Capítulo 7 - Quinze Anos Depois
CAPÍTULO 7
Quinze Anos Depois
Leo - Eu não acredito Louise, que tu vais me deixar na mão - ele diz muito surpreso.
Louise - Senhor Leonardo, não é que eu queira, mas o meu marido vai mudar de posto, e a especialidade dele só há lá na empresa em Miami, que posso eu fazer? Tenho que ir com ele, né? - ela fala o óbvio.
Leo - Não, não tens Louise, divorcia-te e eu arranjo um bom acordo - ele diz sorrindo.
Louise olha para o seu chefe, fazendo uma careta engraçada.
Louise - O que vale, é que eu sei que você está brincando - ela diz juntando os papéis na sua mesa - e trate de arranjar uma secretária que faça como eu, arrume essa bagunça que é a sua mesa ou então aprenda você a arrumá-la. Eu não entendo como consegue achar alguma coisa aqui - ela fala curiosa.
Leo encolhe os ombros.
Leo - Nunca fui muito organizado.
Louise - Nunca foi porque nunca tratou de arranjar uma esposa, uma boa esposa ajudava você a organizar-se rapidinho.
Leo - Credo Louise, sai pra lá com esse agoiro.
Louise saiu da sala de Leo abanando a cabeça.
Leo chegou-se para trás no seu cadeirão de cor preta confortável, olhou em redor na sua sala. Era bonita e tinha uma vista de cortar a respiração, no alto do seu 55°andar, um lado da parede era toda uma grande janela, com vista para o emblemático Central Park.
Era advogado, um ótimo advogado.
A "Baker and Hill Lawyers" era o seu orgulho.
Quando foi trabalhar para a firma de advogados, tinha acabado a universidade há seis meses, era um novato no mundo profissional.
Scott Baker era o dono da firma, naquela altura tinha à volta de seis advogados apenas, a trabalhar para ele.
Três anos depois, a firma passou por um período muito ruim, e Scott informou que teria que fechar portas, os clientes cada vez eram mais escassos, muito por culpa de outra firma que tinha aberto recentemente dois andares acima.
Naquela época, estavam situados num pequeno prédio nos arredores de Manhattan, e ocupavam um piso apenas.
Leo decidiu arriscar e foi falar com Scott.
Scott era apenas cinco anos mais velho que Leo, tinha herdado a pequena firma, quando o pai faleceu inesperadamente num acidente de viação.
Depois de perceber que o problema da firma era a falta de meios para se colocar em alta no mercado, Léo fez uma proposta ousada a Scott.
Investia na propaganda da firma em todos os meios tecnológicos, a pequena firma de advogados precisava urgentemente de se mostrar ao mundo, e nada como a tecnologia avançada para o fazer, e dinheiro, claro.
Leo assumiria os riscos, se por acaso a firma não subisse de patamar nos próximos seis meses ele perderia o seu dinheiro e Scott podia então fechar as portas, mas se a empresa começasse a sair do buraco que estava, e a subir os seus rendimentos, Léo tornava-se sócio de Scott.
E foi assim que o sucesso começou, e sete meses depois a firma estava a ser inaugurada, agora neste novo edifício com o nome de "Baker and Hill Lawyers", com 14 advogados distribuídos em dois pisos, agora, sete anos depois, eram 25 advogados e tinham cinco pisos.
Eram a melhor firma de advogados de Manhattan e eram conhecidos em todo o país pela sua excelência e profissionalismo. Rara eram as vezes que perdiam uma causa. Os clientes da firma eram só pessoas de muito poder, muito dinheiro, com muito prestígio.
Foi nessa altura, que Louise veio trabalhar como sua secretária, com ótimas referências. Ao longo dos anos, Louise conhecia muito bem toda a rotina de Leo, e quando ela hoje de manhã o informou que tinha que se despedir porque ia para Miami, ele nem quis acreditar.
Não ia conseguir arranjar uma secretária como Louise e agora sentia-se perdido.
