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— Demitida? — Meu coração chegou errar as batidas. — O que houve, senhor, o que fiz de errado?
— Achou mesmo que sou burro menina? — Levantou-se nervoso e veio em minha direção. — Aurora. Mora na capital, tem 18 anos e um Pinscher possuído pelo demônio. — Engoli seco. — Sabe de uma coisa, achou mesmo que colocaria dentro da minha casa alguém sem saber as procedências?
Fui descoberta.
— Me desculpa, senhor, eu menti, devia ter falado a verdade desde o começo.
— Tarde demais! — gritou. — Sabe o que mais me impressionou? A sua capacidade e rapidez de inventar mentiras!
— Eu estava precisando muito desse emprego e...
— Cala a boca! — Gritou outra vez. — Se tem algo que eu odeio nesse mundo, é a mentira, sabia? Quero que arrume suas coisas e saia da minha casa imediatamente!
— Mas está de noite.
Nesse momento ele se encostou tão próximo a mim que fiquei com medo de sua reação, até parecia um déjà vu.
— E o que eu tenho a ver com isso? — Abaixou a voz. — Não é você que gosta de ficar perambulando por aí a noite?
— Como assim, como sabe? — Não entendia como sabia que eu havia chegado ainda a noite na fazenda.
— Você chegou em meu celeiro de madrugada, eu vi nas câmeras. — Se consertou explicando, parecia ter ficado sem jeito.
— O senhor me viu no seu celeiro pelas câmeras?
Lembrei haver tirado a roupa molhada naquele dia para tentar secar, pensei na possibilidade dele ter visto demais.
— Não mude de assunto garota!
Voltei a mim, tentando não pensar demais.
— Por favor, senhor Oliver, me perdoa, falta apenas dois meses para eu completar dezoito anos, preciso muito desse emprego, eu não tenho para onde ir.
— Devia ter pensado antes de inventar suas mentiras, eu nem sei quem é você!
— Eu não menti meu nome, me chamo Aurora, tenho 17 anos, não sou da capital, sou de uma cidade do interior, eu não tenho onde morar.
— Não me interessa, não gosto de mulheres mentirosas.
— Eu iria contar a verdade, e também, pensa no Noah, como ele vai ficar?
— Arrumo outra pessoa para ficar com ele!
— Eu me apeguei a ele, por favor, não me afaste dele assim.
— Ah, pronto, agora é o que me faltava. — Riu irônico — Você conhece o bebê há 3 dias e já está apegada a ele? Faça me rir! — Caminhava pelo escritório — Até onde uma pessoa consegue ir, só para não perder o emprego ou o teto onde morar — Falou sarcástico.
— Eu estou falando sério, ele é um amor de bebê, e cheguei aqui, vi o quanto ele estava mal cuidado, não havia nem tomado um banho, morrendo de fome, e sabe lá há quantos dias estava chorando.
— Não é da sua conta.
— É da minha conta sim! — Criei coragem não sei de onde e aumentei a voz. — Ele estava mal tratado, eu só fiz cuidar dele e dar amor, já que vi que o senhor nem encosta no menino, e nem a mãe apareceu por aqui, sabe-se lá onde ela está!
— Cala a sua boca, você nem sabe das coisas para ficar falando! — Falou irritado.
— Eu posso até não entender das coisas, mas eu sei que aquele bebê dormindo agora lá no quarto, precisa de amor e afeto, e infelizmente, até o momento não vi ninguém além de mim, dar a ele.
— Ah é assim? — Parou como se estivesse pensando em algo. — Já que você se apegou tanto assim como diz, então cuide dele sem receber um centavo, cuide por amor, quero ver agora!
— Acha que tudo na vida é dinheiro, senhor? — Pensei muito bem antes de responder.
Oliver era arrogante, e com certeza era daquelas pessoas que pensavam que o dinheiro resolvia todas as coisas, eu não sou hipócrita de não saber o valor do dinheiro, mas sei que as coisas mais importantes da minha vida não voltariam nem por toda a riqueza do mundo. Noah é um bebê indefeso, não conheci ninguém até o momento que possa defendê-lo, e eu, mesmo que precise de dinheiro, não poderia deixá-lo a míngua como estava antes, não seria um ser humano e muito menos uma mulher que um dia tinha o sonho de ser mãe. As coisas poderiam mudar mais para frente, mas agora, Oliver precisava saber que nem tudo se paga com dinheiro.
— E se quer saber se eu cuido dele sem receber um centavo, a resposta é sim, eu cuido! E não é porque preciso de um lugar para ficar ou coisa assim, eu cuido porque ele é um bebê que precisa de amor, carinho, e principalmente proteção, coisa que você deve não saber o que é!
Nesse momento o homem me olhou com um olhar indecifrável, ficou parado por alguns segundos antes de falar, ele estava me testando, isso era obvio, mas não cairia em sua armadilha.
— Essa eu quero ver. — Riu mais uma vez irônico — Vamos ver quanto tempo seu amor e carinho vão durar por aqui.
Virou as costas e saiu batendo forte a porta do escritório, eu assustada ainda com a conversa, fiquei alguns minutos pensando. O Noah é um bebê que ninguém se importa com ele, se eu for embora ele vai voltar a situação que estava quando o encontrei, Oliver pode arrumar outra pessoa para ficar com ele? Pode. Mas se já estou aqui, vou até o fim.
Sei que preciso de dinheiro, mas agora, Noah precisa de mim, e eu preciso dele, é estranho pensar isso, mas sinto como se eu tivesse alguma ligação ou responsabilidade sobre ele, como se eu fosse sua mãe.
Andei voltando para o quarto, estava tudo escuro, até os corredores, caminhei, segurando pelas paredes, antes de chegar ao quarto vi de relance Oliver sentado no sofá, ele estava virando uma garrafa de bebida na boca em um gole só, esse homem amargo não tinha paz era notório. Voltei para o quarto e vi aquele pedacinho de gente dormindo no berço, olhei para a cama enorme, resolvi pegá-lo no colo e dei um beijinho em sua testa, ele franziu e deu um leve sorrisinho, foi aí que me apaixonei mais ainda por aquele bebê, deitei na cama e o coloquei ao meu lado abraçando-o carinhosamente.
— É meu amorzinho, se estou aqui agora para te dar amor e carinho, pode ter certeza que não faltará em nenhum momento de minha parte por você.
E assim, deixei que ele dormisse ao meu lado, afinal, agora eu estava ali por ele, e me sentia mais segura e tranquila assim, ali bem pertinho de mim, acho que, no fundo, ele se sentia mais seguro também ao meu lado, não entendia aquela ligação entre nós, mas sentia que não queria ficar longe dele nem por um segundo.