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Prólogo - parte 2

Sila

Alguns anos depois, perdemos o meu pai para um infarto fulminante e o meu irmão Deniz assumiu o seu lugar de chefe da família e nas empresas. Eu cresci e fui para faculdade, e o resto todos já sabem.

— Quem quer um café fresquinho feito pela Senhora Eda? — Volto a cantarolar, interrompendo a conversa dos homens e só quando eles se afastam, percebo uma presença masculina entre eles.

— Sila?! — Hakan me recebe com um doce e forte abraço, depois é a vez Sinan. Contudo, Deniz me lança um olhar repreensivo.

— Quando chegou? — Ele inquire um tanto rude.

— Eu… acabei de chegar.

— E porque não me avisou, teríamos ido buscá-la no aeroporto. — Dou de ombros.

— Eu quis fazer uma surpresa. — Ele acena um sim, mas parece que não gostou da minha atitude. Devo dizer que passar três anos fora de casa trouxe algumas mudanças que eu não esperava. Deniz sempre foi um homem amável, sorridente e carinhoso. Entretanto, encontrei no seu lugar um homem sério e rude. — Eu… trouxe o café — digo o óbvio, porém, ele respira fundo e faz um gesto para o seu convidado.

— Sila, eu quero que conheça o Senhor Murat Arslan.

— Olá, Senhor Arslan! — O cumprimento com um sorriso, mas o convidado continua sério. Contudo, é o seu olhar avaliador que me deixa um tanto incomodada. No entanto, resolvo sair assim que sirvo os cafés, sentindo uma sensação estranha me acometer.

***

À noite...

— Me conte, como foi lá nos EUA? — Hakan pede com entusiasmo quando estamos acomodados a mesa.

Falar sobre a minha estadia naquele país foi a coisa mais fácil desse mundo. É claro que eu deixei alguns fatos de fora. Simplesmente achei desnecessário que os meus irmãos soubessem o que andei aprontando nas horas vagas e foquei apenas nos comentários sobre o curso de psicologia, as novas amizades, os pontos turísticos e etc.

— Sila, eu preciso falar algo com você, minha irmã.

— Claro Deniz, do que se trata? — O aguardo falar, porém, percebo os olhares apreensivos entre a minha mãe e os meus irmãos. — Aconteceu alguma coisa? — Deniz respira fundo e após passar o guardanapo no canto da sua boca, ele começa a falar:

— Antes de morrer o nosso pai me fez um pedido. — Apenas assinto um sim para ele. — Ele queria que mantivéssemos as nossas tradições.

— Sei, e o que isso quer dizer?

— Sila, você já fez vinte e dois anos e…

— E? — Deniz puxa mais uma respiração e por algum motivo percebo que ele tem dificuldades de falar. — Você está me deixando nervosa, Deniz.

— Eu encontrei um noivo para você. — Uno as sobrancelhas.

O que ele quer dizer com, encontrou um noivo?

— Você fez o que?! — sibilo quase sem reação.

— Murat Arslan é um homem culto e muito poderoso. Ele irá cuidará muito bem de você. — Rio, porém, estou extasiada.

— Estamos morando na Inglaterra há quinze anos, Diniz. Somos praticamente ingleses...

— Não somos ingleses, somos turcos! — Ele me interrompe bruscamente. — Nós temos a nossa terra e temos a nossa cultura — rebate rudemente, encarando-me com dureza.

Resfolego.

— Isso não importa, porque eu não vou me casar com esse... Por Deus, eu nem o conheço, esse homem é um completo estranho para mim!

— Acontece que você não tem escolha, irmã! — Ele rosna, ficando de pé e no ato, larga o guardanapo com força ao lado do seu prato.

— Que conversa é essa, Deniz? — rebato entre dentes, porém, olho para os outros ao redor da mesa. — Vocês também pensam assim? Acreditam nessa bobagem de costumes e tradições?

— Sila querida, é o melhor para vo...

— O melhor para quem, mamãe?! — rebato irritada.

— Não grite com a nossa mãe! — Hakan interpele irritado.

— Isso é loucura! — Tento trazer um pouco de juízo para as suas cabeças. — Eu não conheço aquele homem e vocês querem me entregar para ele como se eu fosse a droga de uma mercadoria! — brado, voltando a encarar o Diniz. — A minha resposta é não, e ponto final! — rosno, me levantando da cadeira e penso em sair da sala de jantar quando dois homens ficam em pé bem na entrada, impedindo a minha passagem. — Peça para eles me deixarem passar! — retruco irritada. — Deniz, peça para me deixarem passar! — ordeno o encarando com irritação.

— Eu sinto muito, Sila, mas para garantir que você cumprirá o pedido do nosso pai, você ficará trancada no seu quarto até o dia do casamento.

Faço um O com a boca e transtornada arqueio as sobrancelhas.

— O que você disse?! — Dou um passo na sua direção. Contudo, sinto mãos fortes agarrarem nos meus braços e sou praticamente arrastada escadas acima. — DENIZ! — grito enfurecida. — NÃO FAÇA ISSO COMIGO!

Minutos depois, os seguranças me forçam a entrar no meu quarto e quando eles me dão as costas vejo uma oportunidade de fugir. Entretanto, eles agem rápido e a fecham com chave antes que eu a alcance.

— DENIZ, ABRE ESSA DROGA DE PORTA! — Volto a gritar, batendo com força na madeira. — DENIZ!!! VOCÊ NÃO TEM ESSE DIREITO, ABRE ESSA DROGA DE PORTA! — Em algum momento me canso de gritar, bater e chutar, e me deixo arrastar pela madeira, sentando-me desolada no chão. — Mamãe por favor, não o deixe fazer isso comigo! — suplico em lágrimas. — ABRE ESSA DROGA DE PORTA!

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