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Jenny
— E não se esqueça, Jenny, você é uma garota linda, é muito gostosa e maravilhosa. Ah, e tem que arrumar um homem para você. O hospital Mont Sinai é o melhor lugar para fazer isso. — Amber resmunga um tanto animada enquanto arruma o laço da minha blusa cor de rosa.
— Amber, pelo amor de Deus, é meu primeiro dia no hospital e eu estou atrasada! E você está me dando conselhos amorosos? Isso não cai bem! — rosno exasperada, mas ela acha graça.
— Não se preocupe, vai dar tudo certo, amiga! — Ela fala tranquila, porém, suspiro e me viro para sair do quarto. Na sequência bato bruscamente na quina da minha cama.
— Ai, droga! — rosno com um gemido dolorido. — Eu não tenho tanta certeza disso — retruco malcriada. — Foi por causa desse meu jeito atravessado que fui expulsa do projeto do outro hospital, se lembra? — reclamo alisando o local da pancada que deixou minha pele avermelhada e saio do quarto em seguida.
— Bom, eu vou ficar bem aqui torcendo por você. — Minha amiga fala, fazendo figuinha com os dedos. Contudo, resolvo não a contestar.
— Eu te amo! — Solto um beijo no ar para ela e saio do nosso apartamento apressada.
Amber Parker é uma boa amiga. Na verdade, ela é maravilhosa. Nos conhecemos há cerca de três anos aqui mesmo na faculdade, embora pareça que nos conhecemos desde sempre. Ela estuda medicina fetal e eu faço pediatria obstetrícia. Já no primeiro dia de aula essa garota se aproximou de mim e do nada começou a falar pelos cotovelos, e desde então, não nos largamos mais. Hoje dividimos um apartamento pequeno, porém, aconchegante, mas devo dizer que amo o nosso espaço. Vamos voltar para a Amber. Ela é uma garota exuberante, é bem sexy e muito linda também. Perto dela me sinto como o Patinho Feio da história infantil. Sem falar que ela é tão alta que me faz sentir uma anã perto dela.
— Bom dia, coisa linda!
— Bom dia, Senhor Marck! — digo para o porteiro e vou direito para a garagem do meu prédio.
Oh, só pra você saber, eu tenho algumas manias e uma delas é colocar nomes nas coisas. Então não se assuste se ouvir chamar o meu Mustang, um carro da década de 60 pelo seu nome de batismo. Na verdade, ele pertenceu ao meu avô e passou para o meu pai, e agora é todinho meu. Penso satisfeita, abrindo a porta do motorista para me acomodar no banco do motorista. No ato, largo a minha bolsa no banco do carona e levo a chave na ignição. Respiro fundo e me preparo para ouvir o ronco do seu motor, mas ele se engasga logo na primeira tentativa.
Relaxe, isso é normal.
Todos os dias o Kinder-Ovo, como costumo chamá-lo carinhosamente tem sempre uma surpresa para mim. Portanto, apenas bufo e tento outra vez.
E voilá!
— Droga, você está com quase dez minutos de atraso, Jenny e esse trânsito não está ajudando muito! — ralho para ninguém em especial e fito a imensa fila de carros parados na minha frente. No entanto, resolvo repassar a minha lista de recomendações repetidas vezes dentro da minha cabeça.
Por favor, não tropece, não fale asneiras, mantenha o foco e não durma durante o trabalho. Jen, pelo amor de Deus não durma no trabalho!
— Ok, estou surtando! — ralho soltando uma respiração alta e para não sufocar nos meus anseios, abro a janela do carro e permito o vento passar. — Que droga, eu sabia que não devia ter saído na noite passada para comemorar com a Amber. Agora estou aqui ponderando dormir em algum momento do meu serviço e isso quer dizer que posso ser expulsa de mais um projeto hospitalar em tempo recorde. Um dia de trabalho. Um dia... — rosno, porém, sou despertada pelo som estridente das buzinas atrás de mim, só então percebo que o sinal vermelho já está verde e que a fila de carros na minha frente já sumiu de vista.
Puxo outra respiração e meto o pé no acelerador.
Entretanto, antes que eu consiga sair do lugar um motorista atrevido passa por mim, xingando toda a sorte de palavrões. Nervosa, apenas bufo alto e corro para o Mont Sinai, o hospital-escola onde faço algumas aulas práticas do meu curso.
?
— Meia hora de atraso! Meia hora de atraso! — repito, enquanto ando com passos largos para dentro do hall. — Isso é tão absurdo, Jenny Reinhold! Logo no seu primeiro dia? — ralho em um misto de nervosa e ansiosa, e paro bruscamente no meio do imenso salão movimentado sem saber exatamente para onde ir.
— Está procurando a sala dos novatos? — Alguém inquire do meu lado.
— Ah, sim.
— Fica atrás das portas largas de vidros, mas se eu fosse você corria, pois eles já começaram.
