Primeiro Contato
Othon
A noite avançava e o quanto já bebi é um mistério para mim. Estou em um estado de descontração que só as férias são capazes de proporcionar. Ainda mantenho a sobriedade o suficiente para admirar as belezas naturais diante de mim. E quando falo em belezas naturais, não estou exatamente pensando na natureza em si. Faço essa observação para meus amigos, que riem em resposta.
— O problema é que você só faz olhar, Othon — Colin reclama.
— E eu não entendo porquê. Está se guardando para o grande amor da sua vida? — A pergunta é feita por Noah, que faz uma careta terrível apenas ao falar a palavra “amor”.
— Talvez… — Eu dou a mesma resposta de sempre.
O clima está bastante animado em mais um dia de férias em Fernando de Noronha. Colin, Noah e eu estamos aproveitando ao máximo esse paraíso de sol e mar. Somos completamente diferentes, mas desde o primeiro momento em que nos conhecemos, tornamo-nos amigos inseparáveis, sempre escolhendo o mesmo destino para nossas férias.
Continuo bebericando a minha bebida de maneira tranquila, quando noto a entrada de uma deusa. A garota é simplesmente deslumbrante. Negra, de longos cabelos cacheados e um corpo escultural, uma perfeita visão de exuberância. Meus amigos percebem minha mudança de expressão e seguem meu olhar, dando de cara com a mesma visão impressionante que me capturou.
— Quem é essa deusa? — pergunto, quase sussurrando, mas com a empolgação evidente na voz.
Meus amigos riem novamente, percebendo que algo inusitado está prestes a acontecer. É incrível como uma presença pode mudar o rumo de uma noite que já era divertida.
Meus olhos não conseguem se desviar da mulher que atraiu minha atenção, mas percebo que ela é bastante reservada. Seus olhos permanecem fixos nas pessoas do seu grupo, composto por cinco mulheres, todas incrivelmente belas. Contudo, minha atenção está totalmente voltada para aquela em particular. Ela é a visão que domina meus pensamentos nesta noite em Fernando de Noronha.
— Estou completamente encantado — confesso para meus amigos.
Colin, sem rodeios, diz algo que eu já temia:
— Lamento dizer, mas ela não parece corresponder ao seu interesse.
Noah, acrescentando ainda mais sinceridade ao momento, também opina:
— Na verdade, ela não parece interessada em conhecer ninguém esta noite.
Em um momento de autoconsciência, percebo que estamos os três focalizando minha garota e discutindo sobre ela. No entanto, ela não lança sequer um olhar na nossa direção, assim como suas amigas também parecem alheias à nossa existência.
— Talvez ela seja apenas lésbica — Noah sugere, estudando a situação com um olhar crítico.
Mesmo diante da incerteza sugerida por meus amigos, mantenho a convicção de que não é o caso. Insisto em minha tentativa de capturar a atenção dela.
— Estou mais do que disposto a apostar que ela vai ceder aos meus encantos — afirmo, determinado, enquanto os olhos da minha amada continuam evitando os meus.
Meus amigos respondem com risadas e desejos de boa sorte quando aviso que vou tentar me aproximar dela. Com um sorriso confiante, inicio meu caminho em direção à mulher que está mexendo com meus sentidos, totalmente decidido a conquistar seu olhar no meio da multidão do bar.
A chegada até o grupo de mulheres se revela mais desafiadora do que eu imaginava, dada a lotação do local. A música alta, risadas e conversas animadas criam um cenário caótico, dificultando minha passagem. No entanto, determinado, esquivo-me entre as pessoas, mantendo o foco em alcançar minha garota em meio à agitação.
Apenas a um passo dela, meu coração acelera com a expectativa do encontro iminente, especialmente ao notar que ela está agora sozinha, suas amigas parecendo ter desaparecido repentinamente. Contudo, meu caminho é abruptamente interrompido por um homem que surge à minha frente, convidando-a para dançar. A garota recusa, mas o homem persiste, oferecendo-lhe uma bebida. Novamente, ela recusa, e a situação se torna mais desconfortável quando o homem se torna inconveniente, segurando seu braço.
Compreendendo a necessidade de intervir quando a jovem pede educadamente que ele solte seu braço, aproximo-me corajosamente:
— Não ouviu a moça? — Pergunto com firmeza — Solte-a.
O homem, visivelmente alterado, responde de maneira desafiadora:
— Vaza daqui, cara! Cheguei primeiro!
Percebo pela fala desconexa que ele bebeu mais do que deveria e decido ser mais incisivo, mentindo descaradamente:
— Acho que não entendeu, mas ela está comigo.
A garota olha para mim, surpresa e agradecida ao mesmo tempo. O homem parece desconcertado por um momento, mas liberta o braço dela.
— Deveria cuidar melhor do que é seu, idiota — Ele diz contrariado e finalmente se afasta.
— Fui xingado, mas você conseguiu se livrar desse sujeito — Digo, e meu sorriso é totalmente sincero.
Minha musa é ainda mais deslumbrante de perto, estou encantado. Espero que minha intervenção tenha sido suficiente para afastar o intruso indesejado e, ao mesmo tempo, criar uma oportunidade para conversar com a mulher que conquistou meu coração naquela noite em Fernando de Noronha.
— Sou Othon — Eu me apresento — E você é…?
Estendo minha mão para a jovem que capturou meu coração, sentindo-o quase falhar diante da hesitação dela em aceitar meu gesto de cortesia. Respiro aliviado quando ela finalmente corresponde.
— Karen — ela diz sem muita convicção.
— Karen — saboreio o nome, que combina perfeitamente com ela, e não resisto a elogiar de maneira honesta: — É um lindo nome.
A expressão em seu rosto denuncia um certo desconforto, e imediatamente me arrependo de ter elogiado o nome dela. Não sou bobo. Sei que muitos homens usam desse subterfúgio para conquistar mulheres, mas fui totalmente sincero. Peço desculpas imediatamente, embora ela me dispense ao dizer simplesmente "muito obrigada", alegando que já está de saída.
Tenho a certeza de que é apenas uma desculpa para não continuar a conversa, pois até eu chegar, ela não parecia prestes a ir embora. No entanto, não me resta outra opção senão me despedir e voltar para meus amigos. Não quero ser mais um a impor minha presença para ela, como fez o outro homem que se aproximou.
— Foi um prazer conhecer você, Karen — Novamente, não estava falando apenas por cortesia.
Lamento que minha aproximação não tenha sido bem recebida, e me volto desanimado, disposto a caminhar em direção dos meus amigos. No entanto, antes que eu possa dar o primeiro passo, ouço meu nome sendo chamado. Surpreso, volto rapidamente para Karen.
A encaro em expectativa, aguardando o que ela tem a dizer.
— Você… aceita uma bebida?
A consternação toma conta de mim diante da oferta inusitada de Karen, porém, tento disfarçar rapidamente. Meu semblante se ilumina com uma surpresa genuína, e por um momento, fico sem palavras.
— Ah, obrigado! — agradeço, aceitando a bebida. — Eu adoraria.
Karen sorri de maneira leve, e durante um instante, trocamos olhares. Uma nova energia parece pairar no ar, e meu coração, que momentos antes estava desanimado, agora bate mais forte com a possibilidade de algo inesperado e intrigante surgir naquela noite.