
Resumo
Sozinha e grávida, Tábata Mamoru jamais imaginaria que sua antiga paixão adolescente seria aquele que lhe estenderia a mão. Muito menos que os sentimentos por ele retornariam atrapalhando seu plano de partir assim que seu bebê nascesse. ~* Uma ajuda inesperada indicou o caminho para a vida que sempre desejou *~ — Como vai Tábata? Há quanto tempo... Dez anos de completo silêncio teve vontade de falar, mas, em seu estado, sua última preocupação seria a rejeição de sua primeira paixão adolescente. — Oi... — Apertou a alça da mochila, olhando um ponto atrás dele como se estivesse à procura de uma escapatória. De certa forma estava. — Hum... O que faz por aqui? — Lee me telefonou — ele respondeu. — Você ficará hospedada na minha casa enquanto ele estiver fora do país. ~* Fazendo seu plano de partir ruir frente ao despertar de sentimentos antigos *~ — Nunca imaginei que o senhor “perfeição” se arrependeria de algo — brincou, mas Guilherme a observou sério em vez de rir como o esperado. — Me arrependo de várias coisas — deslizou o torso da mão pela face dela até seu queixo, aproximando-se com os olhos fixos em seus lábios —, entre elas, todas as vezes que contive a vontade de te beijar. Com o coração aos pulos, Tábata segurou o rosto de Guilherme e inclinou-se para cima, acabando com a distância entre suas bocas. ~☆~ Livro 2 da Série Apaixonados iniciada no livro Ensina-me. Podem ser lidos separadamente, não necessitando conhecer um para compreender o outro.
Capítulo 1: Um beijo de presente
O sol poente tingia o quintal da casa de Lee Mamoru com tons dourados, criando uma atmosfera acolhedora e tranquila. Sentada em um banquinho junto à parede, sua prima Tábata Mamoru sentia-se nervosa enquanto observava Guilherme Perez treinar kung fu com Lee. Seu coração batia descompassado, ansioso pelo momento de coragem, aquele que a faria chegar e, Guilherme e fazer o pedido que martelava em sua mente desde que acordou naquela manhã. Sendo sincera consigo, aquele pedido dominava seus sonhos desde que o conheceu.
O vento suave brincava com os fios soltos dos coques duplos prendendo seu cabelo, quando, enfim, o treino acabou e Taby ergueu-se para colocar em ação seu desejo.
Graças aos céus seu tio chamou seu primo, que correu para dentro da residência sem perceber as intenções dela. A presença dele inibiria sua intenção.
Concentrado em tirar o suor do corpo, lavando o tórax fortificado e o rosto no tanque, Guilherme não reparou em sua aproximação, ou não se importou. Taby temia pela segunda opção, mas nem isso a parou. Observou a cicatriz na testa dele, uma marca que o tornava ainda mais atraente aos seus olhos e inspirou fundo, puxando no âmago de seu ser a firmeza que faltava em suas pernas.
— Gui... — chamou Taby, a voz tremendo ligeiramente. — Posso falar com você um instante?
Guilherme parou seus movimentos e se virou para encará-la, as íris de um âmbar apaixonante fixando-se nela.
— Claro, Pucca ! — Ele citar o apelido carinhoso, dado por causa dos coques que ela sempre usava, fez a insegurança diminuir e um sorriso formar-se nos lábios trêmulos. — O que quer?
Espremeu os dedos um contra o outro para se tranquilizar, até desistir e movê-los para trás das costas.
— Hoje é meu aniversário de quinze anos... — começou, a voz mais baixa do que pretendia.
— Parabéns, Taby! — Guilherme pronunciou e a abraçou de repente. Foi por um segundo, rápido demais, mas a deixou em nuvens coradas de vergonha e euforia. — Se soubesse teria te comprado algo — ele justificou ao se afastar.
— Mas pode... me dar um presente... — pigarreou insegura. — Desejo um beijo de presente...
Segurou a respiração quando ele se inclinou, vencendo a distância de suas alturas, o perfume amadeirado envolvendo-a, o rosto tão próximo, a boca a centímetros para beijar... sua bochecha.
— Parabéns! — ele repetiu com o sorriso que a fazia derreter como manteiga no pão quente. Porém, dessa vez o efeito foi diminuído pela decepção.
— Não! Quero um beijo na boca — declarou ligeiramente decepcionada.
Guilherme arqueou uma sobrancelha, uma leve confusão atravessando os olhos de mel. O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor. Taby segurou a respiração, esperando pela resposta, o coração descompassado. Mas quando ele finalmente falou, suas palavras caíram como um balde de água fria sobre ela.
— Desculpe, Tábata, mas não posso fazer isso — pronunciou firme. — Não seria certo.
Taby sentiu o chão desaparecer sob seus pés e a dor da rejeição cortar fundo, misturando-se com todas as outras feridas que carregava em seu coração. Engoliu as lágrimas querendo transbordar e murmurou tentando trazer um sorriso aos lábios trêmulos:
— Entendo... — Se virou, querendo escapar daquele momento constrangedor o mais rápido possível e chorar longe dos olhos dele.
Teve a fuga impedida pela mão grande agarrando seu braço.
— Taby, você é uma garota incrível — o ouviu falar, mantendo-se de costas para poupar ambos das constrangedoras lágrimas —, mas é muito nova...
— Não precisa se desculpar. Já entendi! — ela o cortou puxando o braço para se afastar do toque dele.
Sem esperar novas justificativas, correu em direção ao muro baixo, usando o banco, em que estava minutos antes sonhando com beijos apaixonados, para pegar impulso e pular furiosamente e desesperadamente para a casa do lado, a sua. Não querendo ser vítima da curiosidade dos irmãos, ou do desprezo de sua mãe, permaneceu nos fundos da residência, encolhida entre a parede e o tanque.
De cabeça baixa, com as pernas junto ao corpo, seguradas com força por seus braços, Taby deixou as lágrimas transbordarem.
Com o coração despedaçado em mil pedaços, não conseguia entender por que ele a rejeitou daquela forma. Era só um beijo. Um momento para ela guardar na memória. Sofria tanto com a rejeição da própria família, e agora mais essa dor vinda da pessoa que amava.
Respirou fundo, buscando controlar-se e acabar com as lágrimas antes que fosse encontrada naquela posição lastimável. Tinha que se conformar. Da mesma forma que não conseguia fazer seus familiares a amar, não podia forçar Guilherme a sentir algo por ela. Ainda assim, doía demais ser constantemente rejeitada.
Sempre estava tão sozinha e desamparada, com a constante sensação que a vida a odiava e a cercava de desprezo. O único que desejava, naquele momento e em todos os que a levaram até ali, era alguém para amar e que a amasse de volta.
Com o coração pesado, ergueu o olhar para o céu, agora usando o véu noturno pontilhados de estrelas, e se prometeu nunca mais permitir que alguém a afetasse dessa forma, que a fizesse se sentir tão pequena e insignificante. Encontraria o amor.
Dez anos depois, além de quebrar a cara e o coração caindo em novas ilusões em busca do amor, se viu parada diante de sua paixão de adolescência, aguentando o olhar âmbar vistoriando seu corpo até chegar a sua barriga. Dessa vez não havia para onde fugir e Guilherme Perez era seu único bote salva-vidas. Seu e do bebê em seu ventre.