Capítulo 3
Capítulo 3
O interior da limusine estava silencioso. Helena se acomodou no banco de couro macio, consciente do olhar de Adrian sobre ela.
Adrian, do outro lado, mantinha os olhos fixos nela. A transformação de Helena, de uma policial investigativa dedicada a uma mulher que exalava confiança e mistério, era algo que ele não havia previsto. Ele sabia que esse jantar era mais do que uma simples refeição. Era o primeiro ato de uma encenação que ambos teriam que dominar.
Quebrando o silêncio, Adrian estendeu a mão, revelando uma pequena caixa de veludo azul.
— Antes de chegarmos, há algo que preciso fazer. — Ele abriu a caixa, revelando um anel solitário lindíssimo de ouro, com um diamante de 1 quilate brilhando sob a luz suave do carro.
Helena olhou para a joia, surpresa.
— Você não perde tempo, não é? — comentou, tentando esconder o impacto que a visão do anel causou.
— Precisamos que isso pareça real, Helena — ele disse, sua voz firme, mas com uma ponta de gentileza. Ele tirou o anel da caixa e, com cuidado, colocou-o na mão esquerda dela. O toque dele era surpreendentemente suave, e a joia parecia irradiar um calor inesperado ao se encaixar em seu dedo.
Helena estudou o anel por um momento, antes de erguer os olhos para ele.
— E onde está a sua aliança de noivado? — perguntou, com uma sobrancelha levantada em curiosidade.
Adrian sorriu levemente, quase como se esperasse a pergunta.
— Nos Estados Unidos, o noivo não usa aliança até o dia do casamento. A noiva, por outro lado, usa um anel solitário como este na mão esquerda.
— Entendi, sou brasileira, não conheço a cultura de vocês.
— Fique tranquila, aprenderá o que for necessário.
Helena assentiu, processando a informação enquanto admirava a joia em seu dedo. Era um símbolo poderoso, e agora fazia parte da encenação que ambos teriam que levar adiante.
— Este jantar é o primeiro de muitos — ele continuou, mudando de assunto. — Precisamos começar a nos mostrar em público, para que nosso relacionamento pareça natural.
Helena compreendeu a lógica.
— Entendo. Precisamos que todos acreditem que somos um casal de verdade.
Adrian a olhou novamente, desta vez com uma intensidade que a fez prender a respiração.
— Sim. E precisamos fazer isso funcionar, Helena. Por mais que seja apenas um contrato, precisamos agir como se fosse real.
Helena percebeu que estava entrando em um jogo perigoso, onde as emoções podiam facilmente se misturar com as aparências.
Antes que ela pudesse responder, a limusine parou suavemente em frente ao restaurante. Adrian olhou pela janela e, em seguida, voltou sua atenção para ela.
— Pronta?
Helena respirou fundo, ajustando a postura e se preparando para o papel que agora teria que desempenhar.
— Pronta.
Adrian abriu a porta e saiu, oferecendo a mão para ela. Helena aceitou, e juntos, saíram da limusine. Os flashes das câmeras e os olhares curiosos já começando a seguir cada movimento deles.
Helena sabia que Adrian Turner era praticamente uma celebridade, mas mesmo assim não pôde evitar um leve desconforto ao ser recebida por uma enxurrada de flashes e câmeras assim que saíram da limusine.
A presença dos repórteres, sempre à espreita por um vislumbre da vida do magnata, trouxe à tona um nervosismo que ela tentou disfarçar com um sorriso.
Enquanto eles caminhavam em direção à entrada do restaurante, um repórter se aproximou, com o celular já em modo de gravação, buscando captar qualquer declaração ou reação. Com uma expressão curiosa, ele fez a pergunta que todos ali queriam saber:
— E quem é a bela dama ao seu lado, senhor Turner?
Adrian, que segurava firmemente a mão de Helena, puxou-a suavemente para mais perto, envolvendo sua cintura com um gesto protetor. Seu olhar, antes frio e calculado, suavizou ao responder:
— Ela é Helena Vasquez, a futura senhora Turner.
As palavras de Adrian ressoaram como uma declaração definitiva, e o repórter não precisou de mais nada para transformar aquele momento em manchete. Helena, apesar do incômodo inicial, sentiu um certo alívio ao ouvir a resposta firme e segura de Adrian.
Enquanto Adrian e Helena se preparavam para entrar no restaurante, a multidão de repórteres se agitou ainda mais. Um deles, mais ousado, gritou: "Podemos ver um beijo do casal?"
Adrian manteve uma fisionomia passiva, acostumado com as demandas intrusivas da mídia. Já Helena, por outro lado, engoliu seco, surpreendida pela súbita exigência. Ela havia se esquecido de que, para que essa farsa funcionasse, muitos beijos e gestos íntimos seriam necessários.
Antes que o nervosismo dela se tornasse evidente, Adrian agiu. Com uma calma impressionante, ele segurou o queixo de Helena com delicadeza, fazendo com que ela levantasse o olhar para encontrar o dele. Seus olhos transmitiam uma mensagem clara: eles estavam nisso juntos, e ele iria guiá-la.
