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03

Elisa Andrade

Eu tinha acabado de atender a pequena Alice e meu olhar estava direcionado para a tela do notebook, onde eu já estava com a ficha do próximo paciente: DAVI MENDONÇA em aberto, contudo, meu olhar caiu sobre o nome do seu pai, o que chamou a minha atenção, porém, quando ouvi o barulho da porta se abrindo e logo em seguida foi fechada, ao levantar a cabeça, assim que meus olhos foram de encontro à imagem que surgiu no meu campo de visão, minha respiração ficou ofegante, meu coração pulava descompassado dentro do peito.

Ele era lindo, alto e dono de um belo corpo. Seu rosto era perfeito, com uma boca bem desenhada e com enormes olhos azuis da cor do mar, um verdadeiro oceano, límpido, cristalino, perfeito. Sua beleza não parecia ser deste mundo, ele era um deus grego, a própria personificação da beleza em forma de homem. Segundos ou talvez minutos passaram-se e um silêncio constrangedor pairou a nossa volta, enquanto travávamos um duelo somente com o olhar. Por alguns segundos a minha respiração falhou e o ritmo dos meus batimentos cardíacos diminuiu, eu já estava sufocando quando voltei à realidade e meu coração novamente voltou a bater fortemente assim que o barulho causado pelo pequeno anjo ecoou no espaço, porém, desvio o olhar para ele e um sorriso banguela tomou conta daquele rostinho que era lindo como do pai. O homem, assim como eu, saiu do transe que estava e quando seus lábios se moveram e sua boca se entreabriu, todos os pelos do meu corpo se eriçaram perante o som da sua voz.

— Bom dia, sou Fernando Mendonça, pai do Davi — respiro fundo, a saliva descendo com dificuldade pela minha garganta seca e então respondo.

— Bom dia, sou Elisa Andrade. Acredito que a Jaqueline já tenha informado do ocorrido com a minha tia.

— Sim, estimo melhoras para ela.

— Obrigada — disse e fiz um gesto para que ele se sentasse.

No momento seguinte, já acomodado, toda minha atenção foi direcionada para o bebê mais lindo que já tinha visto na vida. Seus olhos azuis eram tão intensos, como se fossem duas safiras gigantes e seu cabelo loiro era o encaixe perfeito para o rostinho angelical. Deixo os devaneios de lado e começo a trabalhar.

— Vamos tirar a roupinha antes de iniciar alguns procedimentos.

Ele se levantou e eu dei a volta na mesa e peguei o Davi, o levando até a maca onde minutos depois, já havia retirado sua roupa, o deixando somente de fralda, enquanto examinava sua boca que já tinha dois dentinhos e dois que estavam prestes a rasgar a gengiva, ele não parava de puxar o pingente do meu cordão.

— Ele gostou de você — estremeço ao ouvir a voz dele novamente, não conseguia entender o que estava acontecendo comigo, por que a sua presença fazia-me sentir como se tivesse borboletas dentro do meu estômago e meu coração continuava agitado dentro do peito, funcionando num ritmo frenético.

— Você é um bebê muito fofo, agora a tia vai dar uma olhada nesse ouvido para ver se está tudo bem — digo me referindo ao ouvido do lado direito.

Derreti-me toda quando ele começou a fazer alguns sons, que embora não entendendo direito, era como se tivesse concordando com que eu havia dito. Examino minuciosamente a sua orelha e logo em seguida faço a mesma coisa com o ouvido esquerdo, depois de concluir o procedimento, veio a pesagem e também medir o seu corpo para saber o seu cumprimento, feito isso, coloquei novamente a sua roupinha.

— Garotão vem aqui com o papai.

No momento que fui entregá-lo para ele, senti uma sensação totalmente inexplicável quando a pequena mãozinha foi de encontro ao meu rosto, deslizando suavemente pela minha pele. Aquilo era tão bom que poderia ficar o dia todo, parada ali, recebendo aquele pequeno gesto de carinho, com Davi já nos braços do pai, ele foi se acomodar novamente na poltrona, enquanto fiz o mesmo.