Leo - Merda - disse ao levantar-se do seu cadeirão e dirigir-se para a grande janela.
Lá fora, o frio começava a mostrar-se, brevemente a neve, o frio e a chuva chegariam.
Resmungão e Cabeça Dura
Eram 18h00 em ponto, quando Louise bateu na porta de Leo para avisar que estava na hora dela.
Louise - Veja se não fica aí noite dentro, tem que descansar, amanhã tem uma audiência importante.
Leo levantou o seu olhar para ela, visivelmente cansado.
Leo - Estou justamente a planejá-la, este julgamento vai ser difícil - ele diz passando a mão pelos cabelos.
Louise - Pois vai, por isso mesmo tem que descansar para estar no seu melhor - ela diz com olhar preocupado.
Leo - O que eu vou fazer sem ti Louise?
Louise - É, vai ser difícil mesmo, com esse feitio porreta que tem - ela diz rindo - mas sei que vai ter uma secretária à sua altura, é só deixar de ser tão resmungão e cabeça dura.
Leo - Vou arranjar uma secretária que não seja tão descarada como tu Louise! Onde já se viu, falar assim com o chefe!
Riram ambos e despediram-se.
Louise ficaria apenas mais duas semanas, depois iria embora, e Leo não sabia como iria sequer arranjar tempo para ensinar uma nova secretária , e com a competência da Louise, ia ser mesmo impossível.
Pesadelos
Leo saiu da firma eram 19h00, iria para casa descansar, sentia-se cansado e a sua cabeça doía um pouco.
Pensar no que vinha por aí, deixava-o muito estressado, os muitos julgamentos que tinha, em que a Louise era a ajuda perfeita, além de tudo o que ele estava habituado. Louise foi a sua primeira e única secretária, ele cresceu profissionalmente com ela, ela todas as manhãs chegava mais cedo para organizar aquela secretária dele, que tal como ela dizia, era uma bagunça mesmo, mas por incrível que parecesse, ele achava sempre tudo o que precisava nela, mas mesmo quando ela a arrumava, ele sabia bem onde achar todos os documentos, ela deixava tudo alinhado, tudo por ordem alfabética, então era fácil achar.
Levava café para ele na sua sala, por vezes trazia um lanchinho, porque sabia que ele por vezes estava tão embrenhado no trabalho, que nem se lembrava de comer.
Leo sabia bem que estava mal habituado, mas que podia fazer? Foi Louise que o habituou e agora ia embora deixando ele cheio de manias.
Tanto ela como ele estavam habituados aos métodos de trabalho um do outro, e agora ele via-se completamente perdido. Nunca na vida iria encontrar uma profissional assim, e só de pensar que toda a organização e profissionalismo de Louise ia embora com ela, doía-lhe ainda mais a cabeça.
Chegou a casa, uma penthouse situada no Park Avenue num altíssimo 71°andar.
Subiu ao andar de cima, despiu-se, tomou um banho, vestiu o seu pijama de cor cinza e desceu para fazer uma torrada e um chá, tomou um comprimido decidido a deitar-se logo de seguida.
O seu sono era agitado, como tem sido ao longo dos anos, tinha recorrentemente pesadelos, muitas das vezes com aquela família maldita, os Carter. Nos seus sonhos, via todos eles a apontarem os seus dedos e a rirem-se dele, via Evy a dançar linda e glamorosa, mas logo a seguir olhava para ele com desdém, e dizia que ele era um parvo, por ter acreditado que ela algum dia fugiria com ele. Em outros sonhos ela chorava lá longe, ele chamava-a mas ela não o ouvia e continuava a chorar, ele via ela sentada numa poça de sangue, e com algum entre as suas mãos e ele corria, mas quanto mais ele corria para chegar perto dela mais a imagem dela ficava mais longe, se afastando sempre dele.
Leo acordava suado, cansado, estressado e furioso por aquela gente continuar a povoar o seu pensamento e os seus sonhos
Malditos Carter, pensava ele.