05
Elisa Andrade
Acabei dando pausa no episódio que estava assistindo e fui ao banheiro, depois de ter aplicado o colírio nos meus olhos, caminho em direção à porta e ao abri-la ouço o barulho do meu celular vibrando. Com passos largos alcancei o objeto embora hesitante, acabei atendendo, mesmo sabendo que era um número desconhecido, afinal de contas, poderia ser algo sobre algum paciente. Quando ouvi a voz que atingiu os meus tímpanos, tremores violentos tomaram conta de cada fibra do meu corpo, meu coração desenfreado, batia intensamente, porém, senti um aperto profundo, uma angústia ao escutar o choro do Davi e quando Fernando disse que ele não estava bem e novamente ouvi o seu choro, as palavras rapidamente escaparam pelos meus lábios.
— Claro! Os dentinhos, eu estou indo aí, apenas me passe o seu endereço que logo chego.
Fernando me mandou a localização pelo WhatsApp e nos momentos seguintes, fui até o escritório e peguei além da minha maleta, a chave do meu carro, com passadas firmes deixei o ambiente e dois minutos depois, já estava dentro do veículo com as mãos firmes no volante. Com carro em movimento, passo pelo enorme portão e vou me guiando pelo GPS, levaria cerca de vinte minutos para chegar até a sua residência, porém, embora mantivesse minha atenção na estrada, o choro sofrido do pequeno anjo continuava ecoando dentro de minha cabeça, como se ele gritasse dentro do meu ouvido, deixando-me ainda mais preocupada. Para minha sorte, o trânsito está tranquilo e não demorou muito para que eu chegasse em frente ao condômino luxuoso, localizado em um dos bairros mais nobre da capital do estado. O portão se abriu e minha entrada foi autorizada, entretanto, só haviam três casas e somente uma estava com as luzes acessas e foi justamente em frente a essa que estacionei o meu carro.
Desço do veículo e quando chego perto da porta, ela é aberta por Fernando que estava com Davi nos braços e este ainda choramingava, o rosto vermelho e a testa enrugada, demostrando que estava sentindo dor.
— Obrigado por ter vindo.
Sua voz me tirou do meu estado de devaneio.
— Não precisa agradecer — digo e já estava dentro da sala, que por sinal tinha uma decoração impecável, mantendo o foco no bebê, que começou a balbuciar entre os soluços.
— Da... Da... Da...
— A tia vai cuidar de você meu pequeno.
— Podemos ir para o quarto dele — disse ele e eu apenas fiz um gesto com a cabeça, concordando.
Subimos os degraus, atravessamos o corredor e paramos em frente a uma porta branca que tinha um pequeno letreiro.
“Príncipe Davi”. Embaixo, dois sapatinhos, quando ele abriu a porta, fiquei encantada com o ambiente que tinha as paredes pintadas de branco e azul. Uma decoração de muito bom gosto e na parede próxima ao berço, tinha uma frase: "Sonhe alto meu pequeno".
— Posso usar o banheiro para lavar as minhas mãos?
— Claro que sim — disse apontando para porta, enquanto coloco minha maleta em cima da cama. Um minuto depois, retornei e pedi que ele colocasse o pequeno príncipe em cima da cama, abri a maleta e comecei a examiná-lo, bastou abrir a sua boquinha para ele voltar a chorar.
— Vou precisar de uma fralda e umedeça um pouco.
Ele, com passos precisos, foi até o closet e logo depois até o recipiente em cima do criado mudo, onde tinha algumas garrafas em cima e molhou um pouco o pano, logo depois se juntou a nós. Levanto o Davi, o pegando em meus braços, esse por sua vez ficou entretido com o pingente, enquanto Fernando me passou a fralda que acabei por colocar em meu dedo indicador o tecido umedecido e levei até a boca do bebê, alcançado a parte superior da sua boca e começo a massagear suavemente a sua gengiva, fiz o processo por alguns minutos e sua expressão se tornou suave, ele deixou o objeto que estava em meu pescoço de mão e começou a brincar com uma mecha dos meus cabelos, murmurando alguns sons incompreensíveis.
— Vou te ensinar algumas dicas para aliviar as dores do nascimento dos dentinhos. Pode ocorrer que em alguns, ele não venha a sentir os mesmos sintomas, mas será bom estar preparado.
— Não sei como te agradecer.
— Só em vê-lo bem agora, já estou muito feliz.
— Pa... Pa... Pa...
— Acho que ele quer você — falo e quando Fernando ia pegá-lo, Davi levou uma das mãozinhas até o meu rosto e o que aconteceu em seguida me deixou paralisada, algo dentro de mim vibrou com tanta intensidade, no mesmo instante que uma onda de sensações envolveu todo o meu ser.
— Ma... Ma... Ma...
