Capítulo 01
༺ Mia Carrozzini ༻
Jamais imaginei que precisaria fugir da minha própria casa às três da madrugada, tudo por culpa do meu pai. Ele ligou rapidamente pedindo que eu arrumasse minhas coisas e saísse o quanto antes, pois me vendeu para um CEO mafioso e bilionário para quitar parte de sua dívida.
Quando ele me revelou isso, meu mundo desabou. Como meu próprio pai teve coragem de fazer isso comigo? Será que não sentiu nem um pingo de remorso por conduzir isso? Sou a única que está ao seu lado depois de tudo o que ele destruiu e arruinou. Agora ele resolveu se livrar de mim para se dar bem. Não posso perdoá-lo pelo que me fez desta vez.
Meu pai era viciado em jogos de cassino e não escondia de ninguém. Acabou com todas as nossas economias da noite para o dia, apesar de sermos uma família de classe média com um status importante e um nome perante a sociedade. Agora, nosso nome é apenas um nome em cinzas.
Minha mãe, cansada de tudo, decidiu deixá-lo por outro homem. Eu fiquei com meu pai, pois ela não queria carregar o fardo de cuidar de uma filha de um fracassado sem futuro. Essa foi a última coisa que ela me disse antes de sair pela porta.
Apesar do vício do meu pai, eu acreditava que um dia ele pudesse parar e mudar. Trabalhava meio período em uma lanchonete e estudava no outro, escondendo todo o dinheiro que possuía para que ele não pegasse e nos deixasse sem nada durante o mês. A vida era um pouco dura, mas eu acreditava que dias melhores viriam. Mesmo com todos os problemas que tinha, nunca reclamei. Tinha todos os motivos para ser a pessoa mais dramática do mundo.
No entanto, o que meu pai foi capaz de fazer comigo esta noite foi demais para suportar. Enquanto andava apressadamente para fugir e me esconder, senti que havia alguém atrás de mim. Então, aumentei a velocidade dos meus passos, mas a pessoa fez o mesmo. Comecei a ficar desesperada e nervosa e corri dobrado na esquina do quarteirão. Porém, um carro me cercou pela frente e outro atrás de mim. Meu Deus, e agora? Não havia como escapar dessa situação.
Senti meu peito subir e descer de desespero. Provavelmente, esses carros pertenciam ao homem para o qual meu pai havia me vendido. Vi um homem de jaqueta preta sair do carro e andar até mim, enquanto eu me afastava para trás e me encostava no muro. Essa sensação de desespero era terrível. Ele me lançou um sorriso malicioso e me observou de cima a baixo.
— Para onde a nova mercadoria do senhor Mourett pensa que vai? Você pretendia fugir, garota? Realmente, você gosta de brincar com o perigo, mas você não irá longe. Meu patrão me mandou buscar o seu novo brinquedo.
— Não me chame assim! Não sou um pedaço de carne e muito menos um objeto para ser tratada dessa forma. E, respondendo à sua pergunta, estou indo embora. Não devo nada a esse homem, ele só está cobrando a dívida do meu pai… — afastei-me para tentar sair dali, mas outro segurança ficou na minha frente.
Então, o homem que estava falando comigo me puxou pelo braço, me observando seriamente, e respondeu:
— Garota, não brinque comigo! Seu pai a vendeu ao senhor Mourett. Você pensa mesmo que ele deixará você sair assim, andando por aí? Coloque-a no carro. Ela não tem escolha. O chefe foi bem claro, se ela não quisesse vir por bem, era para levá-la à força!
— Não se atrevam a me tocar, senão vou começar a distribuir mordidas. E aviso que tenho dentes bem afiados! Me soltem… me larguem agora! Socorro… alguém me ajuda? — o homem se aproximou de mim, apertando meu queixo com bastante força, e comentou, sem paciência alguma:
— Olha, garota, cale a boca! Se você pensa que sou um monstro, é porque não conhece a quem foi vendida. É bom você começar a baixar essa bola e ficar na sua, senão o meu patrão saberá muito bem como te colocar no eixo e te adestrar.
Contudo, eu não aceito esse destino e começo a me debater. Um dos seguranças perde a paciência e olha para o outro que segura uma maleta. Rapidamente, ele a abre e retira uma injeção, que é aplicada em mim. Tudo começa a girar ao meu redor. Eles realmente decidiram me drogar e, antes de apagar completamente, ainda ouço aquele maldito capanga comentar:
— Isso, belezinha, vai dormir! Bom, pelo menos o seu Mourett fez um bom negócio, pois vejam que, apesar de brava, é muito bonita. Com toda a certeza, se tornará a sua nova preferida.
