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Cap 3

Pode até ser exagero da minha parte, mas era assim que eu me sentia, como se estivesse vivendo dentro de uma casca, aonde, por fora eu, aparentemente, estava bem, mesmo que por vezes eu ficasse bem parecido com o meu ser interior, ou seja, parecia que estava caindo em um abismo

Aquilo tinha sido a minha decisão e parecia ser a certa, a decisão perfeita para nossa vida, mas daí, eu descubro que fui só mais um peão no tabuleiro de xadrez de outra pessoa, no caso, eu estava sendo só mais uma peça no tabuleiro da Gisele. Aquela decisão, na verdade, era dela. Eu vivi o que ela não queria, e ela não desejava o amor. Ela queria segurança, queria conforto. Ela queria viver uma em que ela pudesse desfrutar tudo do bom e do melhor sem ter que se preocupar com algumas ameaças ou sem ter que se preocupar até mesmo, com seu marido

Como eu fui idiota, só eu mesmo que não vi as intenções daquela mulher escolhi, por love e espontânea vontade, fazer papel de palhaço, porque a Gisele só queria viver uma vida com status

Na cabeça dela, era isso que se fazia um super herói, a parte de que as pessoas ficavam agradecendo depois de homens com roupas especiais e arrombavam as suas portas e salvavam as mocinhas, foram as partes que mais ficaram gravadas na sua mente caprichosa, pois é, resumindo, a parte que todo mundo venerava esse povo vestido com essas roupas diferentes

Ela queria, isso ser venerada, a coisa de ter um amor para chamar de seu, na sua cabeça, era uma coisa de segundo plano e eu descobri da pior forma

Mas com tempo, eu acabei aceitando, sabe, que a minha melhor escolha foi viver a minha vida e trabalhar para ser esse super-herói, mas para as outras pessoas, aquelas que realmente precisavam, eu me encontrei sendo delegado, eu me vi descobrindo coisas que tiram sorrisos das bocas das pessoas, que mudam a vida dessas mesmas pessoas que trazem conforto e alívio para elas. Eu me senti mesmo super herói

Não fazia mais que a minha obrigação, lógico, mas aquela minha obrigação mudava a vida das outras pessoas. Então eu acabei me afundando cada vez em mais serviço, meu amigo Fernando mesmo, nossa, ele sempre me encheu o saco, falava que eu não tinha a mínima necessidade de me entregar daquele jeito, de fazer o meu serviço daquela maneira, se importando tanto com as pessoas que vinham me implorar por ajuda, que vinham me pedir, pelo amor de Deus, que encontrasse seus filhos ou até que cuidassem deles dentro da delegacia. Ele sempre me disse que eu não precisava morrer de tanto trabalhar, que eu podia me divertir também, fazer as duas coisas ao mesmo tempo, pelo menos, era isso que ele fazia isso

Cara, o Fernando era aquele meu amigo de fé e irmão camarada. A gente se conheceu antes da faculdade de Direito, acho que nem me lembro muito bem como nós nos conhecemos, só sei que aquele sim soube fazer diferença na minha vida, parecia que a gente era amigo de infância, aquele amigo que o Gustavo deveria ter sido para mim, o Fernando ocupou esse espaço, ele era mesmo um amigo irmão

Quantas vezes eu liguei para ele no meio da madrugada, no meio da minha fossa, bêbado, acabado, chorando e gritando o nome da Gisele, e ele estava lá, me chamando de retardado, de idiota, me dizendo que eu devia acordar para vida, que ela era só mais uma mulher dentre tantas outras na face da terra. Que ele estava fazendo a classe dos homens passar vergonha e que eu tinha que levar uma surra por estar sofrendo por mulher,

Esse sim foi e é meu verdadeiro amigo. Ele tentou me ajudar, mas eu fiquei lá por muito tempo ainda, até quando eu achei que tinha me recuperado, eu ainda estava mal, às vezes, a lembrança da Gisele aparecia na minha mente e meu dia acabava, não tinha como. Acabava mesmo, sabe aquela coisa de ficar perseguindo ex nas redes sociais? Pois é, eu achei que eu nunca chegaria num nível tão baixo assim, mas cheguei, de vez em quando, abria as minhas redes sociais e ficava lá, curtindo a felicidade da Gisele de longe, xingando ela a torto e a direito e amaldiçoando a vida que ela tinha escolhido junto do Gustavo, aquela maldita estava feliz enquanto eu me fazia de morto vivo

Ela estava muito feliz viajando, uma vez o outra para Europa, curtindo a vida adoidado, desfrutando do melhor de todos os lugares que passava com aquele nariz empinado, sendo a mulher do Procurador

Ele sim estava sabendo ser o super herói dela, eu escutava os boatos, as pessoas sempre vinham me dizer o tamanho do sorriso que ela abria todas as vezes que o imbecil do Gustavo aparecia, de surpresa, em qualquer lugar que ela se dignasse a estar, fora que o sorriso aumentava quando aquelas pessoas que mal conseguiam se mexer nas roupas de marca chegavam até ela para cumprimentá-la

Eu sabia das coisas tudo na base de ouvir falar mesmo, lógico, porque nesse caso, eu dependia de fofoca mesmo. Eu nunca me trombei com ela no meio de alguma confraternização, mas o cara era procurador, né? Não tinha como não ter uma legião de baba ovos atrás dele

Oito meses... Já faziam 8 meses... E eu ainda ficava procurando sentido para minha vida, foi por isso que comecei a prestar mais atenção nos meus casos, a dar tudo de mim para aqueles casos, sabe?

Naquela semana mesmo, tinha chegado um que, no início, eu não vi muita importância, mas depois... depois que aquele noia foi preso... Eu nem sabia o nome direito, mas comecei a perceber

Um caso jogado na minha mesa, uma coisa tão banal assim, que girava em torno de uma distribuiçãozinha de drogas na esquina de uma escola, de alguns pinos de cocaína, coisa de só mais um caso de tráfico de drogas

Mas depois que as coisas foram aparecendo...

Talvez aquela rota fosse mais importante do que eu imaginava, quem sabe não é, mas eu ia descobrir

Eu estava pronto para descobrir

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