Recuperação
Quando se é jovem, a gente só pensa em viver o presente, e achamos que o futuro ainda está distante.
Mas o futuro já é amanhã, ou daqui a um minuto.
Um dia você acorda, e você conhece alguém, e você pensa que esse alguém é um presente, que a vida trouxe pra você, pra que você possa começar a pensar no futuro.
Então presente e futuro começam a andar de mãos dadas, e isso significa que o que você faz no presente, reflete inteiramente no seu futuro.
Quando eu conheci o Rodrigo, eu já pensava no futuro.
Eu era uma jovem diferente das pessoas que tinham a minha mesma idade.
Eu já sonhava em terminar a minha faculdade, em exercer a medicina com excelência, em ter uma bela casa, um marido amoroso, fiel, companheiro e compreensível, e mais adiante teria filhos, tudo parecia estar em perfeita ordem na minha cabeça.
O Rodrigo chegou, e parecia ter os mesmos sonhos que os meus, nossas metas eram parecidas, tínhamos ideias que se encaixavam perfeitamente, e ele era o tipo de homem que eu idealizada viver uma vida, com todas as qualidades que sempre esperei de um homem.
Ele conseguiu ser assim por dois anos, e esses dois anos, apesar da correria que é as nossas vidas, foram os melhores que já vivi.
Até que um dia, tudo foi por água abaixo.
O encanto acabou, os planos e sonhos que antes eu imaginava viver ao lado dele, foram destituídos, por uma única atitude que ele teve no presente, que destruiu todo o nosso futuro juntos.
Eu digo juntos, porquê apesar de eu sentir que nada mais tinha sentido, que a minha vida tinha acabado, eu percebi muito rápido que o " Juntos " foi quem morreu, mas "Eu", mesmo sozinha, continuava inteira.
Eu tentei me lembrar de quem eu era antes do Rodrigo, e vi que os sonhos ainda existiam, as metas ainda estavam intactas e que eu ainda tinha uma vida, e tudo dependia exclusivamente de mim, e que o Rodrigo foi só um erro do destino, e que eu mesma estava tratando de consertar.
Depois que descobri a traição dele, com aquela vagabunda da Yanka, eu me fechei literalmente pro mundo, e pra qualquer pessoa que quis se aproximar.
Eu pedi pros meus pais voltarem pro interior, pois eu queria ficar sozinha, sentindo pena de mim mesma, e passei o resto das minhas férias, na cama, chorando e quase entrando em uma grande depressão.
Voltar pro trabalho e estudar foi um verdadeiro sacrifício, eu vivi de forma automática, todo o meu brilho havia sumido, eu não ria, não interagia, apenas fazia o meu trabalho e me obrigava a estudar mesmo sem vontade pra não ferrar de vez com o meu futuro.
A Rayssa tinha medo de me deixar sozinha, e eu tentar fazer uma besteira comigo, e por mais que eu pedisse pra ela ir embora e me deixasse só, ela não me deixou, ela ficou cada minuto do meu luto, enxugando as minhas lágrimas, aguentando a minha acidez e brutalidade, pois ela sabia que eu não estava com raiva dela, e sim do Rodrigo, apesar dela se sentir culpada por ter me apresentado ele, mas ela não tem culpa, ninguém podia imaginar que ele fosse capaz de fazer algo assim comigo.
Eu depositei toda a minha confiança no Rodrigo, e o admirava, eu o achava um homem íntegro e de caráter, então me recuperar dessa apunhalada, foi difícil e muito trabalhoso.
Com um mês, eu achei que iria morrer, com dois, eu ainda estava muito ferida, mas a sensação de morte já havia passado, e já fazem três meses, e hoje penso que não estou curada totalmente, mas vou sobreviver.
Eu sempre ouvi dizer que quando uma coisa muito ruim acontece, é porquê uma coisa muito boa está chegando, e antes eu não acreditava muito nisso, até o Diego chegar e me provar que isso é verdade.
Durante esses três meses, ele me mandou mensagens todos os dias, e a Rayssa pegou o número dele escondido no meu celular e começou a conversar com ele sobre como eu estava, e ainda passou o meu endereço pra ele.
Ele não veio aqui, respeitou totalmente o meu espaço, não forçou nada, ele apenas me mostrou que estava do meu lado, que eu podia contar com ele caso eu precisasse.
Ele me envia flores e chocolates toda semana, me manda vídeos engraçados pra me fazer rir, e eu percebi que ele era a coisa boa que estava chegando na minha vida, pra me fazer lembrar que eu não podia generalizar o caráter das pessoas.
Eu não queria saber de ter outro relacionamento, eu não queria saber de ter um outro amor, nem queria ter que me magoar novamente.
E deixei isso muito claro pro Diego, e ele disse que também não, mas que queria ser meu amigo, pois ele também estava se curando de um relacionamento antes da Yanka, e que ele achou que a Yanka fosse a cura dele, mas não foi, e que talvez a cura fosse eu, com todo o meu jeitinho doce, e que ele seria o meu amigo, e quando ambos estivéssemos prontos, poderíamos ver o que acontece.
E isso foi mais do que suficiente pra me fazer querer conhecer mais sobre o Diego.
Durante esses três meses, o Rodrigo me ligou sem parar, todos os dias eram umas 15 ligações só dele, eu não o atendia, fui firme e fui forte na decisão de não dar uma segunda chance, por mais que ele enchesse o meu celular de mensagens pedindo perdão e querendo voltar, eu continuava o ignorando.
Até que um dia desses, eu resolvi o atender, eu nem o deixava falar, eu passei a jogar na cara dele todas as minhas frustrações e decepções, eu queria que as minhas palavras o ferissem, eu achava que assim, poderia me livrar da dor.
Eu nunca dava chances pra ele se explicar, sempre era eu que falava, e quando eu terminava de falar, eu desligava.
Agora ele liga, e eu atendo apenas pra dizer pra ele parar de ligar, já não faz mais sentido pra mim, falar com ele sobre o que aconteceu, pois isso já está se tornando passado pra mim, então acho que ele sentiu que eu não estava mais nem aí pra ele e resolveu vim no meu apartamento, quer dizer, no meu prédio, pois eu já havia proibido a entrada dele aqui.
Agora acho que estou pronta pra sair do meu casulo, pronta pra me permitir viver novamente, pronta pra me dar uma nova chance, pronta pra deixar o Diego entrar inteiramente na minha vida, é claro como um bom amigo, mas sem descartar a possibilidade de viver um novo amor.