Porque cheguei até aqui?
CAPÍTULO 05
Luana Davis
(Semanas antes)
Acabei de me formar e consegui um emprego num escritório de uma empresa terceirizada da prefeitura, e o meu cargo é bem tranquilo, eu só preciso focar e fazer tudo corretamente que no final do mês dá tudo certo!
Cheguei hoje para trabalhar, e já vejo de longe, quando cruzei o corredor o tamanho da pilha de documentos para avaliação que eu preciso analisar e fazer penhora deles, e eu já sei que mal vou conseguir enxergar daquela mesa hoje, preciso acelerar, se não amanhã isso vai aumentar muito!
— Luana, tá atrasada! Na próxima vou descontar do teu salário! — falou o meu chefe, quando passou por mim, e eu respirei fundo, sempre fico depois do horário...
— Mas só foram cinco minutos! — reclamei.
— Cinco minutos por dia, se for contar...
Eu as vezes finjo que nem ouço essas chateações, pois preciso manter o meu trabalho, tenho várias contas para pagar, pois, o meu namorado Hélio, é um furacão para acabar com os limites dos meus cartões tudo em prol das benditas milhas que ele tanto fala...
Tirando o meu chefe que é um chato, parece que ninguém me enxerga aqui dentro, devem ser muito ocupados, só pode, pois, só ouço ordens de todo o mundo, e fico o dia todo resolvendo o meu trabalho e os pepinos dos outros, mas já estou acostumada.
— Luana, os materiais não chegaram para o aumento do escritório, liga lá e vê o que aconteceu! — falou a Emma, que trabalha a algumas mesas próximas à minha.
— Mas isso não era para você ver? — perguntei.
— Agora preciso que você resolva, não consigo parar o meu trabalho pra isso! — Emma respondeu, e eu decidi ajudar.
Ajeitei os meus óculos que começaram a ficar largos, e voltei ao trabalho, até o meu telefone fixo tocar.
Ligação onn...
— Escritório dois, Luana, com quem eu falo? — atendo.
— Luana, vou te passar o ramal da recepção, preciso ir ao banheiro, e vou demorar um pouquinho! — Diz a recepcionista, e não pude fazer nada.
— Tá bom! Pode passar...
— Ótimo! — respondeu.
Ligação off...
O telefone mal encostou, e já começou a tocar...
— Escritório Lins, recepção, bom dia! — atendi.
— Eu gostaria de falar com alguém do administrativo, pode me transferir? — perguntou uma mulher.
— Só um minuto, vou transferir!
E assim passou mais de uma hora, e eu mal conseguia trabalhar, e aquele telefone não parava, e as coisas aqui são sempre assim, e muitas vezes trabalho até mais tarde.
Mais um dia como sempre, e todo o mundo aqui resolveu querer que eu busque café para eles, e faça a impressão de arquivos. Seria muito mais fácil se cada um fosse naquela mesa, e imprimisse o seu, mas infelizmente essa é uma das primeiras tarefas que sempre sobram para mim.
Então assim que a recepcionista chegou, foram vários pedidos que estavam acumulados, e eu saí feito louca imprimindo tudo o que foi pedido que estava anotado na minha agenda, e eu já estava suando quando corri para o café buscar alguns dos que me pediram, também.
Encontrei com um colega lá, que estava mais desanimado que eu... “como isso seria possível?“ Pensei.
— O que foi, Sérgio? Porquê está tão mal? — perguntei, enquanto pegava quatro dos cafés que me pediram.
— A minha mãe está muito doente, ela não come direito, e começou a tossir com sangue, e ninguém sabe dizer o que ela tem, sempre estou gastando mais, e nada é descoberto, não sei mais o que fazer, Luana! — falou ele, cabisbaixo e fiquei muito triste por ele, pelo visto gosta muito da mãe...
— Puxa... e tem algo que dê para fazer? — perguntei...
— Preciso de dinheiro para os exames de amanhã e não tenho! Por acaso você não teria um pouco para me emprestar? Falta duzentos dólares ainda... — pediu ele, me olhando entristecido, e eu jamais negaria!
— Claro, Sérgio! A saúde vem em primeiro lugar! Vou pegar na minha bolsa, e você cuida da sua mãezinha, quero que ela fique bem, logo! — Falei, e fui levando os cafés, e ele veio me seguindo, então depois peguei o dinheiro na bolsa, e entreguei a ele.
— Obrigado, Luana! — ele falou, e depois saiu...
Essa era mais uma conta que eu deveria ter pago, mas eu vou dar um jeito! O importante é ele ajudar a mãe dele.
