CAPÍTULO 1
Luana Davis
A minha vida está um caos. Trabalho tanto e quase não tenho tempo de lazer; estou a ponto de perder o homem que eu amo devido à correria, e isso precisa mudar. Eu sempre fui do estilo quietinha, daquelas que pensam que precisam agradar a todos e fazer o possível e o impossível para ver todo mundo bem, mas ultimamente está bem complicado. Acabei de me formar e consegui um emprego como oficial de justiça. Tenho uma mesa pequena, mas muito trabalho, sem contar as dificuldades que tenho com alguns funcionários lá dentro, mas sempre escolho fazer a minha parte.
Vejo que o meu gato está sozinho, então resolvo contar logo de uma vez a novidade:
— Vai ficar tudo bem, amor. Eu prometo que vamos fazer aquele cruzeiro que prometi! — falei pra ele, que estava sentado no meu sofá, com a mesma cara fechada de sempre.
— Conseguiu dinheiro? — perguntou, virando-se para me olhar.
— Consegui. Vamos na sexta e ficaremos dois dias lá! — disse empolgada, abraçando-o de lado e até apertei.
— Ufa, que bom! Porque eu usei aquele dinheiro do débito que você deixou comigo e o cartão roxinho. Ainda não encontrei emprego. Mas se está pagando cruzeiro, então a coisa está boa, né? — comentou ele meio frio. Eu sei que ele anda chateado com algumas coisas.
— Tudo bem, amor, não tem problema. Eu dei outro jeito de pagar esse cruzeiro. Só quero que nós fiquemos bem — falei, beijando-o, e ele suavizou um pouco a expressão.
— Vai ficar no mesmo quarto que eu? Já estou cansado de você me enrolar — questionou, olhando meio atravessado. E eu sabia do que ele estava falando.
— Sim, é um cruzeiro de luxo. Você vai ver como vai gostar de lá! A piscina é incrível. Eu vi fotos de tudo, inclusive do quarto, e ficaremos juntos. — Disfarcei, pois, na verdade, ele é muito bonito e bem-arrumado, e eu sou tão simples, e até um pouco desajeitada.
— Hum, ta bom — respondeu apenas, mas eu tenho certeza de que vai dar tudo certo.
Os dias foram passando e eu precisei me organizar e arrumar tudo, e só tive tempo depois do trabalho, pois aquele escritório me prende bastante. Então, nos vimos bem pouco nesses dias.
No escritório:
— Luana! Você precisa organizar esses documentos, eu não vou ter tempo — diz minha colega de trabalho, mas não entendi muito bem.
— Mas essa não é a sua função? Pensei que fosse você a cuidar desses tipos de processos, das visitas e penhoras — respondi.
— É que eu não vou ter tempo, as visitas já me cansam o suficiente, você se vira, não é? Eu já vou indo, tenho pressa.
Ela nem espera eu responder e sai, me deixando com tudo. Eu já estou acostumada, os trabalhos chatos e burocráticos sempre sobram para mim, e eu acabo fazendo, pois alguém precisa fazer, não é?
Não sou uma mulher ambiciosa, tenho vinte e cinco anos, sou recém-formada e estou satisfeita com o meu emprego. Claro que tenho o sonho de um dia encontrar o meu príncipe encantado e viver um daqueles romances de livros e novelas. Só espero estar andando no caminho certo.
No dia do cruzeiro:
Meu namorado veio aqui em minha casa, para se arrumar no meu banheiro. De acordo com ele, aqui tem de tudo e aquele cabelo exige um cuidado absurdo. Então, tudo bem! O problema é que ele estava demorando demais, e eu já estava preocupada, então o chamei:
— Amor! Não demore, falta pouco tempo para o nosso embarque — e ele ainda estava se arrumando.
— Já estou pronto, você que é acelerada — o vi me olhando de perto. — Por que não tira esses óculos hoje, Luana? Coisa feia!
— Eu não enxergo nada sem eles, não consigo! — digo desanimada, pois me empenhei muito para conseguir fazer esse cruzeiro. Precisei emprestar trinta mil de um agiota e ainda nem sei como vou conseguir pagar. Vou ter que ver isso depois, mas não importa, pois vai valer a pena e vou recuperar o meu relacionamento.
Eu sempre faço de tudo para agradá-lo, mas eu não sou do tipo tão atraente, e ele nunca gostou dos meus óculos. Não sei se o problema são as lentes ou a armação preta, mas sei que o nosso relacionamento tem dado errado. Deve ser porque eu trabalho demais e não tenho tempo para ele, e ele é muito carente.
Quando enfim pegamos um carro de aplicativo para irmos, ele foi no banco da frente e precisei ficar sozinha atrás, e quando fui passar o cartão.
— Foi recusado, senhora — falou o motorista, e franzi o cenho.
— Como? Ainda tinha bastante limite ontem.
— Eu precisei usar, gracinha! Gasto no seu devido aos pontos, mas você pode usar o outro, você não liga pra isso, não é? — perguntou com aquele olhar que me derrete toda e claro que eu não negaria nada a ele, eu o amo tanto!
— Claro que não. Está tudo bem — falei, mas por dentro estava preocupada com os gastos, mas se for por ou para ele, eu não ligo.
