Capítulo 5
Ele terminou de beber a última gota de sangue, esvaziou completamente a bolsa de sangue e a colocou de lado.
—Será preciso muito mais do que um simples pedaço de madeira para me matar.
Levantei uma sobrancelha para ele e um pequeno sorriso divertido cresceu em meu rosto enquanto cruzei o braço no banco e descansei a cabeça na palma da minha mão.
— Eles podem te matar com um lápis no coração. - Ele disse engraçado.
O vampiro pareceu surpreso, sua expressão relaxada. Ele até soltou uma risada nasal.
—E eles podem matar você tão facilmente quanto qualquer humano. — Ele respondeu com um sorriso desafiador.
—Minha mordida é fatal para sua espécie. - eu disse triunfante.
Ele olhou para mim com os olhos semicerrados. Sua boca se abriu um pouco e sua língua saiu, lambendo lentamente o lábio superior. Meus olhos acompanharam todos esses movimentos, registrando tudo em câmera lenta na minha cabeça. Seu dedo indicador percorreu sua boca, esfregando seus lábios carnudos.
—Você ganhou essa, lobinho.
Sua voz saiu um pouco rouca, me fazendo acordar e olhar para ele. Eu dei a ele um sorriso vitorioso. Ele estava mexendo com minha cabeça, quer eu quisesse ou não.
- O que você gosta de fazer no seu tempo livre? Presumo que você tenha vários hobbies.
Ela estava com uma lata de refrigerante na mão, novamente, bebendo a bebida de vez em quando enquanto o observava com curiosidade. Ele estava respondendo às minhas perguntas, foi um bom começo.
- Andar de moto. — Responda sem pensar duas vezes.
Um vinco se forma entre minhas sobrancelhas. Andar de moto? Definitivamente não era isso que eu esperava.
- Ah não. Isto é muito anticlimático. — Bufa. — Você é um vampiro, gostaria, sei lá, de pintar, tocar piano, escrever poemas, empalar pessoas... Outra coisa, vampiro talvez?
Ele olha para mim, seus olhos brilhando de diversão.
Os vampiros muitas vezes tinham hábitos e ideias desatualizadas, mas parecia que o que estava diante dele era bastante atualizado e moderno. O que, novamente, me deixou intrigado. Foi como um cálculo matemático complicado. Quero revelar todas essas camadas que ele parece ter e descobrir o verdadeiro vampiro.
Isso foi no mínimo curioso.
Conheci muitas pessoas sobrenaturais ao longo da minha vida, várias delas bastante reservadas, muito parecidas com aquela que estava diante de mim. Mas eu nunca tive tanta curiosidade sobre alguém antes. Senti como se algo dentro de mim desejasse descobrir tudo o que ele escondeu e deixou no escuro.
Os segredos eram como sombras. Eles estavam escondidos na escuridão, esperando o momento certo para se revelarem. E eu, como muitos, estava curioso sobre as criaturas que se escondiam na neblina.
"Então você não deveria estar em sua forma de lobo, correndo pela floresta e uivando para a lua?" —Ele responde me tirando da minha confusão de pensamentos.
Eu lancei um olhar ameaçador para o vampiro que me olha divertido.
— Touche, pequeno vampiro. — Levanto as mãos em sinal de rendição, fazendo-o rir. Paro por um momento lembrando de algo. —Você não está um pouco velho para ir à escola?
Sua aparência era de menos de trinta anos, mas ele duvidava que essa fosse sua verdadeira idade. Eu não ficaria surpreso se ele dissesse que tem algumas centenas de anos.
- Só tenho anos. Comparado com outros vampiros sou um pouco jovem, mas e você, filha da lua?
Filha da lua... Isso era novo.
Mas caramba, anos. Eu era um feto comparado a ele.
—Não tenho nem um terço da sua idade. — Soltei uma risada. — Esse ano vou completar um ano, basicamente sou um bebê.
O vampiro ri da minha resposta, seu corpo tremendo ligeiramente. Noto seus dentes brancos e bem alinhados. Fico pensando como seria o rosto dele na forma de vampiro real, com as veias visíveis sob os olhos, ao redor da íris tingidas de uma cor avermelhada, e as presas prontas para serem usadas se necessário. Imaginar isso era algo erótico.
Com uma carranca, lembro de algo. Conversamos, fizemos perguntas um ao outro, mas até agora não sabemos o nome um do outro.
— Nesse tempo todo ainda não revelamos nossos nomes, pequeno vampiro.
Ele levanta uma sobrancelha, como se só agora percebesse o fato.
O vampiro estende a mão em minha direção, me dando uma sombra extra sobre as tatuagens em seu braço, ainda escondidas pela camisa.
—Gori Riversky.
Meu olhar alterna entre o rosto e a mão dela por um segundo antes de finalmente sacudi-la em saudação.
—Aithne Arshyen.
Quando minha mão tocou a dele, foi como se eu tivesse tocado acidentalmente em um fio elétrico. Um choque passou do corpo dele para o meu, com um simples toque de mãos. E essa energia fez com que algo surgisse dentro de mim, algo que nem eu conseguia decifrar. Com tudo isso, esqueci tudo ao meu redor num piscar de olhos, me deixando perdido. Meus olhos foram para o rosto de Gori e pude ver que ele também havia notado e sentido a mesma coisa que eu.
Afastei-me dele com alguma apreensão, como se quisesse continuar a tocá-lo e a explorá-lo mais.
Quando ele se apoiou na mão para tirar uma soneca, me permiti olhar melhor para ele. E percebi que no momento em que retirei minha mão da dele, aquela energia dentro de mim havia se escondido e se camuflado, me deixando no escuro e incapaz de entender o que havia acontecido.
Isso foi uma merda.
Sempre tive controle sobre meus sentimentos, ou pelo menos na maior parte do tempo. Mas isso, ter um sentimento - ou seja lá o que for - escondido... isso era algo completamente novo e desconhecido para mim. E esse era exatamente o problema aqui, o desconhecido. Não gostava de coisas inexploradas e misteriosas, pois havia grande probabilidade de muitas coisas acontecerem.
No final, nada disso importava.
Na realidade, tudo isso foi apenas um meio para atingir o fim.
Eu pegaria meu colar e acabaria esquecendo tudo isso. Gori não seria nada mais do que uma lembrança borrada do meu passado. E essa sensação, eletricidade? Poderia muito bem ficar escondido, não mudaria muita coisa na minha vida, nem nos meus planos.