O reencontro.
Três meses depois...
(Bianca)
Estou plenamente no tédio hoje!
O Lucas teve que se dedicar totalmente ao restaurante hoje pois o mesmo estava sendo usado para uma comemoração de uma empresa pequena. Aliás, eu e o Lucas estamos namorando. Faz mais ou menos um mês e poucos dias, resolvi dar uma chance já que ele demonstrava estar tão interessado.
_O que você quer comer, Bia?_Lilie grita da cozinha.
_Faz qualquer coisa. Por mim eu comeria pizza, mas você sabe que estrapolei muito esses meses._Respondo em voz alta.
Eu e o Lucas somos conhecidos no prédio como os reis da noite. Curtimos altas baladas, sociais, festas secretas... Enfim, saímos quase que todas as noites. É intenso demais experimentar a adrenalina. Minha barriga de quatro meses começou a pesar e então, por ordens da médica, tenho que parar com essa rotina doida. Eu confesso que vai ser difícil parar de me divertir durante a noite, mas tudo pela minha filha.
Minha menina.
Falei com a minha mãe e ela me chamou de louca. Disse que eu não poderia ter fugido daquela maneira, abandonando muita coisa daquele jeito. Me autorizou a ir para perto dela na França, em breve me mudarei. Fiquei tentada a perguntar se alguém ligou pra ela, pra saber sobre mim, mas a mesma disse que ninguém ligou. Estranhei, mas tudo bem.
_Temos que conversar, Bia._Lilie aparece me trazendo de volta à realidade.
_Diga, querida.
_Você precisa diminuir o ritmo. Essas suas saídas com o Lucas não estão te fazendo muito bem. Quer dizer, não estão fazendo bem a bebê.
_Eu vou parar, Lilie._Rebato._Você precisa experimentar, é viciante. As batidas da música, as pessoas legais, as comidas...
_E as bebidas, eh? Eu sei que o Lucas deixa você provar bebidas. Segundo ele, é pra você saber como são boas. Ah se eu tivesse o número do seu marido...
_Ex-marido, Lilie!_Praticamente berro._Olha, não precisa fazer nada não._Saio empurrando-a porta à fora._Preciso ficar sozinha agora. Obrigada.
Bato a porta e então suspiro alto. Sei que o Lucas não me oferece por mal, ele só queria que eu soubesse o quanto são boas. E não passa de um gole. De cada taça. Um gole.
Pego o celular e coloco pra chamar o número do Lucas. Em três toques ele atende.
_Oi, Bia._Ele parece ocupado._Aconteceu algo, gracinha?
_Aqui está um tédio. A médica me proíbe de tudo, a Lilie é uma chata... Quero surtar! Que horas você chega?
_Provavelmente muito depois das 00hrs, bem depois._Escuto alguém o chamar no fundo._Tenho que ir, querida. Qualquer coisa liga. Beijo.
Eu estou definitivamente no tédio e carente.
Droga.
Vou até o fogão e vejo que Lilie deixou uma sopinha feita. Acabo me sentindo péssima por tê-la tratado mal. Ela passou o dia inteiro comigo, tentando me distrair e cuidando de mim.
Droga de novo.
Coloco um roupão por cima da camisola fina que eu estava e então abro a porta. Preciso me desculpar. Assim que fecho a porta e viro meu olhar pra frente, vejo alguém que há muito tempo não via. Minhas pernas ficam bambas quando Lilie aponta pra mim.
_A única Bianca do prédio é aquela ali._Seu dedo está virado pra mim._Ela é a ingrata da Bianca. Até mais.
Lilie entra no elevador e ele fica me olhando de braços cruzados. Totalmente diferente do homem que deixei há uns meses atrás.
Droga um milhão de vezes.
Minha boca está entreaberta, estou ofegante por nada. Minha vista escurece e então sinto seus braços me amparando.
Aqueles braços...
_Estou...bem._Falo sôfrega._Pode soltar.
Ele não me ouviu. Abriu a porta e colocou-me nos braços carregando-me para dentro do apartamento. Meu corpo foi depositado em cima do sofá, ouço a porta sendo fechada.
Ele ajoelha-se à minha frente, encara meus olhos com tanta intensidade que sou capaz de chorar por isso e então sorri. Um sorriso contido, de canto, mas expressivo.
_Te encontrei, Bê.
Bê? Um apelido?
Esse não é o Tomaz. Não é.
_Agora pode sumir de novo._Tento me levantar, mas ele não deixa._Você tem que ir. Eu te pedi pra me deixar recomeçar.
_Pelo que sua amiga me disse você está recomeçando errado. Principalmente quando deixou outro homem ocupar o meu lugar na tua vida._Ele alisa meu rosto delicadamente._Precisamos conversar, meu anjo.
_Não, não precisamos!_Rebato irritada, não sei por quê._Vai embora, Tomaz! Me deixa em paz, droga!
Ele parece não estar ouvindo o que eu peço. Ele desce o olhar até minha barriga um tanto redondinha e sorri de novo.
Droga, meu emocional está louco!
Suas mãos abrem um pouco o meu roupão, exibindo ainda mais minha barriga. Como se segurasse o mundo nas mãos, ele segura meu ventre.
_É nosso._Ele sussurra._Meu e seu.
Eu fico admirando a cena, embasbacada. Ele beija minha barriga seguidas vezes, por vezes ouvi ele dizer que amava o meu bebê.
Aí me dou conta do que está acontecendo.
_Sai, Tomaz!_Levanto rapidamente fechando meu roupão._Sai agora ou chamo a polícia!
_Calma, Bê.
_Não me chama assim! Meu nome é Bianca, oui?
Ele balança a cabeça em negação, umidece os lábios e suspira. Ele está tão maduro. Tão seguro. Tão lindo.
_Eu só quero conversar, Bianca. Conversar. Eu não vim atrapalhar o teu recomeço. Uma coisa que aprendi na clínica é que não podemos forçar ninguém a permanecer nas nossas vidas se o mesmo não quer._Ele põe as mãos nos bolsos._Mas temos um vínculo eterno. Um não, dois. A Nathalie, por que tudo que envolve nossa filha é de nosso interesse, e esse bebê. Estou errado?
Esse não é o Tomaz.
Não é o Tomaz de meses atrás.
Estou muito tonta. Droga!
Ele não poderia ter vindo atrás de mim...
O Lucas não irá assumir meu bebê, mas ele não sentiria a falta de um pai. Ele teria à mim, em tempo integral.
_O que me diz, Bianca?_Ele se aproxima causando em mim um tremor estranho._Podemos conversar?
_Sente-se.
***