07
Quase uma hora depois...
Mantendo meu olhar fixo na estrada, não paro de me mover sobre o assento, seguindo o ritmo da música que envolve o ambiente. Não satisfeita, começo a contar à melodia que tanto amo, afinal sou muito fã de Simone e Silmara.
Fala comigo o que passou;
Estou chorando por amor;
Yo estoy aquí no tengas miedo;
Me mata essa dor;
Todos falam de mim, de como fui uma tonta;
Me perdi por um louco;
Meu coração está quebrado.
No llores más, ya estoy aqui;
No sufras tanto que un loco fue él que te dejó;
Não posso mais, devo seguir;
Quero esquecer, bailar e beber para ser feliz...
A música continua e eu ficava ainda mais eufórica nas partes em que ouvia a voz de Sebastián Yatra e continuei cantando...
No llores más, ya estoy aquí (aquí);
No sufras tanto que un loco fue el que te dejó...
De repente me vi pensando em Fernando, em seus lábios juntos dos meus. Sacudo a cabeça tentando afastar aquele devaneio, que já estava fazendo minha pele ficar quente e meu coração ganhou um ritmo frenético. Para uma mulher de 30 anos, eu parecia uma adolescente diante da sua primeira paixão. Sorrio internamente e não demorou muito para chegar ao local que está bem movimentado, dois minutos depois, já estava andando pela multidão, observando as crianças sorrindo, os casais que acompanham os filhos. Prossegui indo em direção ao banco, que mesmo a distância, vi que só tinha uma senhora, todavia, antes que eu chegasse ao meu destino, me detive quando consegui ouvir o som que acabou se sobressaindo ao barulho do lugar.
— Ma... Ma... Ma... — olhei para o lado direito e meu coração se agitou dentro do peito, minha respiração ficou acelerada e um sorriso largo tomou conta do meu rosto, ao ver o pequeno Davi que estava no colo do pai, segurando um mordedor e não parava de sacudi-lo, enquanto gritava a mesma palavra. Desvio o olhar e meus olhos se conectaram com os de Fernando, que esboçou um largo sorriso que fez um tremor atravessar o meu corpo inteiro.
— Elisa!
Saio do estado catatônico que me encontrava e dou algumas passadas, me juntando aos dois, logo depois, ele puxa a bolsa e me sento ao seu lado.
— Não esperava encontrá-la aqui.
— Nem eu, a vocês, posso segurá-lo?
— Claro que sim, se ele falasse ia pedir isso — começamos a sorrir, já que o pequeno estava inquieto tentando escapar dos braços do pai.
Com ele em meus braços, começo a beijar o seu rostinho e Davi sorri revelando os quatros pequenos dentinhos. Nos momentos seguintes, nos levantamos e começamos a dar uma volta pelo lugar, contudo, eu percebi que Fernando estava inquieto, como se algo tivesse o incomodando, cheguei a pensar que de alguma forma pudesse ser a minha presença, então resolvo questionar.
— É impressão minha ou você parece que não gostou muito de me encontrar?
— De certo é fruto da sua imaginação, só fiquei pensando se o seu noivo não iria gostar de vê-la ao nosso lado, já que pelos olhares curiosos, todos devem estar pensando que você é a mãe do Davi e nós três somos uma família.
Engoli em seco ao ouvir suas palavras, mas também fiquei vibrando por dentro por saber que não era nada do que eu estava pensando e mais ainda por todos cogitarem que eu era mãe do pequeno anjo que estava quieto em meus braços e principalmente, que nós três pudéssemos ser uma família. Algo que aqueceu o meu coração.
***
Suas feições foram suavizando à medida que fui relatando que entre mim e Augusto não existia mais nada, sempre fui bem fechada em relação a minha vida pessoal, mas senti a necessidade de esclarecer as coisas. Talvez porque no fundo tinha esperança que aquele beijo não tenha sido dado só por impulso, que o homem a minha frente estava, assim como eu, sentido algo além de uma simples atração física ou que o desejo da carne não fosse a única coisa que o impulsionou a querer me beijar naquele dia. Depois que esclareci tudo, pelo horário, onde a claridade do dia havia dado lugar à noite, tendo assim o céu iluminado pela grandeza da lua e das estrelas, era hora de levar o pequeno Davi para casa, já que era tão pequeno ainda, ciente disso, eu fui a primeira a me pronunciar.
