A escuridão
Hope POV
Estou vagando neste lugar, neste sonho sem sonhos, apenas uma eterna escuridão, sem luz, sem esperança.
Andei para qualquer lugar até meu corpo cansar e ainda assim não achava uma saída, será que havia alguma saída deste lugar? Eu odeio essa sensação de ser apenas uma presa em meio à uma caçada infinita.
Há algo neste lugar, eu sinto seu olhar em meu corpo, minha pele se arrepia e instintivamente me encolho, mas tento lutar contra isso e ergo minha cabeça.
“APAREÇA DE UMA VEZ!” Gritei no vazio, senti como se uma risada me atingisse e torci a boca, queria agarrar o que estivesse rindo de mim.
A raiva em mim é palpável como uma onda de energia que sai do meu corpo e perturba essa escuridão ao meu redor.
“Você não vai ganhar! Eu nunca vou desistir!” Falei com convicção. Dessa vez comecei a correr, precisava achar uma saída deste lugar.
Esse é um lugar para onde eu era arrastada toda vez que me cansava muito, toda vez que eu ousava sonhar que eu corria e tentava lutar, desde meus 8 anos. A primeira vez que eu havia aparecido num lugar assim foi depois que matei pela primeira vez.
Era como uma mancha em minha alma, uma mancha que não pretendia ceder. Algo em mim sabia que se eu apenas desistisse não haveria nada que me impedisse de surtar, de tentar matar todos, amigos ou inimigos.
‘Mas se você desistir, poderá descansar e não vai mais sentir esta dor.”
Escutei a voz sussurrante ao meu ouvido, uma promessa que fazia minha alma ansiar por atingir, que me faz cair de joelhos, respirando fundo, enquanto lágrimas escorriam pela minha face. Era tão fácil, tão fácil desistir.
Nunca mais sentir aquela dor e abandonar essa raiva que me consome. Bastava eu me enrolar nesta escuridão e fazê-la de meu cobertor, minha proteção, meu escudo.
“Estou cansada.”
Minha voz é um sussurro, quando finalmente percebo que aquela escuridão vai me tomar sou puxada para fora.
Dylan POV
Já faz uma semana que Hope está nesta cama de hospital. A cada noite que eu tenho que voltar para cá sinto um pedaço de mim se quebrar. Será que ela nunca mais vai acordar? Sei que o laço está ajudando a curá-la, mas parece que Kendrick existe, algo que a impede de voltar e não sei como puxá-la de volta.
Saio todos os dias de madrugada para ir ao campo de treinamento. Na hora do almoço visito-a novamente, de tarde vou terminar a segunda parte do treino, depois volto para cá, passando minhas noites sentado na cadeira ao lado dela, segurando sua mão.
Óbvio que havia conseguido uma liberação especial para fazer isso. Haviam dito que Hope estava em estado de coma e que sem um lobo para ajudá-la ela poderia ficar assim para sempre, como eu era o Destinado dela, pelo menos era o que eles sabiam, então ninguém melhor do que eu para ficar ao seu lado, talvez o meu lobo pudesse ajudá-la.
Encontrei o filho do Alpha da matilha dela, Kendrick, ele estava muito preocupado e havia feito algumas perguntas, mas eram perguntas que eu não sabia responder.
“Quem é o primeiro Destinado? Ela te aceitou? Ela está bem?”
E muitas outras, além de me explicar porque Hope era tão especial, cada palavra que Kendrick dizia me deixava mais orgulhoso dessa garota, mas meu pai não pensava assim, já havia ligado algumas vezes para discutir sobre rejeitar Hope assim que ela acordasse.
Não havia porque eu discutir, não ainda. Sequer sabia se a minha garota algum dia acordaria. Passei a mão pela testa dela, podia sentir sua agonia, era como se ela estivesse em um eterno pesadelo.
“Sin…” Implorei, sabia que meu lobo estava tentando alcançá-la. Nós dois estávamos sofrendo. Uma angústia que não passava, que não deixava concentrar-me direito.
