Capítulo 9
- Você quer que eu acredite nisso, então vou fingir que acredito", respondi, olhando para a mão dele que segurava meu braço, "Agora você pode me soltar? - Seu olhar pareceu perdido por alguns segundos antes de se afastar de mim. A maneira como seus olhos permaneceram fixos em meu rosto me fez sentir envergonhada e tímida. - Então, o que vamos fazer agora? - perguntei ao notar que ela permanecia em silêncio, avaliando cada expressão que eu fazia.
- Voltei para sua prisão domiciliar.
Eu sabia que devia estar louco ou ser simplesmente estúpido, mas comecei a correr na direção oposta à do juiz. Minhas pernas tinham vida própria enquanto eu avançava pelas ruas estreitas, esbarrando nas pessoas enquanto minha respiração ficava difícil. Eu não conseguia pensar racionalmente enquanto corria em direção ao Breno. A única pessoa que conhecia as marcas em minha costa e não fez perguntas. A única pessoa que não me olhava com pena.
Satisfação?
Ansiedade?
Medo?
Eu não sabia exatamente o que sentir quando me aproximei da casa abandonada onde costumávamos ficar, ofegante. Sentia meu cabelo grudado no rosto por causa do suor depois de correr tantos quarteirões. Não me lembrava de ter parado para respirar por medo de ser encontrado ou perseguido por um policial ou até mesmo por um juiz. Parei antes de ir em direção à entrada lateral, sorrindo assim que ouvi vozes e sorrisos. Eles ainda estavam lá. Passei a mão pelo cabelo antes de entrar e olhar para todos os rostos sorridentes.
Ninguém parecia sentir minha falta, percebi com tristeza ao sorrir assim que vi Breno. Ele ainda era o mesmo, com seu sorriso malicioso e seu olhar de bad boy.
- Breno - chamei por ele, fazendo com que todos olhassem em minha direção. Alguns pareciam não acreditar que ela estava ali, enquanto outros sorriam.
O que estava acontecendo?
Essa foi a primeira coisa que me perguntei assim que meus olhos focaram na garota de cabelos castanhos. A jovem estava abraçada ao Breno de uma forma que só eu estava naquela casa.
Eu havia me transformado com extrema facilidade.
- Ana? - A voz de Breno soou genuinamente surpresa ao fixar seus olhos em mim, enquanto eu me sentia envergonhado por ter corrido até ele. - É mesmo você", ele sorriu exageradamente enquanto empurrava a garota para perto de mim. Eu deveria ter ficado feliz e aceitado a migalha que eles me ofereceram, mas eu não queria - Como você conseguiu escapar deles? Os policiais são doentes, eles nunca deixam nada escapar. Ela tentou me abraçar e eu me vi recuando. - O que aconteceu? Senti sua falta.
Sua voz soava tão cínica e mentirosa como em qualquer outro momento.
-Eu era um bode expiatório? Perguntei o que estava passando pela minha cabeça durante esse tempo. Desde o momento em que ele me pediu para ir com eles, eu sabia que havia algo errado. Breno, ele nunca me levou para assaltos com os outros garotos. Eu sabia que algo estava errado e, como um tolo, acreditei em suas palavras. - Desde o início ele me considerava descartável.
- ¿Y? - Levantei os olhos para ver sua expressão fria. Todos diziam o quanto o Breno era calculista e frio, mas eu sempre acreditei que eu era uma exceção ao seu comportamento. Uma exceção porque ele me ama. - Todos aqui são descartáveis, Ângela - Ele falou calmamente quando ouviu os outros rirem - A única que se achava especial era você. Ela sempre foi uma garota boba que viu em mim um herói - Ele sorriu ainda mais quando tocou meu rosto. O toque de seu dedo em meu queixo me fez sentir mal. - Você pode ter sua posição de volta. Seja meu cachorro. - Sua crueldade era nojenta - Agora, como você conseguiu escapar da polícia? Eu incendiei o prédio e a deixei para trás. Não havia como sair do reformatório em pouco tempo. O que aconteceu?
- Eu fugi", murmurei enquanto abaixava a cabeça.
-Uma garota como você fugiu? A segurança deveria ser pior do que terrível. Você não consegue correr sem ficar sem fôlego, muito menos desviar de obstáculos. Eu nunca soube como roubar, muito menos seduzir homens. Eu sempre fui uma vergonha para a matilha. Se você quiser voltar a ser meu cão, eu o tratarei muito bem, como antes.
- Até que você seja descartado novamente.
"É claro", ele me assegurou, passando a mão pelo meu cabelo.
Algumas pessoas nascem para serem tratadas como lixo. Algo descartável que é constantemente usado e jogado fora, e eu era uma dessas pessoas.
Eu era como uma nota adesiva. As pessoas me usavam e depois me descartavam. Esse era o meu valor.
- Se não é o meu cachorro, o que é? - perguntou Breno novamente, aproximando seu rosto de minha orelha. - Seja obediente e venha para o meu lado.
Quando foi que ele se tornou tão desumano?
Acho que ele sempre foi assim.
- Você deveria ficar longe dela - não precisei me virar para saber quem era o dono da voz alta e grossa atrás de mim. Mantive a cabeça baixa, confuso com tudo aquilo, agarrado ao tecido do meu moletom. O que eu estava fazendo ali? Fui eu quem fugiu dele, por que o juiz estava lá? - Eu odeio correr, sabe, e a Srta. Rebelde me fez correr vários quarteirões - embora sua voz soasse agressiva, por algum motivo eu sabia que ele não estava com raiva. - Agora pode olhar para mim? - Eu me virei e o encarei. Seu rosto estava encharcado de suor e ele não parecia muito feliz. - Parece que meu plano acabou acontecendo mais cedo do que eu esperava - Ele disse enquanto dava passagem para três policiais e entre eles estava Ian, o mesmo do hospital. Eles avançaram em direção ao Breno e aos outros rapazes sem hesitar, algemando-os um a um. Fiquei parado, esperando minha vez, até que senti a mão do juiz em meu pulso.
- O que está fazendo? Eu deveria ir com eles", concluí, olhando para ele. Algo no juiz era estranhamente incômodo e sincero.
- Você está sendo irracional ou simplesmente estúpido? - ele perguntou parecendo confuso com minha expressão - Há um inseto no moletom dela - ele esclareceu - Eu sabia que não era o único culpado pelo incêndio e foi por isso que fui procurá-la no reformatório. Eu estava esperando que ela me desse uma pista, mas como ela não deu, tive que improvisar. Eu ia tirá-la do reformatório com alguma desculpa e foi quando a vi daquele jeito. Eu a salvei duas vezes, deveria ser grato.
-O que você quer em troca?", perguntei friamente, ainda sentindo sua mão quente segurar gentilmente meu pulso, como se ela simplesmente não quisesse que eu me afastasse. - Ninguém faz nada em troca. - Eu tinha acabado de me certificar disso depois das palavras de Breno, a pessoa em quem eu confiava cegamente.
- Eu quero que você viva bem a sua vida - As palavras dele me fizeram levantar a cabeça para olhá-lo direito. - Quero que você tenha orgulho de quem é e que continue vivendo. É isso que eu quero em troca.
Palavras gentis vindas dos lábios de um ser demoníaco.
Suspirei enquanto fechava os olhos para impedir que as lágrimas escorressem pelo meu rosto. Fazia muito tempo que eu não ouvia palavras tão acolhedoras de alguém como ele. Alguém que não queria nada em troca.
Senti meu corpo ser atraído para o dele, sua mão acariciando meus cabelos, enquanto a outra permanecia no meio das minhas costas. Eles me confortavam de forma quase paternal.