Com um gesto firme, mas carinhoso, Adrian inclinou-se e a beijou. Foi um beijo suave e diante dos flashes incessantes, os dois se tornaram o centro das atenções.
Para os repórteres e curiosos ao redor, era o retrato perfeito de um casal apaixonado. Mas, para Helena, aquele momento serviu como um lembrete de que a linha entre a farsa e a realidade podia se confundir facilmente.
Quando o beijo terminou, Adrian deu a Helena um sorriso tranquilizador antes de finalmente guiá-la para dentro do restaurante. O barulho dos cliques das câmeras foi ficando mais distante à medida que a porta se fechava atrás deles.
Já sentados, Helena ainda estava surpresa com a situação:
— Eu não esperava por isso.
— Eu sei, querida. Pode ficar tranquila. Como eu disse mais cedo, você vai ter que confiar em mim.
Ela assentiu, mostrando que estava disposta a seguir em frente.
— Perdoe-me por ter escolhido o restaurante sem consultar você antes. Não perguntei se gosta de comida francesa.
— Para ser honesta, só estou familiarizada com a gastronomia brasileira, japonesa e italiana.
— Se importa se eu escolher o prato para você?
— De jeito nenhum. Fique à vontade.
Adrian ouviu atentamente, percebendo a diversidade de gostos dela, e, sabendo que ela apreciava carne, optou por pedir: pato ao molho de maracujá, acreditando que ela iria gostar.
Adrian fez o pedido, incluindo um vinho para acompanhar a refeição. Helena, apesar de gostar de vinho, não tinha o hábito de beber muito, e na segunda taça já estava começando a sentir os efeitos do álcool. Percebendo isso, decidiu diminuir o ritmo, mas Adrian notou que ela estava bebendo menos e interpretou de outra maneira.
— Algum problema com a bebida, querida? — ele perguntou, com um toque de preocupação.
— Não — respondeu Helena, tentando aparentar estar sóbria, apesar da leve embolada em sua voz.
Adrian observou Helena por um momento, percebendo o leve rubor em suas bochechas. Ele sabia que ela estava tentando manter a compostura, mas também notava que o vinho estava começando a fazer efeito. Sorrindo internamente, ele decidiu não pressioná-la mais e mudou o foco da conversa.
— Então, Helena, fale um pouco sobre você. Como decidiu se tornar policial investigativa?
Helena endireitou-se na cadeira, tentando afastar a leve tontura que começava a sentir. Ela estava ciente de que precisava manter a fachada e, ao mesmo tempo, evitar falar muito sobre seu trabalho, que agora estava diretamente ligado a Adrian.
— Bom, acho que sempre tive um certo senso de justiça — respondeu, tentando parecer o mais clara possível. — Cresci em um ambiente onde isso era muito valorizado. E, desde jovem, sempre me interessei por resolver mistérios. Acho que era inevitável que eu acabasse nessa profissão.
Adrian assentiu, genuinamente interessado.
— E deve ser um trabalho bastante desafiador, não é?
— Sim, bastante. Mas é também muito recompensador. Saber que você está fazendo a diferença, que está protegendo as pessoas... É uma sensação única.
Adrian sorriu, admirado com a dedicação que ela demonstrava ao falar sobre seu trabalho.
— Eu admiro isso em você, Helena. Essa determinação, essa paixão pelo que faz.
Ela corou levemente com o elogio, desviando o olhar por um instante. Era estranho ouvir aquelas palavras vindas de alguém como Adrian Turner, especialmente considerando que, aos olhos do mundo, eles eram apenas um casal apaixonado. Mas ela sabia que havia muito mais em jogo, e que precisaria manter-se focada na missão.
A comida foi servida, e Helena experimentou o prato com curiosidade. O pato ao molho de maracujá era diferente de tudo que já havia provado antes, e para sua surpresa, ela realmente gostou.
— Está maravilhoso, Adrian. Obrigada por escolher.
— Fico feliz que tenha gostado — respondeu ele, satisfeito.
Enquanto comiam, a conversa continuou fluindo, mais leve desta vez. Adrian manteve o tom descontraído, perguntando sobre os hobbies de Helena, suas preferências, e até algumas histórias engraçadas de sua carreira.
Aos poucos, ela foi se sentindo mais à vontade, e o jantar que começou tenso, foi se transformando em uma experiência surpreendentemente agradável. Mas, no fundo, Helena não conseguia esquecer que aquilo tudo fazia parte de uma grande encenação, e que a verdadeira razão pela qual estava ali com Adrian era muito mais sombria.
Quando a refeição chegou ao fim, Adrian olhou para ela com carinho.
— Acho que tivemos um bom começo, não acha?
— Sim, acho que sim — concordou ela, sem deixar transparecer as preocupações que ainda rondavam sua mente.
Adrian pagou a conta e, mais uma vez, ofereceu-lhe a mão, como um verdadeiro cavalheiro. Quando saíram do restaurante, os flashes das câmeras estavam lá, aguardando para capturar cada movimento do casal. Mas desta vez, Helena se sentiu mais preparada.
Ela manteve a cabeça erguida e o sorriso firme, sabendo que, a partir daquele momento, cada passo que desse ao lado de Adrian Turner seria cuidadosamente observado.