PROLOGO
PROLOGO
MÁRCIA NARRANDO
Era uma noite fria e eu recém tinha descido do ônibus que me trouxe da Venezuela até a Colômbia, eu não faço ideia de como cheguei aqui, eu apenas usei o pouco dinheiro que eu tinha, entreguei a um homem chamado Sodré e entrei dentro de um ônibus, foi algumas horas cansativas de viajem.
- Márcia estava preocupada – AniSofi fala quando me ver – você me ligou desesperada.
Eu e ela a gente era amigas desde infância, ela se mudou a alguns anos para Colômbia.
- Estou cansada – eu suspiro.
- Olha sua barriga – ela fala – você pode dar a luz a qualquer momento. Não deveria ter feito essa viajem de quase um dia.
- Eu estou bem, preciso apenas descansar – eu falo.
- Eu não consigo acreditar que os teus pais te colocaram para fora – ela fala.
- Eles não acreditaram que eu fui estuprada por aquele homem nojento – ela me olha.
- Você deveria ter denunciado ele – ela fala.
- Ele é muito rico – eu falo – quem iria acreditar em mim?
- Um teste de dna na criança que você espera, já iria falar – ela me olha – você vai dizer o que para sua filha quando ela nascer? Que ela não tem pai? Que o pai rejeitou? Você precisa denunciar ele
- Não – eu olho para ele – ele nunca vai saber que eu estou gravida e que eu tive uma filha dele, ele seria capaz de tirar de mim essa criança. E ele não merece que essa criança saiba que ele é o pai, essa criança não o merece como pai.
- Você vai se sustentar como? – ela me olha – como você vai sustentar essa criança? – ela me encara.
- Eu vou trabalhar, eu dou um jeito – eu falo – mas eu não vou me afastar da minha filha, isso jamais.
- Entregue ela para adoção – ela fala – eu sei que ele te estuprou, mas a vida que Ferdinando pode dar a ela, é algo que você nunca vai poder dar.
- Eu não vou entregar a minha filha para aquele estuprador nojento – eu falo – seja ele quem for e o que tenha. A filha é minha eu vou cuidar e criar ela com todo amor.
- Se é isso que você quer, conte comigo – ela fala – eu estarei aqui com você.
AniSofi me cedeu sua casa, ela trabalha na parte da noite e eu estava muito cansada da viajem e tudo que eu queria era descansar apenas, depois de um banho e de comer algo, eu me deito na cama e passo a mão sobre a minha barriga.
- Nada de mal vai acontecer com você minha pequena Orquídea – eu falo suspirando – você é tudo na minha vida.
Eu fecho os olhos para dormir e os pesadelos que me assombram a nove meses, continua. Mesmo estando mais de 1400 km de distância, eles ainda estão me assombrando.
Flash Black onn
- Por favor Marcia me traga um café – Ferdinando fala após eu atender o telefone da cozinha.
- Dona Lua – eu falo para cozinheira – será que a senhora não leva o café para o senhor Ferdinando? – ela me encara de cima para baixo.
- Vocês novinhas querem fugir das suas obrigações, a obrigação é sua arrumar o café e levar para ele – ela fala – não me faça falar para a dona da casa e ela vai te demitir na mesma hora.
- Eu levo – eu falo nervosa.
Não é de hoje que sinto os olhares diferentes de Ferdinando para cima de mim, suas piadas, seus sorrisos maliciosos. Eu respiro fundo, arrumo o café colocando sobre a bandeja e levo para o seu escritório, nesse horário sua esposa está na academia.
- Aqui o seu café senhor – eu falo quando abro a porta e vou em direção a sua mesa.
Ele se levanta rapidamente e vai até a porta do escritório, fechando-a e quando eu me viro ele está bloqueando a minha saída.
- Por favor, preciso passar. – eu falo para ele.
- Por que a pressa menina? – ele me olha sorrindo – Sente, vamos tomar um café junto.
- Obrigada, mas preciso trabalhar – eu tento passar, mas ele bloqueia. – por favor, me deixe passar – eu falo nervosa.
- Márcia, não é mesmo? -ele fala – quantas mulheres iriam querer estar no seu lugar, atrair a minha atenção.
- Eu não quero sua atenção, eu quero apenas trabalhar em paz – eu tento o empurrar, mas ele me segura – me larga.
- Cala boca – ele fala tirando uma arma da sua cintura – você vai ficar aqui e vamos nos divertir – eu olho para ele desesperada.
Flash Black off
Eu acordo desesperada, sinto uma fisgada forte na barriga e sinto um líquido escorrer pelas minhas pernas, quando eu me dou conta do meu pesadelo, eu sinto uma contração forte e era o sinal que Orquídea vai nascer.
Eu tento procurar um telefone pela casa de AniSofi, mas não encontro nada, a casa dela era bem simples, era uma casa de barro em um bairro bem pobre da Colômbia, ela tinha vindo com promessa de emprego em uma empresa grande e acabou que era apenas promessa, ela se virava como pode. A casa entrava muito fria, pelas flechas das madeiras e pelo chão de barro.
Eu tento abrir as janelas para pedir ajuda e depois de muito esforço eu consigo, mas a noite era muito escura lá fora e eu fiquei com medo de chamar por alguém.
- Vai ser apenas nós duas – eu falo passando a mão pela barriga.
São horas e horas em trabalho de parto, daqui a pouco o dia amanhecia e AniSofi iria chegar, eu gritava e me contorcia de dor deitada na cama, eu tentei tomar um banho, mas a água caia gelada e apenas aumentou a minha dor. Eu chorava muito sem saber o que pensar e para quem pedir ajuda, eu estava morrendo de medo de perder a minha filha.
Eu começo a revirar os olhos de tanta dor que eu sentia, as contrações aumentam, meu corpo faz força sozinho e eu começo a gritar, eu me seguro na barra das camas e começo a fazer força junto do meu corpo, eu entendi que ela estava nascendo, a dor era imensa, agonia, sofrimento, era um misto de sentimentos.
A minha menina começa nascer e ali sozinha, sem condição nenhuma eu dou à luz a minha filha, eu a pego em meu colo e enrolo ela em um pano branco que tinha em sua pequena mala, ela chorava desesperada, seus olhos verdes, seu rostinho perfeito me faz sorrir sem parar.
- Eu estou aqui meu amor – eu falo chorando muito – vou te proteger para sempre, eu vou estar sempre do seu lado.
Eu olho para porta vendo AniSofi emocionada e ela se aproxima sorrindo.