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Doutor amor me curou

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Sra.Kaya
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Resumo

Desde nova Lorena aprendeu o significado da palavra sofrimento. Criada pelo tio paterno desde o acidente que mudou sua vida para sempre, Lorena cresceu sob a sombra de um lar repleto de mágoas, falta de amor e castigos físicos. Entretanto, a ruiva nunca desistiu de sonhar, apesar de tudo. Mas com inteligência e perseverança, ela acredita que poderá transformar seu futuro se lutar com unhas e dentes. E é isso que ela fará, custe o que custar. Lorena só não sabe ainda as surpresas que a vida colocará em seu caminho: principalmente uma que mede 1.90 de altura e tem um belo par de olhos azuis, chamada David Goular, que balançará suas estruturas e curará seu coração ferido.

romanceRomance doce / Amor fofo Amor mais jovemAmor que cresce com o tempoRomance com homem mais velhoPar perfeitoDecisivo e implacávelInteligência / EstratégiaVingança / Derrotar oponente humilhante

1

Lorena Mafra tinha apenas sete anos quando sua vida mudou para sempre. Era uma tarde de domingo, dessas que parecem se arrastar sem pressa, e o sol do fim do outono brilhava suavemente no céu, pintando as nuvens com tons de dourado e laranja. Seus pais a haviam levado para um passeio no campo, algo que faziam regularmente para escapar da rotina e aproveitar os pequenos momentos em família. Naquele dia, no entanto, o destino decidiu pregar uma peça cruel.

Ela se lembrava com clareza dos risos de sua mãe, do cheiro de grama fresca e da brisa que soprava gentilmente pelos campos abertos. Seu pai dirigia o carro enquanto contava piadas que sempre a faziam rir alto. Aquele era o tipo de felicidade que Lorena acreditava ser eterno, onde o amor e o conforto dos pais a faziam sentir-se segura, como se nada de mal pudesse acontecer.

Mas o acidente veio rápido, violento, como uma tempestade inesperada.

Ela não se lembrava exatamente do momento em que tudo desabou, apenas da súbita e assustadora sensação de o carro girar no asfalto, dos gritos de sua mãe e do barulho ensurdecedor de metal sendo amassado. As memórias eram fragmentadas, pedaços de uma tragédia que ela nunca seria capaz de apagar. O choque contra outro carro. O impacto. Vidros estilhaçando-se ao seu redor, cortando o silêncio com um ruído agudo e desesperador.

O mundo escureceu.

Quando Lorena recobrou a consciência, estava no hospital, cercada por tubos e máquinas que monitoravam sua vida. Seu corpo doía de maneiras que ela não sabia explicar, e a confusão era esmagadora. Mas a dor física logo foi ofuscada pela dor emocional devastadora ao receber a notícia que sua alma não estava preparada para enfrentar.

Seus pais não haviam sobrevivido.

O choque da notícia era tão grande que a pequena Lorena não conseguia entender o que significava exatamente. A morte, para ela, era um conceito distante, uma coisa que acontecia nos filmes ou em histórias tristes que ouvia por acaso. Não algo que poderia atingir sua própria família, arrancando dela as duas pessoas mais importantes de sua vida. Como seria a vida sem a mãe para embalar seu sono? Ou sem o pai para erguer ela nos ombros e mostrar o mundo de um ângulo diferente?

As semanas seguintes foram um borrão de visitas ao hospital, médicos que falavam de suas feridas, e assistentes sociais tentando explicar que ela iria para um abrigo, que não tinha mais ninguém para cuidar dela, pois sua avó estava velha demais e não poderia cuidar dela. A cada nova conversa, a realidade se tornava mais cruel, mais impossível de aceitar. Lorena estava sozinha no mundo.

Uma solidão profunda começou a preencher seu peito, algo que nenhuma criança deveria sentir. O hospital, com suas luzes brancas e odores de remédios, tornou-se uma prisão onde ela vagava entre as sombras de sua própria dor. Todas as noites, chorava até adormecer, desejando que tudo aquilo fosse apenas um pesadelo do qual ela pudesse acordar e encontrar os pais novamente ao seu lado.

A cicatriz física no seu corpo era grande, mas não maior do que a marca invisível que aquele dia deixara em sua alma. Ela teve várias fraturas, hematomas, e uma leve lesão na cabeça, mas os médicos diziam que ela era uma "sobrevivente". Mal sabiam eles o peso dessa palavra. Sobreviver ao acidente era apenas o começo de uma jornada dolorosa, em que Lorena precisaria enfrentar o vazio deixado por sua família.

Meses se passaram desde o acidente, e, aos poucos, as visitas ao hospital foram se tornando menos frequentes, até que ela recebeu alta e foi enviada a um abrigo para órfãos. Sua avó nem se despediu dela. A casa de acolhimento era fria, sem alma, como se cada criança ali estivesse perdida em sua própria tragédia pessoal, e Lorena não era diferente. As cuidadoras faziam o melhor que podiam, mas não conseguiam preencher o vazio que existia dentro dela.

No abrigo, Lorena conheceu outras crianças que também haviam perdido os pais, mas, ao contrário delas, que aos poucos faziam amizades e começavam a se adaptar, ela se retraía cada vez mais. Os dias se passavam lentamente, cheios de um silêncio interno que ecoava sua dor. Ela se recusava a brincar com os outros, a falar sobre o que havia acontecido, ou até mesmo a sorrir.

As lembranças do acidente ainda eram vivas em sua mente, assombrando seus sonhos. À noite, Lorena acordava suada, gritando o nome dos pais, implorando para que voltassem. As cuidadoras corriam para acalmá-la, mas ela sabia que nada podia trazer de volta o que havia perdido. Sua nova realidade era feita de uma solidão esmagadora, algo que nem as palavras mais gentis conseguiam curar.

Havia uma menina no abrigo, Clara, que às vezes tentava se aproximar de Lorena. Clara era falante, cheia de energia, e tinha uma risada que ecoava pelos corredores. Para as outras crianças, ela era uma figura alegre, alguém capaz de iluminar até os dias mais sombrios. Mas Lorena via nela uma lembrança cruel do que tinha sido roubado dela. Como alguém podia rir tão alto, brincar como se a vida fosse cheia de alegria, quando o mundo era, na verdade, tão cruel e devastador?

Apesar da distância que Lorena mantinha de todos, ela não podia evitar ouvir as histórias de Clara sobre uma família adotiva que logo a levaria para casa. Clara sonhava com um novo começo, e falava sobre a casa que a aguardava, o quarto que teria só para ela, os pais que já a amavam. Para Lorena, essas palavras soavam como uma farsa. Ela não conseguia mais acreditar que uma família fosse capaz de amar incondicionalmente, não depois de tudo o que havia acontecido.

Então, em uma noite particularmente fria, Lorena finalmente quebrou seu silêncio. Sentada na cama do abrigo, com as pernas dobradas contra o peito, ela sussurrou para o vazio:

— Por que eu fiquei?

Era a pergunta que ela mais se fazia. Por que ela havia sobrevivido ao acidente, quando tudo ao seu redor foi destruído? Por que o destino a deixou sozinha, sem ninguém para segurar sua mão, sem o calor dos abraços dos pais que agora eram apenas lembranças?

Os meses continuaram a passar, e a vida no abrigo seguiu em seu ritmo monótono. Porém, mesmo com o tempo, a dor não diminuía. Lorena, começava a entender, em sua própria maneira, que a perda de seus pais não era algo que ela poderia esquecer. Era uma cicatriz profunda que carregaria consigo, um peso que moldaria cada passo que desse dali em diante. E foi assim que a solidão se tornou sua única companheira.