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Capítulo 6 — Churrasquinho na laje

Freya

Estranho seria se eu não estivesse ficado nervosa. Estava sentada, ainda sem acreditar no que aconteceu. Ísis segurava um copo com água, sentada ao meu lado, enquanto seu irmão me olhava com uma cara de idi0ta.

— Você vai dormir com a Ísis, na casa dela. A gente precisa fazer uns negócios por aqui. — Sete falava alto, bagunçando meus cabelos. — A gente vai levar vocês lá.

— Eu não vou, pode levar a Ísis. Eu vou ficar bem aqui, só preciso dormir um pouco.

— Vai trabalhar sozinha amanhã? — Jamerson passava por mim, sentando-se ao meu lado. — A Ísis vai comigo, tem certeza que vai ficar aqui sozinha?

— Que mal poderia ter? Não estou indefesa, não sou nenhuma idiota. Eu vou ficar legal e, eu fui demitida. Tenho que acordar cedo e procurar alguma coisa. — Não tinha ninguém para me sustentar, eu mesma tinha que correr atrás das minhas coisas ou morrer de fome.

— Beleza, se precisar de algum coisa liga na Ísis. — Sem contestar, Ísis tentou me convencer uma última vez, mas eu dispensei mais uma vez.

Depois que foram embora, limpei toda aquela bagunça, joguei o lixo e põe fim, aproveite que não havia ninguém para tomar banho e tomei um bastante demorado. Passei cerca de meia hora dentro do banheiro. Lavei o cabelo, esfoliei a pele, e por fim, tirei todos os meus pelinhos inconvenientes, com cera quente, uma maravilha. Voltei para o quarto correndo, ainda enrolada na toalha. Era quase duas da manhã, estavam todos na festa ainda, mas a surpresa mesmo, estava dentro do quarto.

— Que droga. — Andei para trás, esbarrando meu dedo mindinho na porta. — O que veio fazer aqui?

— Eu vim trazer um lanche pra você e fazer duas perguntas. — Seu olhar sério era penetrante, me dava calafrios e ao mesmo tempo despertava várias outras coisas. — Quero saber porque fez aquilo pela Ísis, não parece que foi sem querer, você tinha muito ódio acumulado ali.

— Não que eu te deva satisfações, mas também não é da sua conta. Eu não te devo nada, a gente mal se conhece. Eu nem sei o que você tá fazendo aqui. — Disse com a voz alta, estava alterada e confusa, com ódio e medo ao mesmo tempo.

— Se a gente se conhecer bem você me responderia essa pergunta?

— Não. Porque eu não tenho essa pretensão. Pode levar o que trouxe, eu não tô com fome e não queria que estivesse aqui.

Seu jeito sério me desconcentra, me fazendo respirar fundo e descompassado. Chegando cada vez mais perto, eu dava dois passos para trás, até que senti o gelado do espelho tocando minhas costas. Suas mãos me prenderam na parede, me impedindo de sair, enquanto sua perna encostava na minha, mesmo por cima da toalha.

— Mas eu quero te conhecer melhor. Acho que você também quer o mesmo que eu. — Tomei a iniciativa, sem pensar e beijei sua mão, enquanto ele me prendia contra a parede. — Quer que eu eu pare?

— Não. — Sussurrei em voz baixa, retomando o que comecei.

Sua pegada era boa, forte e me deixava fraca. Encostada no espelho, me deixei ser abraçada por ele sem hesitar. Seus lábios carnudos eram bons de sugar, não ligo para o que ele pense sobre mim, afinal, ele é atraente e eu não me importo de deixar explícito meus desejos.

— Será que a gente tá se conhecendo melhor agora, Freya?

— Talvez, Jamerson! Agora pode virar de costas ou ir embora. Preciso me vestir para dormir, não tenho a vida ganha.

Jamerson

Retrucando, ela se vestia e eu olhava vez ou outra, vendo apenas sua bunda virada de costas.

— Tá rolando um churrasco na casa da minha mãe, Ísis mandou eu vim te pegar. Minha mãe também. — Esperava por uma resposta, mas tudo que ela fez foi negar com a cabeça e sorrir fraco.

— Você é sempre assim? Insistente ao ponto de não aceitar um não?

— Eu não perguntando se você quer ir, eu tô dizendo que vim te pegar e eu não dou viagem perdida, Freya. — Disse ríspido, virando pra ela e vendo que agora ela estava me levando a sério. — Cê' disse que não era uma puta, cê' o que então? Sempre tá dando mole pra mim quando eu quero!

— O que faz uma mulher uma puta? Porque se for beijar alguém, sinto muito te dizer que você não sabe de nada. Eu não dou mole pra você só porque você quer, eu te beijo porque eu também quero, mas essa foi a última vez que isso aconteceu. Agora é melhor cair fora que eu quero dormir, quem sabe posso até acabar fazer alguma besteira com você. — Essa eu pago pra ver! O que ela pensava quando se referia a besteira?

Pretendia apenas dar um susto nela, quando mostrei a arma que estava em minha cintura, mas não foi o que aconteceu.

— Que porra é essa? Você vem aqui me ameaçar agora? — Sua voz trêmula, agora chorosa, se fez presente, me deixando complementarmente confuso com que estava acontecendo. — Por que tá fazendo isso comigo?

— Eu não tô fazendo nada com você, só estou te mostrando uma coisa que poderia servir para você… me fazer sair daqui correndo. — Respondi tentando não deixar as coisas ainda piores. — Não tá pensando que eu vou usar isso com você? Não viaja, Freya.