O meu celular tocou, e sorri um pouquinho do meu dia, vendo a foto do meu querido Hélio me ligando, nem acredito que ele aceitou continuar o namoro, mas tive que prometer algumas coisas para não estragar ainda mais a nossa relação.
Ligação onn...
— Oi lindo! Que bom falar com você! — falei ao atender.
— Oi Luana! Que horas vai sair hoje? — perguntou ele.
— Vou atrasar um pouquinho, mas não muito! Nada exagerado! Me espera lá em casa? — perguntei, animada estou com saudades dele!
— Vou ter que ir no meu irmão resolver umas questões de grana, vou deixar pra amanhã então! — falou ele, me deixando preocupada.
— Ahhh! Tem certeza? A gente poderia assistir um filme lá em casa! — comentei.
— Ah, não! Não gosto de filme sem ser no cinema, a gente vai outro dia, vou conseguir uma grana aí, daí a gente vai! — falou ele.
— Tá bom, então! Logo vou conseguir comprar as passagens para o cruzeiro que prometi, e daí vai ser muito legal! — falei, empolgada.
— Sei... vou desligar agora! Tchau!
— Tchau! Beijo...
Ligação off...
As vezes eu me preocupo muito em perder o Hélio, preciso dar um jeito de conseguir aquele dinheiro... sinto que ele é o único que tenho por mim, já que a minha mãe nunca quis que eu nascesse. Ela tentou de todas as formas fazer um aborto para me matar, ela já tinha duas filhas e em hipótese alguma queria ter mais um bebê.
Por sorte do destino, ela não conseguiu realizar o aborto, até hoje não sabemos se foi um erro médico ou algo aconteceu, ou até pode ter sido meu pai quem pediu, já que ele sim se importava muito comigo, mas o procedimento deu errado e eu nasci.
Pelo visto era mesmo para eu nascer... nem tudo o que as pessoas planejam realmente acontecem, e mesmo a minha mãe não me querendo, hoje eu estou aqui, não posso dizer que a minha infância foi completamente ruim, pois o meu pai sempre me apoiou e evitou muitas vezes que a minha mãe ou as minhas irmãs me maltratassem.
Era nítido como ela se preocupava apenas com as outras duas, e me deixava de lado! Eu sempre implorei por um pouquinho de atenção como qualquer outra criança faria, e o meu pai sempre me incentivava me falando que eu era uma princesa, e sempre me comparava muito com a Cinderela, dizendo acreditar muito que um dia eu encontraria o meu príncipe encantado, e que eu seria muito feliz no meu castelo. Eram as palavras dele que me davam vida, e que me faziam querer sobreviver a cada dia, e também me fizeram ficar mais forte e aprender muito com a vida.
O problema é que na minha vida as coisas nunca acontecem como deveria, eu acredito que a sorte ainda não bateu na minha porta, e eu perdi o meu pai muito nova, com apenas treze anos ele teve um mal súbito e faleceu sem dar explicações, sem eu sequer entender nada do que havia acontecido, e tive que entender que a partir dali seria eu sozinha, e teria que lutar por todas as minhas coisas e pela minha vida, resolver os meus problemas e a minha frustração, e ficar forte o suficiente para me proteger intimamente das feridas que as pessoas tentavam me causar...
Depois que ele faleceu as coisas pioraram e as minhas irmãs começaram a se aproveitar mais de mim, até porque sabiam que a minha mãe sempre apoiaria elas, e eu como sempre era o patinho feio da família, com os meus óculos de armação preta, e lentes escuras, era considerada a cegueta da família, a desengonçada, magra, e baixa, com os cabelos sempre no rosto e fazendo toda a faxina da casa, dia após dia... nunca entendi isso...
Por isso quando se trata do Hélio, eu fico apavorada só de pensar da minha vida sem ele. Espero realmente que a gente consiga se superar e ficar tudo bem como era no começo. Eu sei que ele gosta de mim e me quer bem, então é por isso que eu trabalho tanto para conseguir ter uma vida bacana com ele, e hoje mesmo vou atrás daquele agiota para pegar o dinheiro que eu preciso para aquele cruzeiro, vou recuperar o meu relacionamento que hoje é a minha prioridade.
Como o Hélio não iria para a minha casa hoje, eu saí do escritório e fui direto para o tal agiota que me informaram que me emprestaria o dinheiro.
O lugar era muito estranho e tinha uns homens muito mal-encarados lá, mas me disseram que emprestariam o dinheiro, e pra mim já estava ótimo.
Então assim que eu consegui, saí de lá e fui diretamente resolver os trâmites da viagem, viagem que me custou muitos meses de trabalho, e que ainda deveria ser paga, mas eu veria isto depois, agora só me importo com a nossa reaproximação neste cruzeiro, e enfim darei o que ele sempre me pediu... a minha virgindade!