Em terras brasileiras
Há alguns meses descobri ter uma filha dos tempos em que dividia treinos com Antonio Costello na Sicília, antes que ele se transformasse num porco, a beleza de Agata é irradiante como sua mãe, a filha da empregada que gostava de foder. Aos vinte anos a garota mostra ser realmente ter o sangue russo, causando aflições ao idiota italiano que casou. Pelo que entendi. Enrico já sabia que a menina era minha filha e por isso foi um grande apoiador do meu então genro, Michelle, um dos caporegimes do conselho na Sicília.
Problemas e mais problemas nos quais, agora, preciso aceitar voltar a ter alguma relação com os italianos, algo do qual há muitos anos meu próprio pai desfez o acordo devido a opiniões bem diferentes. Se o prolema no qual estamos passando no momento seja realmente a Yakuza a união das famílias é bem-vinda. Fecho os olhos imaginando como Eva poderia estar gritando vários palavrões naqueles lábios rosados por ter uma filha bastarda, afinal, para os franceses e italianos isso pode não ser normal, mas é bem comum na Rússia.
Suspiro, diante da realidade suja a qual voltei a enfiar minha carne fraca e mesmo desejando diariamente, não morri com ela, hoje fodo com tantas putas que os soldados se perguntam como meu pau ainda não caiu ou não fui parar no hospital com alguma DST. Claro que quando estão longe o suficiente da minha presença, Kyro que faz questão de falar para encher o saco a todo momento fazendo piadas idiotas.
Sinto que a idade não pesa tanto, mas às vezes cobra com uma dor de cabeça infernal após uma noite de bebedeira, sexo e torturas quando encontro algum desavisado, lembro que farei 38 anos, meu aniversário chegando na próxima semana. Saindo de Moscou, segui direto para o aeroporto e cá estou, descendo no aeroporto internacional de Fortaleza
No Brasil, um país perfeito para fraudes, lavagem de dinheiro, drogas e claro contrabandear armas. Prefiro fazer rotas diferentes das esperadas pelos idiotas que costumam achar que se não foi encontrado uma vez, nunca irá ser pego.
Um erro de principiante que não cometo.
Me viro sentindo o calor e o vento quente no meu rosto colocando os óculos de sol, verifico o local que desembarcamos e vejo um dos soldados acertando o pagamento com nossos contatos de segurança.
— Kyro, veja se o prefeito já liberou a agenda para me receber, aproveite e fale com o Hugo, quero fechar as encomendas de Zapov até o anoitecer, aquele homem me irrita a cada vez que respira. — O vejo revirar os olhos e colocar os óculos. — Algum problema para atender minhas ordens?
— Jamais ousaria desobedecer uma ordem do meu Parkhan, Roman. Apenas não confio em Zapov, aquele tem o rabo preso e ainda descobrirei em que. — Ele tinha seus instintos e eu respeitava aquilo, afinal, o mantém longe da morte.
— Contanto que nesse período ele continue dando lucros, caso não mantenha, terei prazer em dar-lhe sua cabeça de presente. — Abri um meio sorriso pensando em como torturar o tal.
— Tão generoso Roman, chego a me emocionar. — Kyro não tinha medo da morte, o idiota é bom no que faz, pior de tudo o considero um bom amigo.
Ninguém esperava nada de um soldado, um simples vory, e ali estava ele, ao meu lado, levando tiros por mim, mesmo que tivesse subido de cargo, continuava me respondendo como fazia quando pedia para acompanhar minha raposa ao shopping.
Kyro esteve ao meu lado enquanto perdia a cabeça, investigou a morte de Eva e foi o único que teve coragem de me enfrentar para que recuperasse a cabeça.
No carro, com o ar condicionado no máximo, ainda suava tanto que me sentia no próprio inferno, porra de clima tropical que me fodia, estava tão irritado com o calor que considerava descarregar Stela em algum idiota.
— Não resolva sair atirando em alguém por aí Roman, temos uma facilidade para fazer negócios aqui, vamos manter assim anh?
— Você é uma Bruxa Kyro. — Solto as palavras encarando enquanto volta sua atenção às ruas, aumentei o som. — Precisamos chegar logo ao hotel, antes que esse calor faça com que perca a cabeça de vez.
— O Prefeito já está lhe esperando para fechar negócios, parece que quer um investimento para construir novos postos de saúde — Kyro soltou uma risada falsa e continuou — Aposto que por saúde quer dizer um novo implante capilar.
Ri daquilo, afinal o prefeito era um gordinho, careca e ganancioso, nem ele aguentava o clima da própria cidade, afinal suava como um porco indo ao abate naquelas roupas sociais, sempre buscando manter uma elegância forçada enquanto rouba dinheiro dos eleitores desviando verba para seus interesses pessoais.
