Capítulo 7
Além disso, meu humor não melhora nem mesmo no trabalho.
Felizmente, a noite não foi tão agitada quanto ontem e Yogi evitou falar comigo. Apenas nos cumprimentamos e depois cada um pensou em seu próprio trabalho.
Roberta tentou me fazer sorrir, mas eu apenas lhe dei alguns sorrisos casuais para não preocupá-la muito.
Normalmente, não consigo pensar em nada enquanto faço coquetéis, mas hoje não, ainda sinto aquela presença pronta para apertar suas mãos em volta do meu pescoço.
Faço uma pausa e saio para fumar um cigarro, a única coisa que, junto com um par de shorts, consegue me acalmar.
Inspiro a nicotina e bato minha cabeça contra a porta várias vezes, sem força excessiva.
Já faz um tempo que parei de ir ao aparador de cérebros, mas sinto que nunca fiz nenhum progresso significativo.
- Senhorita Ganteliz, a senhora sofreu abuso psicológico desde criança e a única cura que posso lhe dar é confiança e tempo. Ele deve ter mais autoestima do que ela e somente com o passar dos dias, meses e anos ela conseguirá viver. -
Sorrio amargamente, talvez eu devesse ter acrescentado séculos, mas agora tenho que dedicar meu tempo ao trabalho, é melhor voltar, não quero mandar o Yogi à merda quando for atacado por uma MILF superexcitada.
Somente por volta das quatro horas é que os últimos bêbados decidem se retirar.
Terminamos de arrumar tudo quando Roberta sai da cozinha em frangalhos.
- Finalmente terminamos, mal posso esperar pela chegada da terça-feira...
-Como estão os pequenos? -
- Animados como sempre, sempre deixarei o peru pronto para terça-feira, não é? -
- Sim, você sabe que o churrasco do Luke pode ser perigoso.
Ela ri alto quando um soldado confuso vem em nossa direção.
- Terça-feira? -
“O Luke não te disse isso Efron?” Aquele velho estúpido, mesmo assim sempre organizamos um churrasco com o pessoal no dia do fechamento, aqui, este é o endereço daquele maldito. Oi, pessoal...
-Boa noite, Roberta.
Estamos sozinhos e, com o canto do olho, percebo seu olhar intrigado enquanto ela olha o cartão com o endereço.
- Você não precisa vir se não quiser, mas o peru da Roberta é algo sublime, sabe? -
Eu dou um sorriso, o comportamento dela quase me lembra o meu quando comecei a trabalhar.
- Então acho que não posso perder isso. -
- Bem dito, soldado.
Estou prestes a me trocar quando sua voz me chama.
- Red, você está bem? Você estava estranho hoje. -
- Nada que possa lhe interessar, soldado. -
Eu me viro de costas para ele e, pela primeira vez, sinto vontade de olhar para a cicatriz em meu pulso direito... Se ao menos eu não tivesse perdido aquele momento.
Essa era certamente uma situação com a qual eu estava acostumado. Reunir-me com colegas de trabalho para um churrasco era algo novo para mim.
A manhã de terça-feira chegou sem que eu percebesse e seria melhor passar um tempo com minha família primeiro, para que eles não me fizessem perguntas curiosas sobre o que aconteceu na guerra.
Depois de me vestir com roupas casuais, jeans e uma camiseta preta justa com um par de botas, saio de casa e paro na cafeteria no andar de baixo para pedir um café da manhã farto.
A garçonete que me serve sorri para mim várias vezes como uma piscadela e eu poderia até dar uma rapidinha, se ela ainda estivesse de folga por causa do cansaço acumulado durante esses dias de trabalho.
Pago a conta e me dirijo à minha motocicleta antes de partir para a casa dos meus pais.
Não encontro muito trânsito e, depois de estacionar, paro um minuto para colocar meus pensamentos em ordem.
Tudo isso que estou enfrentando é um fardo que tenho de carregar sozinho em meus ombros e, se necessário, terei de desviar a conversa ou ir embora. Amo minha família, eles sempre me apoiaram, mas agora cresci e tenho que assumir minhas responsabilidades.
