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Capítulo 9

Gori sorri de volta, fingindo fechar a boca.

Reviro os olhos com a atitude dele, mas tenho que conter um pequeno sorriso que ameaça crescer em meu rosto.

O professor entra na sala e os alunos presentes olham para ele em silêncio. Ele começa a falar sobre feitiços, mexendo as mãos para intensificar as palavras de vez em quando, e não posso deixar de notar a forma esnobe com que ele olha para os outros alunos, como se se sentisse melhor que todos os presentes.

Meus pensamentos voam para fora daquela sala, indo direto para o último sonho que tive. Geralmente eu não sonhava muito e, quando sonhava, os sonhos não eram tão significativos. Mas o sonho que tive no carro foi especificamente estranho e soou como um aviso. O sangue, o terror, o corpo, tudo parecia real demais. As imagens ainda estavam um tanto vívidas em minha memória.

Engoli em seco, sentindo um arrepio percorrer meu corpo.

O feitiço set ignis não é para qualquer iniciante, precisa de concentração e magia comum…

Volto minha atenção para a professora, que agora está escrevendo o feitiço no quadro.

— Este é um feitiço que pode ser aprendido com o tempo, mas não é difícil. Como outros feitiços, set ignis tem um gêmeo, também conhecido como sperarum glacialis. Ao contrário do feitiço set ignis, que é um feitiço de fogo, o sperarum glacialis é aquele que congela tudo à sua frente. Mas esse feitiço não pode ser realizado por nenhum ser com magia, não, isso é exclusivo de algumas linhagens, também conhecidas como linhagem real dos magos. A linhagem real foi criada há muitos anos...

A partir do momento em que “família real” saiu da boca do homem, voltei a ignorar a aula, direcionando meu olhar para as grandes janelas da sala. A sala de aula ficava em um dos andares mais altos da academia e, olhando pela janela agora, podia-se ver a floresta vazia ali perto…

Apertei os olhos, forçando-os para ver melhor entre as árvores.

Algo corria pelo local, correndo desesperadamente e com uma velocidade que sugeria ser um animal assustado. Aproximei meu rosto da janela. O animal parou, virando-se em direção ao prédio em que estávamos e seus olhos amarelos pareciam pedir ajuda mesmo de longe.

Ele correu novamente.

E eu fiz o mesmo.

Corri pelos corredores da escola como nunca antes, equilibrando-me habilmente nos calcanhares. Ele já havia rosnado para os alunos hoje e agora corria por aí como um lunático. Os alunos devem se acostumar com isso.

Cheguei à floresta em um minuto, desviando de galhos e troncos até chegar a um ponto na floresta, mas não muito longe do ginásio. Gori chegou logo atrás de mim com velocidade de vampiro, algo que já não era fora do comum. O vampiro sempre parecia estar me protegendo.

- O que está mal?

Levantei um dedo para ele, pedindo silêncio.

O lobo apareceu do nosso lado direito, dando passos temerosos com as patas. Agachei-me e estendi a mão em direção ao animal. Ele se aproximou, me cheirando com cuidado, mas no final me deixou passar a mão por seu pelo escuro. Esfreguei o lobo não tão grande, coçando-o atrás da orelha como se ele fosse um cachorro doméstico.

De repente, o animal virou a cabeça para o lado.

Senti movimento antes que ele estivesse à vista.

Uma flecha veio em nossa direção com uma velocidade que muitos não perceberiam. Agarrei o corpo de madeira da arma antes que ela tocasse o joelho de Gori.

- Que diabos.

Ele rosnou, agarrando meu braço e me puxando de volta para o pátio do prédio.

—Os caçadores estão perto. —Ele disse sem parar.

—Eles vão matar o lobo mesmo que não seja um lobisomem.

Gori ignorou minhas reclamações e só parou quando chegamos à área onde estávamos deitados olhando as estrelas ontem. Ele se aproximou de mim e sua mão não estava mais em contato com meu braço. Mesmo de salto alto, tenho que levantar a cabeça para olhar seu rosto. Gori inclina ligeiramente a cabeça e seu hálito quente me atinge.

—E se ficássemos na floresta, eles matariam você. —Ele sussurrou na minha cara.

Estou sem palavras. Não sei dizer se foi por tê-lo tão próximo ou pela fala dele. Engulo em seco e olho diretamente para seus orbes verdes.

Limpo a garganta e me afasto dele para tentar recuperar a consciência. Minha mão passando pelos fios brancos. Mas de repente eu paro no lugar.

O que os caçadores estariam fazendo lá?

— Parece que a academia tem problemas de segurança ou algum infiltrado… — Diz ele quase lendo minha mente.

Eu precisava pegar o colar e sair deste lugar.

O mais rápido possível.

As conversas rodeavam a fogueira, quebrando o silêncio da noite na floresta. Garrafas de Bud Light, Jack Daniels e Coca Cola estavam espalhadas por vários lugares, assim como refrigeradores.

Vampiros, bruxas, lobisomens e humanos se misturaram na clareira.

A festa foi realizada nos arredores de Kolthdrys, na orla de uma das florestas. Fiquei surpreso com a quantidade de pessoas que ali se reuniram. Vampiros controlados. A coexistência decente entre lobisomens e vampiros foi bastante impressionante de se ver.

Fechei os lábios ao redor da boca da garrafa e tomei um longo gole da bebida. Eu olhei em volta. A clareira estava escura, iluminada apenas pelos faróis dos carros e pela própria fogueira. Alguns homens tentaram iniciar uma conversa comigo, mas simplesmente dispensei todos com a mesma desculpa de que iria me encontrar com um amigo meu. Isso é porque eu nem tenho amigo.

O tempo todo fiquei encostado em uma árvore observando as pessoas conversando, outras se abraçando e rindo.

Mas uma das conversas acaba me chamando a atenção, então presto atenção nas mulheres que não estão longe de mim.

—Jonah me contou que eles trouxeram algumas coisas antigas para a academia esta semana, algo como objetos cheios de magia antiga e famílias originais...

Foi exatamente isso que me chamou a atenção.

—...algumas são joias incrivelmente lindas.

Uma das mulheres suspira como alguém apaixonado, me fazendo revirar os olhos, quase bufando no processo.

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