“Eu estou tentando. Ela está me bloqueando, não deixa eu chegar perto.”
“Por quê você tem tanto medo?” Perguntei baixinho contra o ouvido dela, encostei a cabeça em sua testa. “Volta para mim, Hope.” Pedi encostando meus lábios nos dela.
“Achei!”
Hope POV
“O quê?” Tento abrir meus olhos, mas a luz é muito forte, estou me sentindo tonta, mesmo com os olhos fechados o mundo ao meu redor girava, se eu não tentasse me concentrar cairia novamente naquele mundo de trevas.
“Eu preciso…” Abri os olhos, mesmo sentindo dor, a luz branca quase me cegava, junto com o teto branco e o cheiro de limpeza que diziam onde eu estava. Estava em um quarto de hospital. Levei minha mão àquele acesso no meu braço e puxei, soltando um gemido de dor. O que quer que tivesse naquele soro estava me deixando mais tonta.
“Me solta!” Gritei, sentindo duas mãos me segurarem. Como ainda estava com os olhos semicerrados, era quase impossível ver quem estava ali, então coloquei as duas mãos por baixo e encostei no peito dele, empurrando-o com força para longe.
“Hope! Calma! Você apenas está no hospital.”
Escutei a voz de homem perto de mim, mas havia muito barulho ao redor, som de passos, vozes misturadas, podia sentir minha própria respiração, escutar meus próprios batimentos.
“Eu preciso…” Respirei fundo, minha cabeça doendo cada vez mais, cada barulho me irritava mais e mais. “CALEM A BOCA!” Gritei. Então quase tudo ficou em silêncio, apenas o som da respiração das pessoas ao redor.
“Eu preciso, dos meus…” Respirei fundo várias vezes, mantendo os olhos fechados. "...remédios”, completei.
Levei a mão à minha cabeça. Podia escutar o riso ecoando dentro dela.
“AGORA!” Alguém moveu-se e pegou minha mão, colocando dois comprimidos nela, levei a boca e engoli. “Me dêem uma hora, para eles começarem a fazer efeito.”
A maioria das pessoas saiu do quarto, mas ainda havia duas respirações além da minha. Torci a boca, será que não poderiam me deixar quieta? Conforme os minutos foram passando, os sons começaram a ficar menores, agora sei que posso abrir os olhos sem me machucar.
“Quanto tempo eu fiquei desacordada?” Perguntei com tom de voz mais baixo, ainda sentia a raiva nele, mas estava bem menor do que antes.
“Uma semana.” Quem respondeu foi o Dylan, era a mesma voz que havia me pedido para ter calma.
“Faz sentido.” Respirei fundo e, abrindo os olhos aos poucos, vi Dylan e uma enfermeira, médica, não sei. Ela estava com um tablet na mão.
“Você vai precisar aumentar a dose de manhã para compensar os dias que ficou sem os remédios."
Escutei a voz da mulher e acenei com a cabeça de leve, grunhi baixo, a raiva ainda estava muito na superfície.
“Por quanto tempo?” Meu olhar estava fixo naquela mulher, que começou a se sentir desconfortável.
“Até estabilizar.”
“Essa não é uma resposta muito precisa, não é?” Minha voz está tremendo, fecho minhas mãos e deixo as unhas penetrarem na pele como uma boa forma de dissipar a raiva.
“É que vamos deixar assim por uma semana, caso seja necessário prolongamos.” A voz dela era quase um fio.
“Ótimo.” Fechei os olhos novamente, respirando fundo várias vezes. Escutei passos mais leves saindo, sabia que eram da mulher.
“Hope…” Dylan tinha se aproximado da cama agora. Posso sentir que ele quer me tocar, mas não posso deixar, por isso abri os olhos quando os dedos dele estavam muito próximos da minha bochecha e esquivei afastando a cabeça.
“Não.” A raiva ainda flui pelo meu corpo, eu queria pular da cama e machucá-lo, não importando se ele era meu Destinado ou não, apenas que eu precisava ver sangue e bater em algo até a raiva ser drenada por completo.