Capítulo 01
William Bentley
Não deveriam interferir no meu pessoal da forma que nos últimos meses vinha ocorrendo. Não era segredo pra ninguém minhas particularidades. Eu era um dos âncoras do telejornal; modesta parte era por causa de mim que audiência ficava em alta. A partir do momento em que saí da casa do meu pai era pra ter independência e não ser controlado, entretanto, saí de um problema e entrei em outro. Meu assistente pessoal/babá não saia do meu apartamento, como um perseguidor/ditador. David era um capacho contratado para controlar minha vida, contudo, fracassava, nunca deixei de fazer nada devido a ele estar ou não presente.
Após sair do banheiro, encontrei minha companhia da noite anterior, ainda deitada na minha cama nua. Eu tinha que trabalhar e lhe pedi antes de adentrar o banheiro que fosse embora, ainda assim, ela decidiu permanecer no mesmo lugar. Mulheres como ela que se entregavam simplesmente pra tentar tirar vantagens de mim eram frequentes. Sequer precisei me dar o trabalho de abrir a boca, pois o pequeno David chegou invadindo o quarto sem qualquer aviso. A ruiva assustou-se puxando as cobertas para cobrir seu corpo.
— Te espero lá embaixo. — afirmei, tirando o corpo fora. Não queria estar presente caso a ruiva causasse algum problema. Evitei contato visual com ela a todo custo.
Desci pelo elevador e aguardei David no estacionamento. Foi inevitável não cair na gargalhada ao vê-lo. A ruivinha tinha arranhado o rosto dele! Pra alguma coisa ele ainda servia, como por exemplo: Resolver esses assuntos.
— William, ela fez um escândalo! Por que prometeu a ela lhe dar um iate?
Nem lembrava de tal promessa, jamais faria tal loucura por uma mulher. Aproximei-me dele e toquei seu ombro esquerdo, como se fossemos bons "amigos".
— Você sabe que quando estou embriagado, faço promessas exageradas! — disse o óbvio. Enfiei a mão no bolso da calça e lhe dei uns trocados. — Compre um remedinho pra sua carinha, garoto!
Entrei no carro, no banco do passageiro, fingindo não ouvir meu assistente resmungar palavras de baixo calão ao meu respeito. Quando ele pegou no volante do meu carro principal, ainda fiz questão de zombar da sua falta de sorte, em ter uma vidinha medíocre como tinha. Ele não abriu a boca para retrucar, simplesmente fomos o trajeto até a emissora de televisão em silêncio.
Verifiquei na minha agenda digital, meus compromissos para aquele dia e quase surtei, não tinha nada de empolgante, eram somente coisas chatas, como por exemplo: Comparecer em uma festa de caridade. Por que era obrigado a ir em eventos que não queria? Para limpar um pouco minha barra, que era cheia de polêmicas. A última delas tinha sido há quatro meses, quando me flagraram em um motel com uma mulher casada com um cantor famoso. Eu tinha culpa da separação deles? Claro que não! Isso foi ideia dos dois que não souberam lidar com a bosta do casamento entre eles! Porra, eu era homem, não recusaria uma transa com uma mulher bonita, a culpa era dela que quis dar pra mim.
Caminhei pela emissora com David logo atrás de mim, como um lacaio lendo em voz alta alguns dos meus compromissos.
— A reunião com o diretor do jornal vai ser daqui duas horas. Tente não provocar sua colega de trabalho. — aconselhou-me, como se eu fosse ouvi-lo. Era impossível tratá-la com respeito sabendo do nosso passado.
Charlotte e eu tínhamos uma história juntos fora da emissora. Ninguém sabia que nos conhecíamos, muito menos sabiam do nosso envolvimento amoroso. Ela era manipuladora e conseguia arrancar tudo de mim caso quisesse.
— Pare de defender aquela vadia, David!
Todos que estavam ao nosso redor ouviram no momento em que berrei. Não era segredo pra ninguém que aquela mulher e eu tínhamos nossas desavenças. Na frente das câmeras nós respeitávamos, mas por trás delas vivíamos entre a falsidade e a guerra.
