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Capítulo 4 — Parceiras até o fim

Ísis

— Seu irmão ainda vai me matar qualquer dia desses. — Sete e eu estávamos juntos desde que eu tinha 15 anos, mas meu irmão nunca deixou a gente ficar juntos. Cresci, saí do morro e por algum tempo tentei esquecer ele, mas não dá.

— Meu irmão não é idiota, claro que ele sabe de nós dois, só não quer aceitar. — Eu sabia bem o perigo que uma mulher de bandido corria o tempo todo, por simplesmente ser mulher dele e nenhum dos dois quer me expor a esse risco, não minto, também tenho medo.

— Eu queria sair do vínculo, mas não posso. — Olhando para mim, como se fosse meu devorar, Sete estava com lágrimas nos olhos e eu semblante triste. — Quero que você seja feliz, Ísis. Eu não mereço você, não quero que se perca aqui por minha causa.

— Está me dizendo isso porque já tem outra? — Éramos livres, mas eu o amava demais para deixar ele ir, ou amava demais para deixá-lo ir? Não sei, me sinto confusa quando penso em viver sem ele..

— Tá de sacanagem? Eu sou louco por você, meto bala em qualquer um que chegar perto de você. Eu não sei como, mas vou largar tudo isso aqui e a gente vai tá bem longe dessa bagunça, morando junto, com três filhos e feliz.

Me aconcheguei em seus braços, pensando em como é complicado amar uma pessoa que tem o amanhã incerto. Sete não tem pais, minha mãe conheceu ele vendendo balinha no farol e como ele é meu irmão já eram amigos, ela levou ele pra morar lá em casa. Desde então, éramos amigos até que eu comecei a sentir algo mais que amizade e foi recíproco. Com a correria do dia a dia, eu não vinha com tanta frequência no morro, com Freya e eu morando juntas, era impossível ele poder dormir comigo.

Aproveitamos o momento enquanto Jamerson estava fora, para matar a saudade que estávamos um do outro, mas não durou muito tempo, minha mãe logo chegou e quase nos pegou no flagra.

— É melhor tomar cuidado, se teu irmão pega vocês dois aí, vai dar merda. Cadê sua amiga? Eu trouxe uma havaiana pra ela.

— Ela já foi. — Sete tão boca aberta que não consegui ficar quieto. — Boca foi levar ela em casa e até agora não voltou. — A expressão da minha mãe mudou rapidamente, mas não era surpresa, era medo dele ter saído com o peito aberto.

— Fica tranquila, mãe. Freya é minha amiga, a gente se conhece e eu confio nela. A gente não teria se dado bem se não tivéssemos tanto em comum. — Com seu olhar fuzileiro, ela me olhava com certa dúvida, enquanto Sete aproveitou para ir embora após receber uma mensagem de Boca.

— E como eu posso ficar tranquila, Ísis? — Respirei fundo, tentando entender sua preocupação que não tinha fim. — Minha filha, eu só não quero que você seja mais uma vítima. Queria muito que Geovane fosse diferente, mas ele não é.

— O Sete jamais faria algo comigo sem que eu quisesse, ele não me pede pra morar ou ficar com ele, se bem que a senhora sabe que eu nem tenho mais tempo pra isso. — Enfiei um pedaço de pão na boca e olhei através da janela, onde vi Jamerson subindo o morro de moto. — Alá ele já voltou. Quando a Freya, a mãe dela é uma vagabunda narcisista do caralh0, a menina sofre desde o que nasceu, eu só quero que ela se divirta um pouco de vez em quando. Não é pra isso que serve as boas amizades?

Queria aproveitar o domingo da melhor forma, mas quando fui chamar os meninos para irmos à praia, vi algo que não gostei, embora soubesse que aquele era o “trabalho” deles, eu não conseguia me acostumar que meu irmão era o traficante chefe daqui. Tentei não fazer barulho ao sair, mas a porta rangeu e Jamerson pulou da cadeira, vindo em minha direção com uma arma em punhos, o que me deixou assustada.

— Que porra cê’ tá fazendo aqui? Sabe que eu não quero você nessa merda. — Gaguejei na hora de responder, sem explicações ou nada a dizer… — Sai daqui, isso não é lugar pra você. Na minha bolsa tem um trocado, pela lá e vai se divertir.

Antes que eu respondesse, ele me empurrou e fechou o ferrolho da porta por dentro. Voltei para casa, arrumei minhas coisas e pedi que Foguinho me levasse em casa, não estava com paciência para esperar ônibus.

Freya

O celular tocou, eu borrei o rímel e estava atrasada, que droga!

“Quem é?” — Apoiei o celular no ombro e terminei de arrumar o cabelo. Estava atrasada, e assim eu perdia dinheiro.

“Oi, Freya. Tudo bem? Olha, só estou ligando pra dizer que não precisa vir hoje. Amanhã passa aqui no RH, infelizmente sua mãe veio até aqui e quase aconteceu o pior. Você é uma ótima pessoa, mas o problema é ela. Você me desculpa?” — E essa nem era a primeira vez que isso estava acontecendo. Ela sempre dava um jeitinho de ferrar com a minha vida.

“Eu que te peço desculpas a você, juro que não vai acontecer novamente. Amanhã eu posso ir pela manhã?”

“Claro, como você quiser. Tenha um bom dia, até mais!”

O que eu irei fazer agora? Amanhã mesmo tenho que ir em busca de outra coisa, mas isso demora e eu não posso ficar às custas de Ísis, seria sacanagem.

Não havia mais o que fazer, eu me arrumei em vão e agora estava completamente perdida. Se minha mãe souber onde eu moro ela vai acabar de ferrar com a minha vida.

Só olhando com mais atenção, percebi que a “casa” estava uma bagunça e algumas coisas precisavam de alguns ajustes, limpeza, trocas de forros das camas, organização nas louças e tals… me distrai ouvindo música e não escutei quando abriram a porta.

— O que deu em você? Achei que já tinha saído. — Ísis não estava com uma cara nada legal, parecia entrar segurando o choro.

— Minha mãe teve o digníssimo prazer de ir até o trabalho arruinar a minha vida. Vanessa me demitiu e agora eu tô aqui, ao com o dia e a noite.

— Não fala assim cara, toda essa porra aqui é nossa. Freya, eu sei que sou um pouco doida as vezes, mas eu sou tua amiga e gosto pra caramba de você. Eu não vou te deixar sair daqui.

Eu tinha mil e dois motivos para chorar, mas foi nos braços de Ísis que eu desmoronei em lágrimas. Chorávamos juntas, enquanto ela dizia o quanto amava Sete, mas seu irmão a impedia de ficarem juntos.

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