— O peso e o tamanho estão de acordo com a idade dele, porém, a gengiva superior está bastante inchada, o que indica que os dentes incisivos central estão prestes a sair, pode ocorrer de ele ter febre, já que algumas crianças sentem mais do que os dois primeiros dentes que já nasceram. Mas, será enviado para o seu e-mail todos os procedimentos a seguir, assim, tanto o senhor, quanto a sua esposa estarão cientes que isso é algo normal.

Educadamente ele esperou que eu terminasse de falar, só então eu engoli em seco ao ouvir a resposta que veio em seguida.

— Seguirei todas as recomendações, porém, eu não sou casado e ele não tem mãe.

Seu tom saiu um pouco rude e sua expressão mudou assim como seus olhos já não tinham o mesmo brilho. O clima se tornou pesado, porém, não durou muito tempo, já que Davi começou a balbuciar.

— Pa... Pa... Pa... Pa... — pronuncia enquanto puxa os cabelos do seu pai, que abre um largo sorriso, no entanto, ele vira o rostinho em minha direção e fica olhando para o pingente do meu cordão.

— Da... Da... Da... Da...

— Você gostou mesmo dele — digo sorrindo, era difícil não se render aos encantos do anjinho lindo.

Depois de trocar mais algumas palavras, ele se levantou e não resisti em pedir para dar um beijo no Davi, que aproveitou para pegar uma mecha do meu cabelo, assim que dou um beijo na sua cabecinha cheirosa, digo.

— Nos vemos na próxima consulta e qualquer imprevisto, o meu número estará no documento que será enviado por e-mail.

— Muito obrigado por tudo — disse ostentando um sorriso largo, revelando aqueles dentes brancos e perfeitos. Logo depois os dois sumiram do meu campo de visão e me vi parada, me perguntando quais segredos existem por trás do homem que mudou seu temperamento como num abrir e fechar de olhos, quando o assunto foi a mamãe do pequeno príncipe. Por que isso o deixou tão enfurecido? Dúvidas e mais dúvidas assolam a minha mente, porém, eu não conseguia esquecer aquele belo rosto e sem que eu pudesse evitar, as palavras escaparam pelos meus lábios.

"Que homem é esse, meu Deus?" — digo suspirando.

Fernando Mendonça

“DROGA!” — repreendo-me em silêncio, como pude ser tão grosseiro com alguém que estava até então somente fazendo o seu trabalho. Todavia, só em pensar que aquela infeliz carregou o meu filho em seu ventre, me deixava fora de mim. Susan jamais poderá ser considerada a mãe do Davi, pois se fosse pela vontade daquela maldita, ele não teria nascido.

— Da... Da... Da... Da...

Meus pensamentos foram afastados e o pequeno ainda continuava a dizer as mesmas palavras, o que fez com que as imagens de Elisa surgissem como flashes em minha frente. Já tive várias mulheres ao longo da minha vida, elas simplesmente vinham de bom grado para que eu pudesse me deliciar do seu belo corpo e tudo que eu sempre ofereci foram apenas poucas horas. Nada além de uma única vez, porém, ninguém, até minutos atrás, havia feito um misto de sensações desconhecidas me envolverem.

Elisa é muito mais que a dona de um corpo atraente, a mulher emanava uma energia tão intensa, que parecia estar tomando posse do meu coração. Saio do estado de entorpecimento que me encontrava quando a porta do elevador se abre. Meus passos apressados queriam me levar o mais rápido possível para dentro do carro. Instantes depois, assim que alcanço o veículo, coloquei o meu filho no bebê conforto e adentrei o ambiente. O automóvel entrou em movimento, porém, não conseguia parar de pensar na mulher que por mais que eu tentasse evitar, mexeu comigo de tal forma, que não conseguia explicar.

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