— Não sou pago o suficiente pra aguentar isso! — resmungou ele, bufando de ódio.
Quem queria estar naquele emprego de merda era ele. Pra que reclamar? Revirei os olhos, impaciente.
— Por que não pede logo demissão? Eu preferia mil vezes uma assistente feminina!
Ter uma assistente gostosa e sempre entrando e saindo do meu apartamento seria muito delicioso, pensei.
— Não nasci rico como o senhor! Esse emprego é importante pra mim. Saiba que é recíproco, também não gosto de ser seu assistente! — cuspiu grosserias e continuou, ainda insatisfeito. — Não sonhe tão alto porque nosso chefe nunca colocaria uma mulher pra estar do seu lado, sendo o cafajeste que é!
Ele era um desaforado que não tinha medo algum de abrir a boca pra me ofender.
— Isso tudo é inveja? Além de rico, sou um sucesso com as mulheres. Quem sabe garoto, um dia faça muitas plásticas e vire um homem desejável! — desdenhei. Um franguinho como ele jamais cresceria no profissional, ainda mais se dependesse de mim para isso.
Eu havia nascido para ser o sucesso que era, apesar de ter escolhido jornalismo por uma razão egoísta. Não conseguia mais me imaginar trabalhando em outra coisa. Acreditava fielmente ser feliz com a vida que levava de curtição e sem preocupações. Nada e nem ninguém mudaria isso, aquela era a felicidade plena e sucesso na carreira profissional. Gostava de ser invejado e desejado por todas as mulheres do país inteiro.
Logo depois da reunião com o diretor do telejornal, mal consegui me concentrar ao lado daquela mulher quando entramos ao vivo. Ela era uma desgraçada querendo passar a perna em mim, deixou muito claro na reunião. Quando saímos do ar fui embora surtado pro meu apartamento. Larguei David na emissora e peguei o carro. Senti tanta raiva que ultrapassei o farol vermelho duas vezes. No momento que adentrei meu apartamento, procurei alguma coisa pra descontar toda minha fúria.
— Aquela Maldita! — berrei, chutando à mesinha de centro, que caiu no chão. Caminhei até a cozinha, e joguei uma das cadeiras da mesa de jantar na parede. — Cadela, você não vai conseguir o que quer!
Ali parado observando que tinha quebrado a cadeira de madeira. Jurei que Charlotte não conseguiria roubar de mim a promoção que trabalhei tanto para conseguir.
— William Bentley, não nasceu para perder! Eu não vou perder para uma mulherzinha tão insignificante! O novo programa de televisão será meu, nem que para isso eu tenha que ir para o inferno!
Desfiz o nó da gravata, tirando-a em seguida. Passei as mãos pelo rosto nervoso. Tirei os sapatos, indo em direção ao meu quarto. Próximo da cama bagunçada, me veio a visão da noite anterior, e posso afirmar que não fiquei nada contente. Arranquei as cobertas da cama que cheiravam a vadia ruiva e joguei no chão. Infelizmente não era novidade surtos repentinos meus porque precisava pôr pra fora.
David como sempre apareceu em um momento importuno. Gritei para assustá-lo, entretanto, não resultou em nada.
— Vejo que tentou colocar abaixo seu apartamento de novo! — disse ele, colocando as mãos naquele ninho de rato dele, que jamais poderia ser chamado de cabelo.
— Estou tão puto, garoto! Por que veio? Por acaso quer que o jogue pela janela? — perguntei, gesticulando com as mãos na direção da janela. Não, eu não seria capaz de tal ato bárbaro mesmo ele sendo um mala.
— Vou preparar alguma coisa pro senhor comer antes de sairmos pro evento de caridade. E agora nesse exato momento, o que precisa é de um longo banho!
Segui os passos de David com os olhos até ele desaparecer no closet, voltando aparecer com uma das minhas toalhas de banho. Ele era um anão, mas tinha uma força incrível quando necessário, senti-me um boneco de pano sendo conduzido para o banheiro.