A única coisa que me importa é que nós se reconciliemos, acredito que duas noites serão o suficiente, eu nunca me entreguei a homem nenhum, mas hoje serei totalmente dele. O amo muito e sei que é isso que ele deseja, pois sempre foi um mulherengo e já não deve estar aguentando essa situação. Estava tudo quieto no carro e eu estava me sentindo esquisita, com dores no corpo e o nariz escorrendo, então comecei a espirrar.
— Estou um pouco resfriada, hoje. O meu corpo não está nos melhores dias, atchim! — falei e espirrei, ele olhou para trás e então disse:
— Já melhora, frescura a sua — falou meio sorrindo, acho que estava brincando, então não falei mais nada.
Quando chegamos ao local, pensei que ele me ajudaria, mas foi saindo na frente, analisando a vista e me abandonou com as malas.
— Atchim! — espirrei novamente.
— Você traz, não é? Vou procurar um banheiro, e quando encontrar o quarto descanse um pouco, que logo irei para lá — disse ele e sumiu na frente, mal enxerguei para onde ele estava indo ou em qual direção.
Só vi quando ele subiu a grande rampa que dava acesso ao navio e era lindo demais. Fiquei preocupada se conseguiria levar tudo e ainda encontrar o quarto, mas tudo bem... lá vou eu!
O lugar era maravilhoso, enorme! Parecia uma cidade flutuante, com piscinas, mesas, cadeiras, guarda-sóis e esteiras. Dava para ver que os quartos tinham vista para o mar, era muito lindo. Cheguei com certa dificuldade até a grande rampa que dava acesso ao convés e já tinha muita gente entrando naquele momento, mas também estava bem em cima da hora.
Passei pelas mesinhas, cada uma com um guarda-sol, e logo desci para a parte dos quartos; eu apenas me lembrava do número, que era cento e vinte dois, mas certamente eu o acharia, não é?
Eu estava suando frio e as malas estavam pesadas, fui entrando com dificuldade e para ajudar, os meus óculos estavam um pouco frouxos, e eu precisava ajeitá-los constantemente, então com as mãos ocupadas dificultou bastante.
Fui entrando e o espaço não era grande para caminhar com malas, tinham várias pessoas e eu fui desviando como podia, dava para notar que todos estavam muito bem-vestidos, indo de um lugar para outro. Eu estava sentindo a minha pele soar frio e quando eu menos esperei, senti o meu corpo sendo empurrado por alguém e os meus óculos caindo no chão. No mesmo instante esse alguém me segurou, e quando percebi estava praticamente deitada no colo de um homem. Um homem que nem conheço, inclusive!
Eu estava sem os óculos, então eu vi apenas um vulto, uma imagem vaga do rosto dele, mas o cheiro era ótimo. Parecia ser muito bonito e ele tinha braços fortes e ágeis, que me desestabilizaram tanto que até quis permanecer ali. "Eu teria enfim encontrado um príncipe encantado?" penso.
Me senti confortável nos braços dele e esqueci de tudo ao meu redor. Parecia que o tempo tinha parado ou estava em câmera lenta. Ninguém nunca me amparou assim e gostaria de estar com os óculos para poder vê-lo melhor! "Óculos? Cadê os meus óculos?" penso, e sou tirada do transe com o barulho de algo quebrando próximo a mim.
— Droga! — falei meio baixo, mais para mim mesma.
— Deveria tomar mais cuidado e não ficar deixando os óculos no chão! — disse ele me erguendo, e me desliguei do transe em que entrei. No momento seguinte, entendi que eram meus óculos que haviam quebrado.
— Oh! Me desculpe, senhor! Eu sou mesmo muito descuidada. Deveria ter prestado mais atenção. Me desculpe mesmo — eu fiquei repetindo, mas o homem não levou muito em conta. Ele me entregou o que restou dos óculos quebrados e foi saindo aos poucos, me deixando novamente sozinha com o corpo dolorido e cheio de malas.
Observei muitas pessoas me olhando, pois pararam todas na minha volta, provavelmente acharam-me uma maluca e com razão. Mas, estava tudo bem! Eu dei mais uma olhadinha, e agora de longe seria impossível de identificar aquele homem, já estava escuro e eu quase não conseguia ver, e estou muito curiosa para saber como conseguirei encontrar o nosso quarto, os números parecem borrões e já estou com os braços cansados, e nem sinal do meu namorado por aqui. Tomara que dê tudo certo, investi tanto dinheiro nisso.
Entrei num grande corredor, era bem chique, com detalhes de plantas nas laterais e um tapete vinho espalhado no chão, um jogo bonito de luzes brancas e amarelas, a porta estava destrancada, pelo que olhei era aquele mesmo, vou ajeitar as coisas e vou fazer uma surpresa para o meu gato, trouxe uma camisola “sexy”, e ele vai chegar aqui e nem vai acreditar que sou eu mesma, não quero que nada dê errado hoje, me programei demais para isso e o meu futuro depende da nossa reconciliação.
Estou nervosa que seja a nossa primeira vez, na verdade a minha. Mas, já andei estudando um pouco sobre isso e acho que vou conseguir agradá-lo, aprendi até umas coisas para fazer nele, só não pode dar errado, mas, não vai dar!