— Ah, ok! Obrigada! — Apresso os meus passos outra vez, passado pelas portas e encontro alguns residentes devidamente fardados e recebendo algumas instruções para o dia. — Com licença! — peço baixo, mas um tanto exasperada, tentando me encaixar entre eles e finalmente consigo respirar aliviada.
—Jennifer Reinhold? — Escuto o instrutor chamar o meu nome e ergo a mão para ele. — Você trabalhará com o doutor Christopher Ávila. — Ele informa chamando o próximo aluno e eu assinto, arrastando os olhos entre as pessoas a procura tal Ávila. Assim que a chamada é encerrada, todos se espalham por todos os lados, porém, continuo parada no meu lugar como uma patativa sem saber realmente o que fazer e nem para onde ir.
— O que está fazendo aqui ainda, Reinhold?
— Ah, é que... eu não... — gaguejo olhando para todas as direções e depois para ele. — Desculpa, você é?
— Sou o doutor John Thompson e você ainda não me disse por que ainda está aqui?
— Claro, é que eu... enfim. É a primeira vez que eu estou aqui e eu... ah, eu... eu não sei para onde ir e... e... não faço ideia de quem é o doutor Ávila... — Paro de falar bruscamente quando vejo alguém andar com passos firmes na nossa direção e o meu cérebro praticamente grita:
O quê que é isso?
Sério, mesmo com passos tão firmes o homem parece não pisar no chão. Puxo a respiração, porém, não consigo soltá-la, pois ela ficou retida dentro dos meus pulmões.
Céus, ele é tão... imponente e tão seguro de si, e ele é... lindo, muito lindo!
Céus outra vez. Como posso descrevê-lo? Vejamos.
Lindo, muito lindo, mas acho que já falei isso. Ah e ele é... alto, é moreno e... forte, muito forte. Não, ele é másculo, isso ele é másculo. Deu para perceber isso mesmo usando um jaleco branco. O médico tem o corpo malhado, gente e ele é... delicioso! Avidamente os meus olhos correm para os seus cabelos.
Ai, ai!
Que vontade de tocar nesses fios escuros e lisos, caídos em sua testa apenas para arrumá-los no seu devido lugar. Suspiro. Eles devem ser macios e sedosos. Ai, minha virgem santinha! Rogo quando o homem ergue a sua cabeça e me deparo com lindos olhos puxados e escuros. No fim, ele abre um sorriso do tipo que ensopa as calcinhas alheias. É, eu sei por que a minha acabou de ficar assim, totalmente estragada. Contudo, retribuo o seu gesto abrindo um sorriso largo para ele, mas acabo descobrindo que esse sorriso não foi direcionado a mim exatamente.
— Bom dia, John! — O médico diz, soltando um som voz grave e levemente rouco na voz, apertando a mão do seu amigo.
— Bom dia, Chris!
Cris?
— Estou procurando pela minha residente, ela não apareceu no setor e eu tenho um atendimento de emergência agora. — Ele diz e o doutor John aponta para mim com certo descaso, interrompendo o seu amigo.
Oh, esse é o tal Ávila? Oh céus, estou lascada!
Penso quando descubro de uma forma desconcertante que o tal gostosão em pé na minha frente será o meu instrutor. Ou seja, ele é o meu chefe. Em resposta, o doutor Ávila fica sério e me encara duramente. Então percebo que ainda estou sorrindo para ele feito uma louca alucinada, praticamente babando no gostosão... digo, no meu instrutor e rapidamente me forço a engolir o meu sorriso.
— Senhorita Jennifer Reinhold? — Faço sim para ele. — Ótimo, eu sou o doutor Christopher Ávila.
— É... um prazer, doutor! — Lhe estendo a minha mão. — Eu me chamo Jennifer Reinhold e serei a sua... residente.
Que droga, Jenny você está repetindo o que ele acabou de falar, sua estúpida!
Rosno mentalmente e para a minha frustração não ganho um aperto de mãos, porque ele simplesmente ignorou a minha mão estendida e olhou para o relógio no seu pulso.
— Você está com quarenta e cinco minutos de atraso, senhorita Reinhold — Ele cobra, mas não de um jeito rude ou algo assim. De alguma forma isso me deixa confortável.
— Me desculpe, é que o trânsito estava horrível! — falo tentando alcançar os seus passos largos.
— Tente sair mais cedo de casa, Senhorita Reinhold, estamos aqui para salvar vidas e o tempo não para nesse lugar.
— Claro, doutor Ávila! — O médico aperta o botão do elevador e logo estamos dentro dele.
— Venha, temos muito trabalho pela frente. — Ele diz assim que as portas se abrem e um corredor largo, e movimentado se projeta na minha frente. Respiro fundo e repito a mesma ladainha mental de sempre.
Não tropece, Jenny, não tropece, por favor!