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Capítulo 07

༺ Zara Stevens ༻

A conversa com meu pai não foi das melhores, pois ele havia vindo até o meu apartamento para me levar de volta para aquela casa, ou seja, a casa dele. Eu nunca tive nada ali. Depois que a minha mãe morreu, minha madrasta sempre fazia questão de me lembrar que eu era apenas uma bastarda que ela criava por pena! Às vezes, odiava saber que era parente dessa mulher tão ruim.

No entanto, me recusei a voltar com ele. Sou maior de idade e posso muito bem começar a viver a minha vida da maneira que eu sempre quis. Meu pai era um excelente advogado e administrador. Não era tão rico, mas vivia muito bem com suas posses e tinha sua pequena mansão. Lembro que minha mãe sempre reclamava muito por ele trabalhar demais e nunca ter tempo para ficar conosco. Inclusive, no dia do acidente, acabei passando muito mal, e ela teve que me levar às pressas ao hospital. Porém, não contávamos com aquela tragédia horrível.

Tentei apagar da minha memória aquelas lembranças terríveis e dolorosas, pois eram tristes demais. Meu pai me machucou muito com sua frieza. No dia em que eu mais precisava do seu apoio, depois de ter acabado de perder minha mãe, ele simplesmente se isolou e se afastou de mim. Falou umas duas vezes comigo e me deixava sempre aos cuidados da governanta até a minha tia dar em cima dele e ele se casar novamente.

Depois que aquela bruxa tomou conta da casa que pertencia a minha mãe, ela começou a me tratar mal e me colocar nas piores tarefas para conduzir. Tinha se tornado um inferno viver naquele lugar onde já havia sido tão feliz. E se ele pensa que eu voltarei para sua casa, está enganado. Não faço questão de viver perto daquela mulher tóxica e podre novamente.

Ela sempre fez questão de dizer que tudo o que meu pai está construindo é dela e que não tenho direito a nada. Apenas revirei os olhos, pois se meu pai morresse, eu sabia dos meus direitos. Metade era meu por herança da minha mãe. Sei que ele é a única família de sangue que tenho, mas no momento não me encontro preparada para perdoá-lo por me abandonar por tanto tempo e nunca se importar com o meu sofrimento e dor.

Se ele tivesse conversado comigo durante as viagens no passado, talvez eu entenderia o seu lado. No entanto, não é fácil esquecer. Eu sofri a dor do luto sozinha, passei noites de solidão e ainda fui atormentada pela minha tia Madalene, que se mostrou uma pessoa ruim. E o pior de tudo foi ele, que mal se importou comigo e perguntou-me como eu estava.

Depois da morte da minha mãe, há muita mágoa envolvida. Sofri muito e não foi fácil crescer sem amor, tendo que amadurecer rapidamente e me tornar responsável desde cedo. Coloquei as coisas no balcão e fui até a geladeira procurar algo para comer. Felizmente, eu havia feito compras na semana passada. Em seguida, decidi ir para o meu quarto arrumar tudo e, claro, voltei à sala para verificar se a porta do apartamento estava fechada.

Após a faxina e a troca dos lençóis, estou me sentindo ótima! Meu quarto está limpo e, mesmo cansada, fui tomar um banho rápido. Assim que tiver tempo, darei um jeito no meu pequeno apartamento. Ele é minúsculo, mas é meu. Coloquei meu celular para carregar e ativei o despertador para cedo. Decidi dormir, pois o dia havia sido exaustivo.

Na manhã seguinte, parei em uma cafeteria para comer algo. Enquanto comia um dos meus waffles, vi alguém sentar-se em frente a mim. Ao levantar o rosto, percebi que era meu pai de novo. Respirei fundo e o observei enquanto ele falava.

— Você sempre se alimenta de maneira incorreta, não é, Zara? Você acha que sua mãe gostaria de vê-la comendo toda essa porcaria?

— Se minha mãe estivesse viva, tenho certeza de que ela faria pratos deliciosos e os cafés da manhã mais maravilhosos que qualquer um poderia ter como filha, mas ela não está mais aqui, então tenho que me virar com o que existe nesse mundo para comer... — ele me observou seriamente e pediu para a garçonete trazer um copo de cappuccino.

— Filha, você deveria voltar para casa! Lá você tem tudo. Eu sei que não sou rico, mas sempre trabalhei muito para te dar uma vida boa e confortável, Zara.

Quando ele disse aquilo, senti vontade de rir, pois não me lembro nem sequer de um dia da minha vida em que tive uma vida boa depois que ele se casou com a minha tia. Então, respondi sarcasticamente enquanto bebericava meu café.

— Vida boa, Aaron? E onde você estava para afirmar que eu tinha uma vida boa ao lado da sua mulher? Aquela cobra manipuladora e falsa sempre me tratou como um cachorro dentro da sua casa...

— Eu sei que ela não te tratou bem, Zara. Porém, hoje cedo, ela me pediu perdão pelo que fez com você e disse que está arrependida. No fundo, eu não acreditei, mas sei lá, você deveria perdoá-la e voltar para casa. — novamente, Madalene estava o manipulando e ele não percebia. Respondi cheia de sarcasmo.

