02

•Lorena•

Eu estava quebrando a cabeça, estudando igual uma maluca pra faculdade, quando de repente o meu celular começou a disparar sem parar.

Milhares de solicitações para me seguir em uma rede social, milhares mesmo.

Isso só pode ser coisa do Lennon.

Coloquei meu celular no modo silencioso e voltei a focar.

Amanhã eu tenho duas provas na faculdade, então não podia me dar ao luxo de arrancar a cabeça do meu irmão agora, mas ele ainda vai me pagar.

Peguei meu celular e vi que já se passava das duas da manhã, minha cabeça estava a ponto de explodir e só aí me lembrei que não havia comido nada ainda.

Me levantei e fui pra cozinha, procurando algo para comer.

- Lorena? - Ouvi a voz do Lennon e resmunguei em resposta - Depois de amanhã os moleques vão vir pra cá.

- Que moleques? - Comecei a montar um sanduíche

- Da minha equipe.

- Pra que? - Suspirei, não estava afim de ver ninguém essa semana

- Nosso aniversário, cabeçuda. - Bateu levemente em minha cabeça e gemi de dor - Tá com dor de cabeça?

- Estou, estudei muito hoje.

- Jantou? - Assenti

Me sinto culpada em mentir para o meu irmão, mas se eu não faço isso, ele surta.

- Da uma descansada, maninha. - Ele falou, sentando no balcão - Só estuda e trabalha.

- Me desculpe, senhor famosinho. - Levantei as mãos em sinal de rendimento - Não é todo mundo que ganha a vida gritando na frente de uma câmera. - Mordi o sanduíche - Eu tenho que garantir o meu futuro.

- Já falei pra você virar modelo, trabalhar uma vez na vida, outra na morte e ganhar bem.

- Deus me livre. - Ele riu

- Vai dormir, tá? - Ele desceu do balcão - Boa noite, eu te amo. - Beijou o topo da minha testa e eu abracei a sua cintura

Sempre fomos o Lennon e eu para tudo, ele sempre foi o meu porto seguro.

Quando ele foi emancipado, fez questão de me trazer para morar com ele.

Não tínhamos uma relação ruim com os nossos pais, muito pelo contrário, mas as lives do Lennon estavam esgotando eles dois.

Lennon foi emancipado aos dezesseis e logo veio morar sozinho, me trazendo junto com ele.

Ele trabalha em uma Organização famosa de jogos desde os treze anos, sendo reserva do Arthur no início e isso rendeu muitos problemas psicológicos para o meu irmão.

Aos poucos eu via ele se curando e estava extremamente orgulhosa de quem ele estava se tornando.

- Tchau, pão careca. - Ele subiu, voltando para a sua live

Terminei meu sanduíche e tentei dormir, mas não consegui.

Quando eu tenho algo para fazer, normalmente não durmo.

Resolvi ver minha série de conforto, que de contorno não tinha nada, só me fazia sofrer.

{...}

- Lennon? - Entrei em seu quarto - Compra um açaí pra mim? - Forcei um bico

- Não. - Ele me olhou rapidamente, logo reparei que o mesmo estava fazendo live - Relaxa aí, chat. - Ele fechou o semblante e eu me aproximei, aparecendo na frente da câmera - Tá fazendo o que aqui Lorena? - Ele me olhou, mas logo voltou a prestar atenção no jogo

- Oi, pessoal! Boa tarde. - Abaixei pra ficar na altura da câmera - Tem como vocês pedirem pro meu irmão lindo me pagar um açaí? Esse mão de vaca não solta o bolso.

- Sai daqui, Lorena. - Ele disse, morrendo no jogo

- Vai pagar o meu açaí?

- Não, porra!

- Então eu vou ficar aqui falando com a galera da live.

- Tá bom, cara! Pede logo esse açaí. - Ele disse e eu sorri vitoriosa

- Valeu aí, gente. - Saí feliz e fui tomar banho

Tenho dinheiro pra comprar açaí? Sim. Mas o Lennon tem muito mais e eu não sou boba.

{...}

- Lennon, eu tô saindo. - Falei sem nem entrar no quarto

- Vai pra onde?

- Beber e voltar pra casa sendo carregada. - Ele negou com a cabeça, mas logo fechou o semblante

- Parou, porra! - Ele reclamou - Sai daqui, Lorena! - Bati a porta do quarto e fui em direção ao meu

Odeio o jeito que o Lennon me trata quando fica com ciúmes, a culpa não é minha!

Perdi totalmente o ânimo para sair e mandei uma mensagem no grupo falando que não ia mais.

Garoto idiota!

Aproveitei pra dar uma geral no meu quarto, quando terminei, tomei banho e deitei para ver minha série.

- Lorena? - Vi o Lennon entrar e fingi que estava dormindo - Me desculpa? - Ele se aproximou da cama e eu estranhei sua atitude - Não deveria ter te tratado mal, a culpa não foi sua. - Ele suspirou e foi até a porta do quarto - Eu sei que você não tá dormindo. - Ele saiu

Meu irmão não é de reconhecer seus erros, muito menos de me pedir desculpas, então estou totalmente surpresa com sua atitude.

Senti meus olhos pesarem e não sei exatamente em qual momento peguei no sono, mas eu estava precisando muito daquilo.