Capítulo 7
Eu estalo, subindo as escadas ouvindo o clique dos meus chinelos misturado com os passos gigantes de Dario que obviamente está me perseguindo.
. Ouço minha avó espiando em seu quarto e olhando para nós com seu olhar de sempre: em seus olhos leio a decepção que estou acostumada a ver, mas não vou parar de correr, até porque sei que Dario é muito mais rápido do que eu.
No entanto, qualquer movimento que faço é interrompido por alguém que me agarra pelo braço e me obriga a parar. Esse alguém é o pai.
Não tenho tempo de tentar me livrar dele, porque Dario não consegue se conter e acaba caindo em cima de mim.
Caímos juntas desastrosamente no tapete persa de minha avó, enquanto tia Giuditta já reza algumas ave-marias.
Rolamos alguns metros e sinto uma dor aguda nas costas toda vez que bate nos ladrilhos.
Dario não está tentando me proteger dos impactos, muito menos, se meu pai não estivesse lá, provavelmente já teria me jogado escada abaixo.
Continuamos rolando e depois de alguns segundos Dario decide que já chega, porque ele nos para com um braço.
-Que diabos está fazendo?-
Abro meus olhos de repente, encontrando Dario e seu rosto bonito na minha frente.
Ele sussurrou essa frase para mim, provavelmente porque estamos um em cima do outro (não nesse sentido), deitados no chão sobre um tapete que provavelmente vale mais que a minha própria vida.
-Eu tive que me vingar pelo que aconteceu ontem.-
Eu respondo gentilmente e inadvertidamente coloco minhas mãos em seus bíceps para empurrá-lo para longe de mim.
Ah Merda.
Só percebo que estou tocando seus músculos quando vejo minha mão pálida em seu braço cor de caramelo.
Inés, a mãe de Dario, é portuguesa, por isso todos os Gonzaless têm a pele cor de caramelo, que sempre invejei.
Tento afastá-lo, mas não consigo, porque os braços de Dario ainda estão no chão e seus olhos estão fixos em mim.
Ele tem olhos castanhos.
Esse é o nome da cor indescritível, nome que dei por sinal.
Eu disse a ele que eles eram dessa cor quando tínhamos cinco anos e nos perdemos na floresta por duas horas. Como sempre estávamos discutindo, e eu disse a ele que ele tinha olhos castanhos, ao contrário dos meus, da cor de merda seca e escura (como Alberto havia me apontado mais de uma vez). Desde então não consigo pensar em outra forma de descrever seus olhos, que agora são só para mim e parecem querer me destruir a qualquer momento.
“Gonzales!” Nosso momento de troca de olhares é interrompido por um pé chutando Dario para longe de mim. Eu olho para cima e vejo Alberto, celular na mão e cueca Dragonball. Acho que meu irmão nunca vai sair da fase de anime e mangá.
-Que porra você estava fazendo? Juro por Deus se você fosse...
-Eu bati nele com uma colher de pau e ele estava me perseguindo. Isso é tudo, não tenha ideias estranhas, babuíno.-
Estendo a mão para Alberto, que a pega e me levanta, ainda olhando para Dario com olhos desafiadores.
Alberto leva os dedos indicador e médio aos olhos escuros como os meus, apontando para eles, depois apontando para Dario com os mesmos dedos.
Ele está indo muito bem, definitivamente.
-Estou de olho em você, Dario.-
Dario gagueja.
-Sua irmã me enoja.-
Nossa, claro que você é muito legal, Darietto dessa merda.
O quanto eu o odeio, você nem imagina.
A situação poderia ter acabado aqui, se ao menos os saltos agulha da vovó não tivessem sido ouvidos batendo no chão, seguidos pelas sapatilhas da tia Giuditta e pelos chinelos antiquados do meu pai.
Toda a família Balti, exceto minha mãe, e toda a família Gonzales, exceto Inés, se reúnem ao nosso redor.
Como sempre, é a velha quem assume o controle, para meu azar ou azar pessoal, dependendo de como você olha para isso.
-Nina.- Ele cospe, colocando a mão sobre o coração. -Você tem vinte segundos para explicar esta situação.-
Até vinte? Ela foi generosa desta vez. Ele geralmente só me deixa três.
Suspiro, indicando algumas vezes primeiro para mim, depois para Dario.
-Bem...-
-Você ficou sem tempo. Dario?-
Abro a boca, olhando para minha avó.
Merda generosa, víbora traiçoeira!
Eu sou sangue do sangue dele, sua única neta e o que ela faz? Você está me esnobando por causa daquele babaca do Dario Gonzales? Bom, aconteceu que ele me esnobou por Chiara, e até aí tudo bem, porque Chiara é maravilhosa, mas Dario não, Dario é um idiota e então... eu sou a neta da velha, por que você não sabe? a mim?
Estou brincando, sei muito bem por quê: ele me odeia.
Ele jogou a colher de pau em mim.
A voz de Dario me traz de volta à realidade.
Diz isso com calma, com a habitual indiferença que sempre o caracterizou.
Eu dou de ombros.
Certo, não posso negar a evidência, pois ele tem uma marca vermelha bem no abdômen que tem o mesmo formato de uma colher de pau.
Freeza abre a boca. Ele aponta para o sinal vermelho de Dario e depois para mim. Sim, vovó, eu mesma fiz.
"Oh, senhor..." Papai sussurra, colocando a cabeça entre as mãos.
Ao fundo, ouvem-se os sons do videojogo de Mattia, que consiste num jogo de guerra, pelo que se ouvem apenas armas de fogo.
Estou começando a pensar que até meus parentes gostariam de atirar em mim de vez em quando.
Sei que vou levar uma grande bronca de papai, mas, milagrosamente, Giulio me salva. Rir.
Sim, acabei de machucar seu filho e Giulio ri, bagunçando meu cabelo.