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Capítulo 4

-O quê?- Esse nome é impronunciável e o pior é que eu já sei o que é.

Ele sorri para mim e balança a cabeça. Ele começa com a combinação e quando ele agarra meu pulso, então ele se vira invadindo meu espaço pessoal, se ajoelhando me arrastando em suas costas me fazendo cair em uma cambalhota. A partir daqui, ele pega meu braço e faz um armlock colocando uma perna sob meu queixo e empurra sua pélvis para cima para aplicar pressão. Quando bato no tatame duas vezes, ele me solta.

"Sempre odiei essa jogada, nunca consigo acertar", disse ele. Ele me ensinou como fazer isso anos atrás, mas ainda assim foi um fracasso total.

-Olha, eu também não sabia fazer quando era criança- Ele me dá a mão e me faz levantar junto com ele. -Prática é tudo-

"Não comece a ser uma aberração" Eu dou a ele um olhar sujo e vou me vestir para a peça que as crianças vão assistir em breve.

-Pelo menos você tem um irmão para quem pode ligar quando precisar matar alguém-

-Sua proposta me agrada, vou pensar a respeito- Sorrio para ele e entro na sala.

A primeira coisa que faço é um banho quente. Nunca gostei de água quente, muito menos de água quente. Não consigo entender como as pessoas fazem isso, é como se isso me deixasse nervoso... Eu sei que sou estranho, mas ei, quem não é?

Eu visto um terninho e blazer com uma camiseta branca macia por dentro e escolho cano alto em rosa brilhante.

Combino com o colar curtinho de pedras da mesma cor e prendo o cabelo em um coque baixo na lateral. Pego minha bolsa e vou até a cozinha onde vejo Bædrian comendo alguma coisa, é sempre a mesma coisa.

-Estou saindo, se você sair pegue as chaves porque não sei se te espero esta noite ou se adormeço- Ele levanta o polegar em resposta e eu saio de casa para entrar no meu mini creme.

A viagem dura cerca de cinco minutos e vejo uma multidão pronta para entrar. Reconheço meus filhos cumprimentando-me e dedico-lhes um sorriso terno.

Todos os anos a escola neste período organiza uma peça de teatro para as crianças e este ano o tema é -Fábulas-.

Os professores se divertiram muito junto com as crianças para preparar o que era necessário. Eles terão que representar a típica história de um príncipe encantado que salva uma camponesa e depois se apaixona por ela.

O trabalho final foi um sucesso e todos fizeram a sua parte com excelência. Estou orgulhoso deles e não nego que fiquei empolgado em vê-los nessa posição.

Paro um momento na minha sala de aula para pegar uma pasta que deixei na gaveta esta manhã e, quando a encontro, Noha aparece na porta.

-Professora, você gosta de mim?- Vê-lo vestido com leggings azuis é realmente adorável. Seus olhos azuis brilham e com seu cabelo loiro ele é apenas o príncipe perfeito.

-Você foi incrível querida-

Eu baguncei seu cabelo e ele se aproximou e abraçou minhas pernas.

-Noha cadê você temos que ir- A voz que vem do corredor me faz pular.

É uma voz masculina forte e clara e logo a única pessoa que eu nunca pensei que veria aqui aparece pela porta.

-Aqui está querida, vamos- Mas quando ele olha para mim ele congela. Eu franzo a testa e estreito meus olhos ligeiramente.

Eu limpo minha garganta antes de falar. -Noha veio me cumprimentar- virei-me para ele. -Eu sou o professor dela e ela é...?-

-Eu sou seu pai-

Meu queixo quase caiu quando percebi a incrível semelhança. Mas nunca pensei que o desconhecido da boate, que cuidei até adoecer, teria um filho.

-Mãe não tem namorado na minha vida- Eu realmente não sei porque os parentes se preocupam tanto em me ver com um homem e porque nem casada e com filhos.

Não estou dizendo que não quero que isso aconteça, pelo contrário, seria lindo mas depois. Sou jovem para me apegar tão cedo a alguém e logo na primeira vez não deu muito certo.

Ela tinha um namorado, Andrés, uma pessoa calma, mas muito rígida. Primeiro eu gostava de estar com ele, depois seu lado controlador assumiu e eu não aguentei mais. É como se eu fosse a sombra dele, se ele desse um passo errado me veria diferente.

Além disso, eu era boa demais para me rebelar contra as exigências dele, ele não me deixava sair com os amigos, não me deixava ir na casa dele passar uma tarde juntos. Tive que ficar na casa dele e ficar entediado, porque sim, morávamos juntos.

Naquela época eu ainda não era professor, mas tinha acabado de começar a estudar para o meu diploma. Eu me sentia reclusa em casa enquanto ele saía e se divertia com os amigos.

Desde criança sempre vivi na sombra dos outros, acreditando que se o fizesse me sentiria protegido, seguro, inexistente. Como pode

uma pessoa ser inexistente? Quando ninguém a nota, quando ela nunca fala ou talvez porque continua tão oprimida por aquela sombra que paira sobre sua vida, levando-a para longe de tudo que a cerca?

Sempre me perguntei o que teria acontecido se eu tivesse saído daquela zona escura, se algum dia tivesse tido uma vida diferente, mais feliz e menos triste, mais agreste e menos monótona.

Sair de lá foi difícil, mas indo além do que estava acostumado encontrei um mundo diferente, uma realidade diferente do que eu esperava. E estou gostando do que faço.

Me tornei uma professora que ama seus filhos e que reformou um lugar para ver seu avô que não está mais aqui feliz.

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