Fernando Mendonça
Fiquei imóvel observando como ela cuidava do meu filho. Davi, ao contrário de minutos atrás, estava tranquilo e dava gosto em ver a cena dos dois juntos. Desde o momento que aquela mulher que o gerou no ventre – eu não a considero nem sequer como mãe dele – disse aquelas palavras como se tivesse negociando uma mercadoria, eu e Samanta decidimos juntos que cuidaríamos do Davi, que não o deixaríamos ser criado por uma babá, que a qualquer momento poderia desistir do trabalho e assim outra e mais outra viriam, confundindo assim a criança que já teria criado um relacionamento afetivo. Todavia, me pego imaginando como seria a nossa vida e principalmente a do meu filho, amando, tendo alguém em sua vida como a mulher que o conhece há poucos dias, mas que demostra ter tanta afeição por ele, o que era recíproco o carinho, já que este parecia rendido aos encantos e cuidados de Elisa Andrade, porém, eu fiquei completamente estático diante do que aconteceu poucos minutos atrás, quando ia pegá-lo e além de fazer o gesto que somente eu e a Sam recebíamos e entediamos, como a demonstração do seu carinho, ele que desde o dia que veio ao mundo, mantinha contato direto com Samanta e nunca havia a chamado assim, proferiu sem parar as palavras que jamais tinha dito antes e não parava de passar sua mãozinha na pele branca e sedosa da única mulher capaz de me deixar a mercê de um turbilhão de sentimentos.
Volto à realidade quando ouço a sua voz, que soa como uma linda melodia aos meus ouvidos.
— Ele está sonolento, mas acredito que não tenha se alimentado direito, agora que ele já está melhor, seria bom dar uma mamadeira para que possa dormir tranquilo.
— Vou prepará-la — digo e saio do quarto, deixando os dois conversando e pelos sons emitido por Davi, ele parecia entender o que ela estava dizendo, ou pelo menos, gostando de ouvir sua voz doce, suave e encantadora, que mais parecia de um belo anjo.
Minutos depois...
Assim que chego ao quarto, encontro Elisa sentada na poltrona de amamentação enquanto canta e Davi estava quietinho, olhando fixamente para ela. Aproximo-me e ao chegar a sua frente, digo.
— Vou dar a mamadeira a ele.
— Deixe que eu faça isso — disse estendendo a mão para pegar o objeto, feito isso e com a mamadeira em mãos, após checar a temperatura do leite, sua atenção se voltou para o pequeno, que já mantinha o olhar no objeto a sua frente.
— Aposto que você está com fome! — diz enquanto conduz a mamadeira até a sua boquinha e ele começa a sugar o líquido com certa voracidade.
— Ele está mesmo com fome — digo e fico observando-os feito um bobo com um largo sorriso no rosto. Quando ele terminou, ela o colocou para arrotar e uns quinze minutos depois, estávamos os dois parados em frente ao seu berço, em silêncio, olhando para o pequeno que tinha uma expressão suave. Davi dorme calmamente e fico pensando nos últimos acontecimentos, do desespero de horas atrás. Eu o amo mais que a minha própria vida.
Elisa Andrade
Não consigo explicar tudo que sinto ao estar perto deles dois. A sensação é que já os conheço há muito tempo, sinto algo forte e intenso, uma vontade de proteger e dar todo o meu amor para o lindinho que agora dorme profundamente. Não sei quais os segredos em volta de Fernando e principalmente o fato da mãe de Davi não está aqui, mas, eu pude ver o quanto o homem ao meu lado ama o seu filho, o quanto estava angustiado e preocupado e com tanto dinheiro, poderia recorrer a uma babá ou várias, mas se mantinha firme ao lado do pequeno anjo.
Apesar do carinho e amor que sempre recebi dos meus tios, e, por algum tempo acreditei que Augusto fosse o homem da minha vida, eu sempre senti um vazio no peito, como se eu precisasse de fato encontrar aquilo que faltava para me sentir completa, mas neste momento, eu sinto uma paz tão grande, como se tivesse achado o que tanto procurava.
Minutos depois, seguimos em direção a porta, já estava tarde e eu precisava ir embora, passamos pelo corredor e quando dei por mim, já estava no andar de baixo, próximo à porta.
— Qualquer coisa não hesite em me ligar — aviso levando uma das mãos de encontro à maçaneta, mas antes que a porta fosse aberta, meu coração disparou e minha respiração ficou ofegante, quando ele me surpreende assim que suas mãos seguraram firmes a minha cintura, puxando-me para junto de si. Olho para ele assustada e ao mesmo tempo uma onda de calor toma conta de cada centímetro da minha pele.
— O q... Que você esta fazendo? — minha voz sai arrastada.
— Aquilo que me deu vontade desde o momento que a vi pela primeira vez — meu coração pulou uma batida diante da sua resposta e de tamanha aproximação. O desejo e o fogo se espalharam pelo meu corpo, me fazendo ansiar pelo seu beijo. Sua boca buscou a minha, seus lábios são macios e tem gosto de menta. Sem resistir, acabo por retribuir o beijo, as nossas línguas se encontraram e se misturaram, indo de um lado para o outro, enquanto suas mãos apertavam a minha bunda. Não sei quanto tempo durou, só nos separamos quando o ar se tornou escasso, meu corpo inteiro estava em chamas e antes que viesse a me entregar para que ele as apagasse, me afasto.
— E... Eu preciso ir — digo num fio de voz e abro de imediato a porta e com passos apressados, alcanço o meu carro. Respiro profundamente ao estar dentro do veículo, que logo é posto em movimento por mim, mas no fundo, algo gritava no meu interior para continuar junto dele.
"O que está acontecendo comigo? Por que sinto um desejo devastador e sinto a necessidade de ter o seu corpo junto ao meu?"