Ettore olhou em nossa direção com evidente desagrado. Ettore é o homem de confiança do meu avô e que também tinha sido convidado a estar ali naquela noite, junto conosco, demonstrando mais uma vez que era considerado por Leonel como alguém da família. Eu não poderia negar a sua lealdade aos Baumann.

O jantar começou com conversas formais, mas a tensão era nítida no ambiente. Todos sabíamos que algo importante estava prestes a acontecer. Depois do jantar, meu avô nos convidou para um café na sala de estar. A sala enorme e acolhedora parecia um lugar perfeito para grandes revelações.

Logo Leonel Baumann começou a falar com sua voz firme, chamando a atenção de todos nós para o anúncio que se seguiria:

— Obrigado por estarem aqui esta noite — ele disse. — Há algo importante que preciso compartilhar com vocês.

Todos os olhos estavam fixos nele, e eu sabia que esse era o momento. Ele continuou:

— Estou disposto a me aposentar e passar o controle das Indústrias Baumann para a próxima geração.

O murmúrio de surpresa percorreu a sala. Aaron estava visivelmente chocado, Paola tinha um brilho ainda mais aguçado nos olhos. Axel e eu trocamos olhares incertos, enquanto Anneliese parecia perdida em seus próprios pensamentos. Meu avô levantou a mão, silenciando qualquer pergunta antecipada.

— No entanto — ele continuou — há uma condição.

Como eu já imaginava, Aaron foi o primeiro a falar.

— E qual seria essa condição, vovô?

Meu avô deu um tempo, como se estivesse preparando o terreno e tive certeza de que ele estava prestes a soltar uma bomba sobre nós.

— O herdeiro escolhido deve me dar um bisneto o quanto antes. Quero ver a continuidade da nossa família garantida. Quero ver o futuro dos Baumann assegurado antes de partir.

O silêncio que se seguiu foi absoluto. Todos processavam a informação à sua maneira. Anneliese estava ao meu lado e percebi que ela estava tentando conter uma risada. A voz de meu avô soou mais firme:

— Essa é a minha condição — ele repetiu e levantou-se logo em seguida — Vamos ver quem será capaz de atender ao meu pedido.

— Eu vou acompanhar o seu avô — Vovó Berenice disse com seriedade, mas a sua voz mansa como sempre. — Boa noite a todos. E olhem lá o que vocês vão aprontar, hein!

Anneliese deixou escapar a gargalhada que estava contendo até então.

— Sinto muito, vovó. Mas eu não tenho intenção alguma de assumir os negócios da família — ela disse, como se todos já soubessem. — Sou jovem demais para ser mamãe, querido avô.

Vovô demonstrou descontentamento com as palavras de Anneliese, mas eu pensava igual a minha irmã. Não seria uma imposição do meu avô que me faria mudar toda a minha vida despreocupada. Aaron poderia seguir em frente e ter um filho com a sua amada esposa apenas para agradar ao vovô.

— Preciso ir — Ettore anunciou, se retirando logo após a saída do nosso avô.

Enquanto observava a saída de Ettore, Axel se dirigiu ao bar no canto da sala. Pegou uma garrafa de uísque e serviu-se de uma dose generosa.

— Alguém mais quer? — ele perguntou, sua voz carregada de sarcasmo e desdém.

Ele olhou para todos nós aguardando uma resposta, mas já estava ciente de que as chances de alguém aceitar sua oferta eram poucas.

Anneliese foi a próxima a se levantar, ainda com um sorriso divertido no rosto.

— Eu passo. Tenho planos mais interessantes para esta noite — ela deu uma piscadela para mim, o que foi suficiente para me fazer levantar.

— Temos um evento importante para ir — anunciei para todos. — Boa sorte com... tudo isso — acrescentei, acenando na direção de Axel e Aaron.

— Não sabia que orgias em iates eram consideradas eventos importantes agora — Aaron comentou com ironia.

A tentativa de Aaron de nos provocar não iria funcionar. Anneliese e eu realmente não estávamos preocupados com a imposição do nosso avô. Em resposta, desejamos boa sorte ao nosso irmão mais velho enquanto nos retiramos da sala, onde o clima estava terrivelmente pesado.

— Quanto tempo até Paolla aparecer grávida? — Anneliese questionou, enquanto nos dirigimos à garagem da mansão.

— Um mês, talvez dois no máximo — apostei, entrando no meu carro esportivo de luxo, um modelo diferente daquele que tinha usado para voltar para casa. — E você?

— Acho que Paola não vai querer estragar o corpo dela com uma gravidez — Anneliese disse, sentando-se no banco do carona.

Eu não tinha pensado por esse lado, mas o que Anneliese dizia fazia todo o sentido. Porém, aquilo realmente não me preocupava. Talvez cause um estrago na relação aparentemente perfeita do nosso irmão e sua esposa, mas isso não me dizia respeito.

— E então, onde fica esse show de pole dance? — perguntei com um sorriso sincero. — Estou no mínimo curioso com o seu interesse em algo assim.

Anneliese riu da minha mudança brusca de assunto e informou o endereço, dizendo logo em seguida:

— Também tem shows para o público feminino, querido irmão! — Anneliese explicou, me arrancando uma risada espontânea.

Aquele tinha sido um longo dia, e nada melhor do que algumas mulheres e boas doses de uísque para me fazer esquecer o encontro surpreendente e frustrante daquela tarde. Eu não tinha certeza se isso iria funcionar dessa vez, mas eu iria me empenhar para que isso acontecesse. Pietra tem me atormentado por tempo demais e eu pressentia que não conseguiria me livrar da sua imagem tão facilmente a partir de agora.

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