— Sabe, aquela médica é brasileira.
Parei de olhar as mensagens da secretária responsável em cuidar de algumas coisas na empresa informando dos negócios legais, remarcando algumas reuniões.
Viro para ele tão impassível como sempre.
— Que médica? — Me fiz de desentendido.
— Aquela que você ouviu te chamando de volta, ela havia tratado alguns dos nossos homens umas semanas antes do atentado.
Refleti sobre isso, mantive minha cara de pôquer.
— Pensei que ninguém soubesse quem era pelo que me disse. Pelo visto você e meus homens andam mentindo para mim.
Solto de maneira ácida, engolindo a fúria pela omissão. Ainda sou atormentado pela voz de sereia que percorre vários dos meus pensamentos nos momentos mais sombrios quando deixo o diabo à solta para brincar.
— Todos estavam felizes que você estava vivo Roman, quando você falou sobre ela, não encontramos nada. Ontem, ao conversar com Zippo, descobri que ele e mais alguns foram atendidos por ela, mas que não sabiam que era dela que você falava.
Escutei e resolvi ficar calado, afinal ele não deve ter terminado já que ainda não escutei o que mais desejo saber. Detesto falhas, perguntei sobre essa mulher há quatro anos quando ela falou comigo em um russo tão fluente, jamais imaginei que fosse brasileira.
Os médicos que estavam no hospital garantiram que apenas devido à inteligência dela e sua insistência em achar uma hemorragia que sofria com o impacto da bomba, ela foi capaz de me salvar da morte, mesmo sem saber ela trouxe o demônio de volta para a vida e nem mesmo queria ser salvo.
O tiro que levei, fez que perdesse muito sangue, mas o arremesso a longos metros devido à explosão, arrebentou com uma ligação que se não fosse pela tal médica, poderia sobreviver tetraplégico, pelo que entendi, ela estava cursando algum tipo de especialização e todos ali disseram em unanimidade que a garota é brilhante manuseando os equipamentos médicos, uma aluna que supera o professor salvando um paciente que nenhum deles tinha coragem sem tocar.
Além de me salvar da morte, a mulher de voz sedosa me salvou da invalidez.
Vendo que não diria nada, Kyro olhou-me ao parar o carro em um sinal e continuou.
— Zippo realmente é um dos melhores hackers que temos. — Voltou o olhar para a rua, passando a marcha no carro — Hackeando os dados do hospital e da faculdade que ela estava estudando.
Ele me olhou de novo no sinal vermelho examinando minhas expressões, algo que está começando a me irritar, pois o vadio é um manipulador, senti vontade de rir, o pupilo supera o mestre.
— Se começou, continue Kyro,
O idiota riu, ninguém entendia, nem mesmo podia acreditar, mas a voz e a lembrança da voz daquela mulher me faziam perder a cabeça, para o bem, para o mal e para o desespero do meu pau que ficou duro instantaneamente, caralho, ontem fodi com algumas putas e já fico assim apenas ao pensar na mulher.
Rio do pensamento e minha ereção se acalma, o que aconteceria se aquela mulher fosse casada?
Uma idosa com rugas?
Pior, feia.
Não, ela não poderia minar com todos os meus sonhos eróticos assim, se ela fosse brasileira a encontraria e lhe convenceria a fuder comigo até o final da minha estadia no país, acabaria com esse fetiche e voltaria à Rússia.
Chegamos ao Hotel enquanto os pensamentos sujos permaneciam em minha mente e Kyro continuava com um risinho debochado que me irritava. Do saguão enorme com enormes paredes de vidro sem sermos interrompidos por ninguém indo direto à suíte presidencial reservada, a enorme varanda com vista para o mar e alguns prédios ao redor da orla, tirei o paletó cinza ligando o ar condicionado e sentei na poltrona marfim disposta na sala.
— Vamos Kyro, termine antes que o Prefeito suba. Você não quer me ver de mau-humor — Arqueei uma sobrancelha, ele acenou positivo se servindo de um copo de uísque no bar, havia conseguido o que queria.
— Ela é daqui, mais especificamente, havia ido a Alemanha fazer uma especialização, esticou o intercâmbio até a Rússia a convite de um professor, foi cursar a parte prática no Burkan Medikal onde te atendeu.
— Ouvi a parte sobre ela ser brasileira, não tenho nenhum problema de audição. — Falei ríspido.
Afinal, ela poderia ser de qualquer local do Brasil.
— Você não me entendeu, Roman. — O riso debochado já estava me tirando do sério.
Ele se sentou na banqueta do bar e o cretino levou a bebida aos lábios, demorando cada vez mais para responder às minhas perguntas.
— Ela é daqui, Fortaleza. Voltou de viagem e fez concurso em um hospital público. Aproveite a visita do prefeito e agende uma visita de investimentos aos hospitais.