Bato na porta e minha mãe aparece, sorrindo como sempre.
-Efron . -
- Oi, mamãe.
- Entre, que vento bom a traz para casa? -
- Dia de folga, pensei em vir visitá-la antes de sair com meus amigos. -
- Mmm, sério? E por acaso há alguma garota bonita entre esses colegas? -
- Mamãe...
- Qual é o problema? Você sabe que eu não vou desistir da ideia de vê-la feliz um dia desses.
- Eu estou feliz.
Pego uma maçã, mas ela habilmente a tira da minha mão, fazendo-me entender que ela ainda tem uma palavra a dizer.
- Você pode mentir para si mesmo, mas não para sua mãe, senhor - suspiro e não protesto mais.
Suspiro e não protesto mais, sabendo como ela pode ser teimosa nesse assunto. Para o bem dela, eu deveria confessar e esquecer o que passei por causa daquela mulher, mas tenho uma opinião diferente.
- Papai? -
- Ele sai com os amigos e tem uma vida social mais ativa do que a sua, sabe? -
Eu rio, porque ele tem razão nesse ponto, na medida em que, quando criança, eu não sabia de quem herdei meu caráter introvertido, já que meus pais eram dois loucos muito sociáveis.
- De qualquer forma, você gosta desse trabalho? -
- Acho que sim, é bom e o salário é bom, não posso me queixar, e depois faço o turno da noite.
- Por conta própria? -
- Mamãe, sou um soldado treinado e, de qualquer forma, há uma garota comigo e com o porteiro, não se preocupe.
- Uma mulher? Por acaso o Luke perdeu a cabeça? Pode ser perigoso para ela! -
Mordo a maçã e, se eu pensar na cena da outra noite, é natural que eu levante o canto da boca, ela provavelmente é a perigosa.
- Acredite em mim, ela sabe se controlar bem, é durona - termino a maçã e me sento para observá-la.
Termino a maçã e me sinto sendo observado e imediatamente reconheço seu olhar curioso.
- Somos colegas, nada mais.
- Mamãe -
- Sim? -
Suspiro, levanto-me e lhe dou um beijo na bochecha.
- Diga oi para o meu pai, tenho que ir agora ou vou me atrasar.
- Não apareça de mãos vazias, por favor.
Aceno com a cabeça e saio, pensando em como minha mãe se tornou ainda mais intrusiva nesse período, será que é por causa de todas as novelas que assistimos?
***
Chego ao endereço marcado no papel da Roberta e dou uma olhada na casa do Luke.
Em uma casa normal de madeira de cor creme, saio e pego a garrafa de vinho que comprei em um minimercado embaixo do banco antes de ouvir vozes vindas de trás.
Passo pelo portão do jardim e olho para ver Luke e Roberta rindo junto com outras duas crianças.
Chego até eles e, assim que me veem, Roberta vem me abraçar.
- Efron, você veio! Que lindo. Venha, vou lhe apresentar os outros dois lugares.
-Vamos, Roberta, pelo menos eu estou bem.
- Mas ouça, não confie nessa moça, eu sou Ian Smith.
Aperto a mão do cara, ele é alto, mas não tão alto quanto eu, e tem tatuagens nos dois braços, ele também parece um bandido como o Luke. Volto minha atenção para a garota, cabelos loiros e dois olhos castanhos me olhando com curiosidade, ela é mais baixa que o ruivo, mas tem mais curvas na frente.
- Vá embora, mal-educada. Sou Chloe Thomson, espero que a gente se dê bem.
- E não estamos na escola.
- Você sempre tem algo a dizer, não é? -
- Sempre sobre suas besteiras. -
Eles parecem um cachorro e um gato e acho estranho que trabalhem juntos no turno da manhã, mas me chama a atenção a ausência da ruiva. Afinal, eu vim porque ela me fez entender que eu não podia dizer não para a Roberta.
- Rapaz, o que você acha? -
-Normalmente Luke-