Prólogo
A casa vazia, o silêncio reclamando, voando de um canto a outro, um leve sussurro, é ele, talvez, ele não verificou. Ele prefere se servir de um copo de uísque e se ausentar da vida. É uma solidão sem fim que o persegue, que não acaba. Olho para ele, longa e intensamente. É interessante vê-lo deitado na estreiteza, mas ele não é mais um farsante. Aqui ele se mostra sem ajustar o mundo a seu favor, sem mentir.
Mas ele não sabe que o estou observando, então ele não foge, mas permanece ali, desaparecido, abstraído em um ponto fixo da sala.
De repente, lembro-me de sua presença aniquiladora, controladora e majestosa, mas ao mesmo tempo prisioneira da tensão. Seus ombros estão retos, ele parece confiante, com o peito inchado, demonstrando domínio, mas isso se reduz à rigidez, ele é um falo. Sua expressão é dura, seus ombros estão rígidos, talvez uma pontinha de insinuação apareça em seu pescoço, não importa quanto esforço sobre-humano ele faça para escondê-la ou manter a fachada de autoridade. Ele se entrega, sem dizer uma única palavra.
Estou prestes a sair, mas fico mais um minuto. É tempo suficiente para descobrir que meu chefe é apenas uma peça delicada, que busca atenção, a glória que não existe, mas não é culpa dele, ele é um deserto, um espaço estéril que precisa de ajuda. Mas ele não se preocupa em tomar a iniciativa, ele é uma pessoa perturbada, uma pessoa que não tem sentimentos, emoções...
O aviso é urgente, o alarme em minha cabeça disparou. Sei que devo ir embora, suspiro profundamente, sou masoquista, fico.
Quando Silvain se levanta, meu órgão vital bate furiosamente, é adrenalina, nervosismo, não posso deixar que ele me pegue bisbilhotando. Dirijo-me imediatamente para a cozinha em seu sótão e espero por ele, exatamente onde estive depois de sair de seu quarto.
Ele aparece e vejo outra imagem na minha frente, é outra pessoa. Cabeça erguida e queixo para frente, ele exala poder, agressividade. Acho que eu deveria ter ido embora há muito tempo, antes que o cara que está sempre tentando me pressionar voltasse: um Narciso.
Sua voz grossa, grave e profunda, é estranha à cena solene de um momento atrás. Ela transmite ferocidade.
-Por que você não foi para casa?
-Silvain...
-Estou bem, por que eu precisaria de sua ajuda? - ele ruge com raiva.
Ele tem uma cara de pôquer.
Eu só pensei que você estava com problemas, você deveria estar agradecido por eu tê-lo trazido para casa, se eu tivesse deixado você vir nesse estado, quem sabe o que teria acontecido? -Eu o encaro, não tenho muita coragem agora, mas não vou deixar que ele fale comigo desse jeito.
Ele é um idiota!
-Sério? -Ele levanta uma sobrancelha enquanto diminui a distância entre seu corpo e o meu, a separação se torna quase nula. Você quer que eu me curve a você? Saia da minha casa, saia, eu estou bem.
-Você é um idiota.
-Acha que não noto seu interesse por mim? -Ele exige não apenas altivez, mas também orgulho, a vitória cobrindo seus lábios em um leve sorriso. Eu só queria que ele me soltasse logo, ele é um pedaço de merda tão idiota, presunçoso e narcisista.
-Não, você não faz meu tipo. Não me sinto nem um pouco atraída por você", digo com firmeza.
Sinto aqueles dedos longos cravados em minha cintura, a dureza que ele está usando me faz gemer. Será que ele está louco? Não gosto de sua possessividade, seus olhos sempre alertas e atentos aos meus. Fico irritada com o fato de ele fingir ser um animal, além disso, ele não tem o direito de se comportar de maneira tão vil. Eu só queria ajudá-lo; ele estava tão bêbado que me ligou, não sei se foi um engano, mas ele me pediu para ir buscá-lo. Então eu fui. Então eu fui, e agora me arrependo, eu deveria ter ficado na minha cama, assim não estaria lidando com um louco.
-Isso é o que sua boca diz, mas a reação em você é diferente, você me ama, não adianta esconder.
-E quanto a você, Silvain? -Eu contra-ataco, mantendo contato visual, não vou deixá-lo vencer dessa vez, se eu desviar o olhar serei uma vítima, ele vai pensar que estou cedendo à submissão. Hoje eu vi o outro lado de você, aquele que você insiste em enterrar, trancado longe do mundo. Você parece um felino agora, mas... sinto sua necessidade de fingir que é esse leão faminto e não um gatinho indefeso.
Sei que o estou desafiando, e isso o enfurece. Quanto mais eu desafiar esse homem, mais eu não serei apenas sua vítima, mas sua presa.