4-Você me pertence, esse lugar me pertence. Então, posso entrar quando e onde eu quiser
Allah! Eu preciso mais para frente conversar com Said, convencê-lo a me liberar para fazer uma ligação, nem que for uma ligação supervisionada. Preciso ligar para a vizinha de Adara, Nardini e saber como minha irmã está e pedir para que ela dê o recado que está tudo bem. Que ela não será mais procurada, que eu estou dando um jeito de resolver as coisas. Que estou trabalhando para pagar a sua dívida, por isso ficarei um tempo sem vê-la.
Com esses pensamentos em mente, me sinto melhor e entendo que preciso me alimentar.
Comi toda a kafta bem temperada com ricota.
Quando finalizo a refeição, penso comigo. Allah! Não é que o almoço estava muito bom? Quando comecei a comer, percebi que estava com mais fome do que havia pensado.
Eu deixo o prato no carrinho e abro a porta lateral.
Sim, como eu pensei. Um banheiro!
Ele é incrivelmente perfumado e bem iluminado por uma grande claraboia no teto. Tem até uma banheira em bom estado.
Não esperava!
Quem sabe muitas surpresas boas ainda possam vir sem aviso. Quem sabe Said desiste em me fazer pagar as dívidas?
O cara é rico, não precisa de dinheiro.
Olho meu reflexo no espelho. Meus cabelos estão emaranhados, sem brilho, meus olhos borrados pelo choro. Suada e acalorada, resolvo tomar um banho de imersão. Vou até a porta e estremeço por não ver uma chave para trancá-lo. Resolvo então usar uma cadeira que está ao lado do gabinete para segurar a porta. Não irá adiantar muita coisa, mas eu me sentirei mais segura.
Depois que encho a banheira, derramo os sais que encontro ao lado dela, agito a água com as mãos para fazer bastante espuma. Retiro minhas roupas e entro. Sinto a delícia da água morna no meu corpo quente. Lavo meus cabelos usando um pequeno frasco de Shampoo que encontrei. Esparramando-me na banheira, fecho os olhos, quase me sentindo no meu apartamento em Londres.
Barulho de algo se arrastando.
Allah!
Abro os olhos.
Said está olhando para mim. Soberano, com um sorriso jocoso no rosto. Sinto meu rosto arder de vergonha. Graças a Allah a espuma da água bloqueia a minha imagem, mas mesmo assim me afundo mais e com meus braços e mãos, cubro tudo que posso. Seus olhos negros se fixam nos meus. Fico sem ação, sentindo-me impotente, consciente que estou em desvantagem.
Meu coração acelera quando seus olhos passeiam pelo meu rosto vermelho, depois por meus cabelos molhados e corre a água da banheira tentando ver o meu corpo. Não consigo me mover, e prendo a respiração. Até meu raciocínio lógico está perturbado.
Engolindo um caroço duro na garganta, consigo falar:
— O senhor quer fazer o favor de se retirar! É um absurdo entrar dessa maneira? O que eu estaria fazendo em um banheiro por acaso?
Ele me dá um sorriso frio e arrasta a cadeira e tranquilamente se senta.
— Você me pertence, esse lugar me pertence. Então, posso entrar quando e onde eu quiser