— É incrível como ela consegue te manipular! Você fica tão cego que não percebe as coisas. Eu não voltarei para aquela casa para ser empregada da sua mulher. Quero que ela vá para o quinto dos infernos... ela é tão ruim que nem sei como pode ser irmã da minha mãe.

— O que é isso, Zara? Por que você está falando dessa maneira? Você esqueceu que ela é irmã da sua mãe? Por que você acha que ela não vai te tratar como uma filha se lhe der uma segunda chance? — revirei os olhos com aquele comentário sem sentido.

Meu pai continuava burro e cego até hoje. Não sei o que ele viu nessa mulher tão vulgar e nojenta.

— Me tratar como filha? A única coisa que a sua mulher soube fazer comigo foi me tratar como uma verdadeira lacaia. Lavar suas roupas finas na mão, limpar aquela maldita sala enorme e os quartos. Sem falar que eu tinha que varrer todas as folhagens daquele imenso jardim. Você acha que eu tive uma vida boa, pai? Pois acredite, eu não tive. E não voltarei para aquela casa para servir de empregada para ela. Eu odeio Madelene com todas as minhas forças...

— Ela me disse que você falaria tudo isso dela! Porque está sendo influenciada por essa sua amiga Pietra, mas você voltará para casa, sim, Zara... — assim que terminei de comer meu lanche, chamei a garçonete, pedindo a conta e mostrei minhas mãos calejadas de calos e desgastadas pelo sabão.

Fazia pouco tempo que estava me recuperando após passar por vários meses e anos de sofrimento.

— Veja de novo com os seus próprios olhos como estão as minhas mãos, cheias de calos de tanto servir de escrava para aquela bruxa velha! Você pensa que estou brincando, certo? Pois bem, tenho como provar que a tia Madalene não era essa doce de pessoa que ela mostra ser para você. Aqui está o meu celular, veja. A Pietra, quando ia lá conversar comigo em casa, ela gravava alguns vídeos. Talvez isso te convença de que essa mulher não passa de uma cobra.

Entreguei o celular para que ele pudesse ver o vídeo em que Madelene me obrigava a lavar suas roupas. Parecia chocado com a revelação e mostrei também outro vídeo, em que ela e a filha me destratava no quintal. Pietra tomava muito cuidado ao gravar, usando uma câmera escondida como broche na roupa. Quando o vídeo terminou, disse, levantando-me.

— Você acredita que estou mentindo? Acha que é uma montagem? Eu não tenho motivos para inventar histórias, meu pai! O senhor vai me desculpar, mas não volto para aquela casa com aquela mulher. Consegui meu cantinho, estudei escondido, ganhei dinheiro e abri uma conta para ter o que é meu, já que vivia com uma verdadeira miserável sem pais.

— Eu não sabia disso! Sempre deixei dinheiro para Madelene para suas despesas pessoais. Nunca fui a favor de você fazer faculdade, pois tinha outras pretensões para você. Queria que casasse com o filho de um nobre que está crescendo muito na indústria dos negócios. Te prometi a ele quando vocês ainda eram crianças. Eu e o pai dele, fizermos um acordo.

— Eu sabia que tinha algo por trás! Aposto que me vendeu a esse homem também! Sempre são negócios envolvendo dinheiro, não é? Saiba que não vou me casar com um homem desconhecido. Se vire! E para aquela casa, eu não volto mais. — meu pai balançou a cabeça negativamente e respondeu sério.

— Você precisa se casar com o filho desse homem, Zara! Se eu descumprir o acordo que fizemos, ele mandará me matar. É isso que você quer, ficar sem pai também?

— Já vivi a vida toda sem um! Por que o senhor pensa que vou me preocupar se isso acontecer agora? Só aprendi a ser fria e egoísta, pensando só em mim mesmo. — não gostava da maneira como estava agindo, mas não deixaria meu pai destruir minha vida novamente.

Ele não deveria ter voltado do exterior para se meter na minha vida.

— Acredito que você só esteja falando isso da boca para fora. Sabe que sou seu pai e sua única família, filha...

— A minha única família era minha mãe, pois era com ela que eu passava os melhores dias da minha vida. Mas o destino foi cruel, infelizmente, e levou-a tão cedo, deixando-me sozinha neste mundo nas mãos de pessoas que não me amam. Preciso ir trabalhar, deixe-me viver minha vida. Você deveria ter continuado no exterior e esquecido que tem uma filha, assim como eu esqueci que tinha um pai quando ele me abandonou há 13 anos atrás.

Olhei friamente para ele e percebi que minhas palavras o atingiram como um soco na cara, mas não me importei. Enquanto eu me lembrar de tudo que passei nas mãos daquela víbora da minha tia, por culpa dele, não vou perdoá-lo e não quero ele na minha nova vida. Já havia aceitado que ele não queria fazer parte do que sou, então não iria implorar pelo seu amor nunca mais.

Sim, era doloroso demais lembrar tudo o que passei e o abandono paterno. Muitas noites me peguei chorando pela falta da minha mãe, pois ela foi a única que me deu amor nessa vida. Meu pai me excluiu da vida dele, e há muito tempo estou fazendo o mesmo. Não vou me casar com alguém que nem conheço e muito menos ajudá-lo, porque agora ele decidiu que precisa de mim. Não mandei ele fazer esse acordo, e não vou unir minha vida a uma pessoa que não conheço.

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