— Foi muito bom encontrar vocês dois — faço uma pausa beijando em seguida uma das mãos do lindinho que estava com seus lindos olhos fixos no pingente do meu cordão, o qual ele gostava de ficar puxando, então continuo — A tia queria ficar mais com pouquinho com você, mas já está bem tarde — dessa vez dou um beijo em sua cabecinha, já que iria entregá-lo ao seu pai, mas senti minhas bochechas ruborizarem diante das palavras que ouvi.
— A Sam deixou uma lasanha já pronta para ir ao forno, se você quiser, podemos ir para minha casa, além de jantamos poderá ficar um pouco mais com ele.
As palavras escaparam sem querer eu pudesse controlar.
— Sim, eu quero ir — um sorriso largo surgiu no rosto bonito dele, parecia que estava satisfeito com a minha resposta, em contra partida, eu estava a me perguntar que feitiço era esse, que ao estar sozinha com ele, me tornava outra pessoa. Como se outra parte de mim se libertasse, assumindo o controle do meu corpo. Meus pensamentos foram para bem longe quando ele voltou a se manifestar.
— Então vamos.
Caminhamos em seguida até o seu carro, coloquei o pequeno no bebê conforto, logo depois segui até o meu e assim que ele colocou o seu veículo em movimento, acabei o seguido.
Fernando Mendonça
Passei o trajeto todo com o sorriso estampado no rosto, um percurso que foi feito em poucos minutos e quando dei por mim, já estava passando pelo enorme portão, assim como ela. Saímos do carro e Elisa pegou o Davi e mesmo dizendo que eu faria, ela acabou indo dar banho nele, enquanto estou aqui preparando o seu mingau. Fiquei distraído nos meus próprios devaneios e só saí do transe que me encontrava ao sentir o cheiro do seu perfume que impregnou as minhas narinas e ao me virar, o som da voz do meu filho se fez presente.
— Da... Da... Da... — ele começou a dizer, olhando fixamente para a mamadeira em minhas mãos.
— Alguém aqui está com muita fome — Elisa alegou sorrindo ao ver como o pequeno em seus braços estava afoito.
Seguimos para sala e quando eu fui pegá-lo para dar-lhe o mingau, para minha surpresa, ele começou a choramingar não querendo sair do aconchego dos braços que o envolvia, não tive alternativa a não ser deixar que ela desse a sua comida, a qual não demorou muito para ser devorada pelo garotinho que estava faminto. Liguei a televisão e ele que já havia arrotado, ficou com seus olhos azuis cravados no grande telão que exibia o desenho da galinha pitadinha e sua turma, quase meia hora se passou e ele lutava contra o sono, desviando sua atenção da TV, para a mecha loira e sedosa do cabelo de Elisa, instantes depois, acabou sendo vencido pelo cansaço.
— Eu vou colocá-lo no berço.
— Aproveito então para colocar a lasanha no forno — ela estava segurando o riso, o que me deixou curioso, mas logo a resposta veio.
— Jamais imaginei que o CEO do maior grupo de supermercados do estado fosse tão prendado em relação aos assuntos do lar, sem contar aos cuidados com o pequeno anjo.
Desta vez fui eu quem não segurou e comecei a sorrir, mas vi seu rosto ficar vermelho ao ouvir minhas palavras.
— Ainda tenho muitas outras habilidades, as quais, eu tenho certeza que você vai adorar descobrir.
Elisa em passos largos começou a caminhar em direção a escada com a desculpa que precisava levar Davi para o quarto, contudo, eu só pensava em tê-la em meus braços, beijar a sua boca e poder contemplar cada curva do seu corpo magnífico.