— Não pense que vou agradecer! — afirmei, puxando a toalha de banho de sua mão. A expressão de vencedor, me irritou tanto que fechei a porta na cara dele. Se eu era um mal-agradecido? Eu tinha meus motivos e ele era pago para fazer tudo!
Toda a persistência de David, às vezes lembrava-me do meu irmão caçula, Andrew. Eu era um péssimo irmão mais velho, porque ao evitar contato com nosso pai, cortava laços também com ele. E eu não mudaria nunca, o melhor era deixá-lo viver como se fosse filho único.
Livre do meu terno fui para debaixo do chuveiro. Outras lembranças vieram de uma época que tudo era perfeito e eu não sabia que um dia acabaria...
O dia que Andrew veio do hospital para casa com nossa mãe, foi emocionante para todos. Quando pensamos que não poderia ser possível nossa mãe ter outros filhos, um milagre aconteceu. O pequeno milagre tinha bochechas rosadas e usava uma roupinha azul de ursinho. Os médicos disseram que ela nunca mais poderia engravidar porque não conseguiria seguir com a gestação até o fim, mas ela conseguiu após alguns abortos espontâneos.
Eu tinha meus dezesseis anos e vê-lo me fez chorar de alegria porque até que enfim tinha deixado de ser filho único para ter um irmão a quem ensinaria muitas coisas, pelo menos na teoria foi assim que pensei que seria.
— Quer segurar seu irmãozinho? — mamãe perguntou sorrindo. Assenti, dando uma de corajoso, quando na verdade estava morrendo de medo de derrubá-lo sem querer.
Com jeitinho ninei meu irmão nos braços pela primeira vez. A mãozinha dele era tão pequenininha, tocá-la foi uma das coisas mais marcantes da minha vida.
— Andrew, vou te ensinar como conquistar as garotas quando for mais velho. — nossa mãe riu do que falei. — É sério mãe, tenho certeza que com minhas dicas ele vai se dar muito bem com elas!
— Claro que vai! Mas, nada de bebês pra você! — papai disse, pegando meu irmão dos meus braços. — Não quero netos tão cedo, William. Por favor, controle seus hormônios!
É, tínhamos uma relação como uma família normal até tudo se perder e nunca mais voltar. Engoli o choro com as lembranças e continuei meu banho. Esperava que no tal evento de caridade tivesse muita mulher bonita e bastante bebida alcoólica, pois precisava muito perder a consciência.
Depois de algum tempo, lá fomos David e eu para o tal evento. Com certeza, encontraríamos muitos famosos e também alguns anônimos podres de rico, em resumo um bando de desocupados querendo aparecer. Olhei bem para o terno cor de vinho que meu assistente escolheu usar naquela ocasião e, pensei no quanto ele tinha um péssimo gosto.
Os flaches das câmeras foi uma das primeiras coisas que incomodaram meus olhos ao sairmos do carro. Disfarçadamente puxei David para dentro do salão de festas. Minha presença não passou despercebida, algumas pessoas vieram cumprimentar-me. Tocava uma daquelas músicas chatas sem letras. Procurei por um dos garçons e logo peguei minha primeira taça de champanhe da noite.
— Melhor entregar logo o cheque para a senhora de vestido rosa. Seu nome é Clarice, a organizadora da festa.
Concordei, puxando o cheque, do bolso da calça. Uma doação de vinte mil reais. Não era porque eu tinha dinheiro que jogaria fora daquele jeito. O sorriso idiota do meu ditador quase me fez lhe contar o valor que doaria, quase, porque achei melhor não. O imbecil pensou que eu seria bastante generoso. Caminhei em direção a senhora e lhe entreguei o cheque. A partir daquele instante havia perdido o valor, afinal, o que ela queria tinha conseguido, arrancar meu dinheiro!
Quando pensei que mais nenhuma desgraça pudesse me acontecer, vi a perdição entrar pela porta da frente, em um vestido amarelo-claro, muito sensual, deixando à mostra aquele par de seios enormes. Fechei o punho furioso enquanto não tirava meus olhos dela e, de seu acompanhante, o nosso diretor! Charlotte tinha ido longe demais!