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Uma semana antes...

Vénus Dovin

Entro no corredor da minha faculdade e parece que o tempo para, vários rostos se viram em minha direção, com olhares julgadores, sorrisos maldosos.

Baixo minha cabeça tentando evitar encarar os olhares em minha direção.

O que está acontecendo?

__Olha a puta passando, cara de santa mas não passa de uma puta como a mãe- ouço alguém dizer é várias gargalhadas explodem ao meu redor.

Meus olhos marejam, mas faço esforço para engolir a bola em minha garganta me impedindo de chorar. Continuo meu caminho ouvindo comentários ainda mais maldosos.

Quando chego na porta da minha sala vejo o porquê de tantos comentários. Na porta da sala tem uma foto bem grande de mim nua.

Lágrimas descem pelo meu rosto de raiva, humilhação, dor, vergonha e muito mais.

O que eu fiz para merecer isso?

Arranco a foto da porta ouvindo risos atrás de mim, entro na sala e me sento no meu lugar de sempre.

Minha vontade é de voltar para casa e me jogar na minha cama. E se tiver coragem acabar com a minha vida para não ter que olhar para esses rostos novamente.

Mas sei que se voltar para casa mamãe não vai gostar e estarei sendo fraca.

Nunca fujo das coisas, mesmo que eu vá morrer no processo.

Assisto todas as aulas ignorando os comentários em minha direção, fingindo que não é comigo.

Quando o sino toca na última aula, dou graças às asas e espero todos saírem.

Me levanto arrumando meus materiais pronta para ir embora.

__Senhorita Dovin- olho para a porta de onde vem o chamado e suspiro totalmente esgotada__Me acompanhe até a directoria.

Não digo nada e simplesmente sigo a directora até sua sala, meus olhos marejam novamente quando vejo fotos minhas coladas pelos corredores da faculdade.

Entro na sala da directora e sento na cadeira que ela me indica.

A velha senta e me encara por um tempo até que abre sua gaveta e tira um papel estendendo em minha direção.

Pego o papel e vejo minha foto nua porém ao lado há algo escrito.

50 por noite.

Uma lágrima desce pelo meu rosto e a limpo imediatamente encarando a directora. Ela deve punir quem fez isso, mesmo eu sabendo quem foi.

A merda do seu filho.

__Senhorita Dovin, aqui é um lugar de aprendizado e não um lugar angariar mais clientes.

O..o que ela acabou de dizer?

__O que a senhora está insinuando?- pergunto tentando controlar minha raiva.

__Não estou insinuando, estou afirmando. Aqui não é lugar para divulgar uma profissão tão baixa e ainda por cima espalhar por toda a instalação.

Me levanto esmagando o papel em minha mão e jogo em sua direção  batendo em seu rosto.

__A senhora é tão burra ao ponto de não perceber que armaram isso tudo para mim, a senhora é tão cega ao ponto de não perceber o que eu passei todos esses meses nessa merda de faculdade. Que tipo de directora é a senhora?

__Se não está feliz com o tratamento em minha instituição sugiro que procure outro lugar- diz se levantando me encarando com superioridade.

Respiro fundo várias vezes tentando engolir toda essa humilhação.

Eu aguento isso, eu sou forte.

Sorrio para ela e limpo as lágrimas que fugiram dos meus olhos. Dou a volta a sua mesa ficando de frente para ela e sem me conter bato em seu rosto com toda a minha força, seguro a parte de trás do seu pescoço e bato sua cabeça em sua mesa.

Com seu corpo tonto e fraco a faço sentar em sua cadeira a virando em minha direção. Vejo medo em seu olhar, a coitada nem conseguiu gritar.

Sorrio para ela observando seu rosto se banhar do sangue que está saindo de uma abertura em sua testa.

__Lembre-se bem do meu rosto, do meu nome e do que irei dizer agora. Eu Vénus Dovin juro nunca descansar até ver você, o merda do seu filho e toda a maldita faculdade que se ajoelha aos vossos pés, se ajoelhar aos meus pés, pedindo, implorando para não acabar com a vida mesquinha de vocês.

Passo meu dedo pela sua bochecha levando seu sangue e o chupo olhando para ela vendo o espanto e medo.

Um juramento de sangue. 

Me afasto dela e pego minha mochila caminhando até à porta, saio daquela sala e da faculdade sem olhar para trás.

Cansei de ser contida, de ser calma, cansei de usar a educação que minha mãe me deu, cansei dessa maldita cidade.

Sempre crecí sendo mal encarada, vendo as crianças fugindo de mim, por não aceitarem minha mãe e a mim.

Primeiro por ela ser negra, segundo por ela ser mãe solteira, terceiro por ela ser uma exilada de Vod.

Todos temem os Vod, o povo mais poderoso do universo e minha mãe foi expulsa desse povo e isso fez com que todos nos tratassem super mal.

Eles dizem que mamãe dormia com os inimigos de Vod e o Rei descobriu a expulsando de la. E mamãe só tinha quinze anos.

Mamãe quis me proteger desde sempre, a partir do momento que ela viu a forma que as outras crianças me tratavam ela decidiu me educar em casa.

Contratou alguns professores que me ensinavam e isso foi até eu completar dezanove anos e querer ser uma garota normal.

Implorei mamãe que me deixasse entrar na única faculdade da cidade, fiz de tudo para ela aceitar e assim ela o fez.

Eu só não imaginava o que me esperava ao pisar naquela maldita faculdade.

Entro em casa completamente nervosa batendo a porta com força.

__Quer quebrar a porta Vénus?- pergunta brava saindo da cozinha, assim que ela me vê sua expressão muda__O que aconteceu?

__O QUE ACONTECEU?, ACONTECEU QUE EU ESTOU CANSADA DESSA VIDA DE MERDA, ESTOU CANSADA DESSA CIDADE, DA FACULDADE. ESTOU CANSADA DE VIVER MÃE, EU ODEIO MINHA VIDA.

__Vénus se acalme e conte o que aconteceu?. Alguém te machucou?, fizeram algo?

__Me machucaram a muito tempo mãe e tenho a certeza que se eu tivesse um pai, se eu tivesse alguém para me defender nada disso teria acontecido.

Digo e subo as escadas correndo até meu quarto e me trancando nele.

Sem nenhuma vontade de sair dele nos próximos meses.

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