Continuo apenas ouvindo a risada desses malditos desgraçados, e tudo gira e escurece diante de mim. Quando recupero a consciência, percebo que estou em uma espécie de escritório. Ouço vozes do lado de fora, inclusive reconheço uma delas: é do meu pai, que parece implorar:
— Por favor? Mudei de ideia. Não quero dar minha filha em troca para pagar a parte da minha dívida! Posso vender a casa, é bem valiosa, por favor, Mourett, aceite?
— De forma alguma! Você já assinou o acordo. Não sou um homem que volta atrás em sua palavra. Afonso deveria saber disso. — porém, meu pai não aceita isso e continua insistindo.
— Mas mudei de ideia! Não deveria ter feito isso com a minha filha. Mia é uma menina boa, eu que sou um desgraçado imprestável que acabou com a nossa vida. Ela não merece passar por isso. Por favor, então, me mata e esqueça essa dívida...
— Matar você seria fácil demais, Afonso! Você me deve muito dinheiro, talvez nem aquela casa cubra tudo o que você me deve. E transformar a sua filha na minha nova cadelinha seja uma maneira de me vingar por tudo o que já gastou e não me devolveu. Agora vamos? Acredito que o efeito do tranquilizante está passando. Quero que você olhe para ela e perceba que destruiu a vida dela devido a um vício que você não tem controle.
Então, a porta se abre, e vejo dois homens entrando com meu pai. Em seguida, um outro homem muito bem-vestido em seu paletó preto entra. Percebo que ele é muito bonito, apesar de ser um pouco mais velho, talvez com 37 a 40 anos. Engulo em seco, observando tanto meu pai quanto o homem que esboça um sorriso, me olhando e comentando:
— Veja só? Então, a princesinha acordou? Que bom que você está acordada, assim pode se despedir do seu pai pela última vez!
— Filha, você me perdoar? Eu não deveria ter agido dessa forma com você. Não merecia que passasse por tudo isso. Realmente, sou um desgraçado por ter feito isso, a ponto de até a sua mãe ter me deixado. Destruir a sua vida foi um erro terrível. Me perdoa, meu amor?
Eu não conseguia dizer nada ao meu pai. A mágoa de saber que ele foi capaz de fazer isso comigo era grande demais. Além disso, sentia uma dor profunda. Apenas o empurrei para trás, me afastando, e respondi:
— Eu nunca vou te perdoar pelo que você fez comigo. Você me vendeu como se eu fosse um animal ou uma mercadoria. Esse vício seu não tem limites. Vendeu a única pessoa que ficou ao seu lado. Eu deveria ter pego minhas coisas anos atrás e ido embora, assim como minha mãe fez com você. Eu te odeio, principalmente pelo fato de ter vivido uma vida desgraçada todos esses anos ao seu lado.
— Filha, por favor, não fale assim. Eu vou dar um jeito de recuperar tudo o que perdemos, eu prometo. Vou te tirar dessa situação. — ele tentou se aproximar de mim, mas eu o empurrei para trás, completamente furiosa, e respondi:
— Não prometa algo que você não pode cumprir! Se realmente pudesse recuperar tudo o que perdemos, não estaríamos falidos hoje em dia. O que me assusta é a sua coragem de fazer isso comigo. Você é monstruoso.
Sentia-me completamente destruída, mas não iria derramar uma lágrima, pois o meu pai não merecia nenhuma delas. Então, o homem novamente se pronunciou, me observando com seriedade:
— Bom, acredito que já se despediram, certo? Derek, leve imediatamente essa garota para a minha casa e peça para Lupita cuidar dela. Assim que eu sair do Cassino, irei para casa. E quanto a você, garota, acredito que seja bom começar a se comportar. Já ouvi dizer que é bem malcriada, mas costumo adestrar bichos selvagens, e você não seria diferente.
— Só para você ter ideia, eu não sou um bicho, caso não tenha reparado. Sou um ser humano, e exijo que você me respeite.
O homem me observou com bastante desdém e se aproximou, apertando meu queixo com certa brutalidade enquanto respondia:
— Preste bem atenção em como fala comigo, garota! Eu não sou seu pai, muito menos um moleque. Ou você me respeita daqui para frente, ou sofrerá as consequências de tudo o que me responder. Derek, leve-a daqui antes que eu resolva levá-la para aquela sala e dar uma correção que ela merece.
O homem rapidamente me puxou para fora enquanto observava aquele homem maldito que tinha um semblante sério, me analisando com aqueles olhos amarelados. Eu não sabia se sentia medo ou atração. Talvez fosse uma mistura dos dois. Deveria estar louca por sentir algo assim por esse homem tão perverso e frio que mal conheço.