Capítulo 01 - O bordel
Eu entro no carro do meu pai destroçada , o coração apertado no peito sentindo a dor de ser traído pela pessoa por quem ele mais batia nessa vida e a mente me torturando com a confissão .
" Foi só uma vez, eu juro " - a frase se repete diversas vezes me fazendo sentir meus olhos e nariz arderem por causa do choro que insiste em sair mas como das outras vezes eu respiro fundo e tento não derramar uma lágrima se quer .
Eles não merecem nem isso vindo de mim.
Jão - Te tirar do morro . Pelo menos por hoje - a voz me trás de volta pro agora e eu olho pro acento ao meu lado vendo ele dirigindo fumando um baseado .
Tá parecendo uma chaminé ambulante , a verdadeira maria fumaça.
-- Não precisa - falo baixinho e no segundo seguinte ouço ele estralar a língua no céu da boca como sempre faz quando não tá satisfeito com algo.
Jão - Tú não cansa de ser teimosa , né ? - aponta puto pra mim com a mão do baseado - E se ele vier atrás de tú pedindo perdão e os carai a quatro ? - pergunta - Vai fazer o quê ? Perdoar o vacilo dele ?
-- Ele não vai vim , pai - falo cansada , tentando me convencer que ele vai respeitar o meu espaço mesmo sabendo da dependência emocional e da pequena obsessão que ele tem por mim - E mesmo se vier , eu já me decidi e pra ele eu não vou voltar .
Jão - Tú que pensa. - pausa - Não vou te falar nada hoje porque eu tô ligado que o teu psicológico já tá todo fodido, mas amanhã nós dois vai sentar e vai ter um papo maneiro sobre ... eles - vejo sua dificuldade em terminar a frase mas não falo nada.
Eu sei que embora ele tente não demonstrar também está tão ferido quanto eu e isso me faz sentir mais raiva ainda da minha mãe porque ela não só fodeu com o meu psicológico mas também com o dele que era alguém que sempre fez de tudo por ela .
- Vamo ... - nós dois falamos juntos e sorrimos com isso , bom presságio .
Jão - Pode falar minha deusa - seu tom é calmo e eu fico aliviada por ter ele de volta .
-- Eu quero beber , pai - jogo meus cachos pra trás me ajeitando no banco - Tudo que meu corpo aguentar eu quero
Jão - Então somos dois - admite , e girando o volante pega outro rumo dentro do morro - Te levar pra um lugar que eu sei que ninguém vai encher nosso saco .
Poucos minutos depois ele estaciona o carro encima de uma calçada e então me olha com atenção enquanto eu encaro o letreiro em led neon no alto escrito : CALIENTE .
É uma boate mas também um prostibulo , depende da intenção de quem visita.
Eu mesma só vim pra dançar e acho que meu pai pra buscar os lucros já que ele é um dos donos .
Jão - E aí ? - dou de ombros abrindo a porta saindo lá pra fora com ele me seguindo - Quiser ir pra outro lugar a gente vai .
-- Aqui tá bom - paro olhando ele destrancar a porta do local - Tem certeza que ninguém vai ficar perturbando ?
Jão - Absoluta - ele abre dando espaço pra mim entrar - Tá geral pro baile e hoje só quem entra é quem tem a chave .
Confirmo entrando no espaço com pouca iluminação e logo as luzes em neon começam a piscar e iluminar o grande salão com um pole dance no meio ao detectar minha presença.
-- Que chique isso aqui - comento me referindo ao detector de presença indo pro bar que fica logo na entrada enquanto meu pai vai pro lado oposto , pego só as mais fortes e volto subindo pra sala vip no andar de cima.
É um espaço com paredes em vidro fumê que dá pra olhar todo o salão de dança lá embaixo mas de lá ninguém vê nada daqui .
Coloco as garrafas encima da mesinha de mármore branco em frente ao sofá de couro preto que pega de uma parede a outra dando um ar sofisticado ao espaço e sento esperando meu pai que sumiu.
Jão - Se liga ! - ouço ele gritar de algum lugar e logo o proibidão sai dos auto falantes preenchendo todo o espaço - O pai dança demais . Cê é louco ! - o moreno queimado de sol aparece no meu campo de visão se mexendo igual uma lagatixa e é impossível não rir da cena - Ignora Jão , isso é inveja - fala com ele mesmo abrindo as garrafas.
-- Inveja de uma lagatixa dançante ? - implico olhando pra ele que rir me estendendo a garrafa de Royal Salute e com isso a gente engata bebendo , dançando e tirando sarro um do outro .
Tudo pra esquecer que fomos traídos pelas pessoas em que a gente mais confiava .
Um bom tempo depois com o álcool tomando o lugar do sangue na veia eu deito no sofá olhando por debaixo da mesa meu pai quase apagando do outro lado .
Tá todo rabugento resmungando coisas que eu tenho certeza que nem ele entende , falando sozinho igual doido . E a culpa é dele mesmo que inventou de misturar bebidas e drogas .
Eu ainda avisei que ele ia dar pt por isso , mas tú escutou ? Porque ele não. Fez foi rir falando que mudava até de nome se isso acontecesse .
Bom , parece que tem gente que não vai mais se chamar João.
-- O senhor quer uma água? - pergunto , sentindo meu olho pesar mas evito fechar pra não ter que sentir tudo ao meu redor girar , mais do que já está - Eu pego lá - aponto pro andar de baixo onde fica o freezer de bebidas
Ele resmunga algo desconexo fazendo um joinha que eu entendo como um sim , e tomando cuidado pra não cair nas escadas eu desço devagar, me apoiando no corrimão .
Pego uma garrafinha de água e quando tô voltando a porta da frente é aberta me chamando atenção , por ela passa uma morena que eu não sei se é o efeito Cinderela do álcool ou se é ela mesmo mas...
Puta que me pariu !