Achei que ela tinha levado tudo na brincadeira, quando ela entrou em um estado de transe do nada. O que eu tinha que fazer agora? Não podia ir embora e deixar essa merda desse jeito. Se não fosse minha mania de tá fazendo besteira, isso não teria acontecido. Ísis mandava mensagens, Sete me ligava e um monte de coisas estavam acontecendo tudo de uma só vez.

"É melhor esperar um pouco, ela entrou no banheiro agora." — Respondi a mensagem de Ísis e bloqueei a tela, sem esperar respostas.

— Freya, me escuta, tá legal? Eu não vou tocar em você, pensei que tivesse um tipo de humor negro. Minha família tá esperando você e, eu não saio daqui sem você. — Parecia uma cena romântica, mas era tudo planejado e parecia que eu não tinha escolha.

— Aí, quer saber? Você é um grande babaca, sabia? Vamos logo antes que eu desista e é melhor guardar isso longe de mim, por favor. — Ela é alterada pra caramba, mas se pensa que vai ser assim comigo, tá enganada.

— Vai na frente, eu fecho a porta. — Ela saiu com os braços cruzado, emburrada, mas foi e eu aproveitei quando ela não estava à vista para procurar alguma coisa que me confirmasse que ela não é nenhuma aliada dos rivais, ela não me convenceu nenhum pouco.

Vasculhei algumas gavetas rápido e encontrei apenas seus documentos, algumas fotos dela com sua suposta mãe e várias fotos da Ísis. Não encontrei nada além de memórias tristes, ao meu ver.

— Se demorasse mais um pouquinho eu iria a pé mesmo. — Resmungou ela ao me ver descendo com as mãos no bolso.

Peguei a chave da moto e ela já estava em cima antes mesmo que eu pedisse. Quando dei partida, ela automaticamente agarrou forte em minha cintura, com o impacto que foi.

— Se continuar assim eu vou querer que me esquente mais tarde. — Disse e ele me soltou no mesmo instante.

Assim que minha mãe viu ela, já foi abraçando ela e falando o quanto ela era especial, sem nem conhecer ela direito. Ísis e Will aproveitam para apresentar o pessoal a ela, que pareceu bem empolgada com tudo aquilo, quem diria que ela não queria estar aqui.

— Qual é a dela? — Sete encostou do meu lado, me dando uma latinha de cerveja e tragando um cigarro. — Cê tá ligado que agora sua irmã tá solteira!

— E daí?

— Qualé, Boca? A gente é perfeito, irmão. Eu não vou magoar ela não, se um dia isso acontecer pode me matar. Eu faço qualquer coisa por ela, você tá ligado nisso.

— Eu já disse que não vai rolar, Sete, neom hoje e nem nunca. — Me afastei atendendo o celular que não parava de vibrar, mostrando no nome de Alice na tela.

"A gente tinha marcado de dar um rolê hoje, você não avisou que não ia dar." Ela queria que eu lhe desse satisfações, mas eu acabei esquecendo dela e de tudo quando o assunto foi Ísis naquele momento.

"Não deu pra ir hoje, depois a gente vê isso, tô ocupado agora." Desliguei o telefone e observei aquele momento.

Sete achava que eu não estava vendo ele e Ísis tentando dar uns agarrou por ali, enquanto minha mãe olhava o churrasco, Will conversando com alguns parceiros e junto a ele estava Freya, sentada numa cadeira na mesa em que estava uma amiga minha, Kellen.

— E aí, qual é a boa de hoje? — Kellen me comprimentou e olhou para Freya em seguida. Seu estilo único era diferente das demais, ela gosta mesmo é de mulher. — Tô ligada, vou dá uma saidinha, daqui a pouco eu volto. — Finalmente estávamos a sós, sem bagunça e sem ninguém para atrapalhar.

Ela ia levantar, mas quando me viu quieto sentou novamente e permaneceu calada por um instante, até que eu decidi quebrar aquele maldito silêncio.

— Até que enfim a gente tá sozinho, preciso bater um papo sério contigo. — Ela me olhou seria e antes que eu dissesse sobre o que era, ela se adiantou.

— Eu já disse que não sou de merda nenhuma, acha mesmo que eu vou perder meu tempo com isso? Eu quero mais é sair da merda que eu vivo, se eu fosse do crime queria ser envolvida com algo grande, pelo menos teria dinheiro pra sair da miséria. — Aquilo me tocou, de forma dolorosa, eu já passei fome e por esse e outros motivos que vivo na vida do crime hoje, mas faria qualquer coisa para sair e continuar tendo uma vida digna.

— Tá afim de uma cerveja? — Perguntei e ela pegou a latinha de cima da mesa e bebeu. — Vou pegar mais duas. — Levantei e ela continuou sentada, sinal de que dessa vez, estava se comportando como gente.

— Vai embaça se eu levar Ísis pra comprar um bagulho pra ela no shopping? É coisa rápida, eu prometi isso faz tempo. — Sete implorava, quase chorando, mas eu queria um tempo pra conversa com a ruiva em paz, mesmo querendo dizer não eu deixei.

— Se demorara mais de meia horas eu vou mandar ir atrás de vocês. E vê se não vai comer minha irmã, se não… — Parecendo um idiota, ele saiu e logo atrás dela, Ísis foi rindo feito uma garota apaixonada.

Voltei para mesa e Freya parecia distante, como se não ligasse de estar ali, como se tudo fosse um tanto faz pra ela.

— Posso te perguntar uma coisa? — Seu olhar encontrou o meu que não conseguiu desviar por nenhum segundo. — Por que você é tão legal com ela? Eu sei que são irmãos, mas por qual motivo não deixa ela ficar com o Sete?

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