PRÓLOGO
Prólogo
Nápoles – Itália
Alguns anos atrás...
LORENZO
Mesmo em passos silenciosos eu sabia que ele estava no ambiente. Mantive os meus olhos fechados numa tentativa que o homem que se tornou o meu algoz fosse embora.
Eu ainda podia sentir o cheiro de carne queimada, impregnado em minhas narinas. Nunca em toda minha vida uma dor tão intensa tinha me atingido e quando eles colocaram aquele ferro em minha pele, algo dentro de mim, começou a vibrar no mesmo instante que a dor em meu peito se intensificava com o contato do objeto escaldante.
Fechei a boca para não deixar que nem um som saísse entre meus lábios, pois eu sabia que as consequências seriam as piores. Levantei a cabeça e o meu pai mantinha o seu olhar cravado em minha direção, porém, o homem que sempre admirei não demostrava nenhuma reação ao ver todo o sofrimento que estavam me infligindo e quando enfim o símbolo da nossa organização ganhou vida em minha pele, assim que o ferro foi afastado tive que me segurar para não desabar ao chão.
Meus pensamentos foram interrompidos quando a voz potente dele ressoou no espaço.
— Levante! Agora!
Diante daquela ordem mesmo com dificuldade fiquei de pé. Seus olhos me sondaram da cabeça aos pés. O homem de armadura de ferro e coração de gelo parecia um leão faminto, espreitando para caçar o cervo.
— Vamos! Essa será a última fase do seu treinamento e algum dia vai me agradecer por tudo que estou fazendo. Hoje você vai aprender que ninguém é confiável e seu coração assim como o meu ficará tão frio como uma barra de gelo.
Ele deu um giro rápido nos calcanhares e começou a andar em direção à porta. Em passos vacilantes fui em sua direção. Passamos pelo imenso corredor até chegar à sala de treinamento. Meu olhar ficou fixo em Giovani e agradeci mentalmente pelo meu único amigo estar comigo nessa última fase. Desvio o olhar dele quando novamente a voz do meu pai chama nossa atenção.
— Somente o melhor sairá vivo dessa sala.
Fiquei atordoado com suas palavras, no entanto, ele colocou uma adaga que até então não tinha visto em sua mão em cima da pequena mesa ao seu lado. Rapidamente o temido chefe da máfia siciliana deixou o cômodo. Giovani ficou imóvel e só saiu do seu estado de devaneio quando ouviu a minha voz.
— A nossa amizade está acima de tudo. Vamos sair os dois por aquela porta.
Em uma fração de segundos desviei a minha atenção do rosto dele ao sentir um latejar em meu peito e quando levantei a cabeça. Todos os meus órgãos internos começaram a funcionar a todo vapor. Suas órbitas esverdeadas estavam furiosas, em uma de suas mãos a adaga deixada, minutos atrás pelo meu pai. Seus lábios se contorceram e em seguida sua voz carregada de ódio preencheu o espaço.
— Como o chefe disse, daqui só um de nós sairá vivo, por anos você vem sendo elogiado em todas as etapas do treinamento. Mas eu irei mostrar a todos quem é o melhor e o mais indicado para no futuro ser o chefe da máfia.
Movendo-se na velocidade de um relâmpago, ele avançou em minha direção. A dor que antes ardia em meu peito tornou-se pior quando uma onda de calor tomou conta de mim e um ódio descomunal apoderou-se de todo o meu ser. Antes que o cervo cogitasse atingir o leão, me desviei e desferi um soco em seu rosto, fazendo-o beijar o chão com força. Nos instantes seguintes uma luta pela sobrevivência foi iniciada.
Horas depois...
O som das minhas passadas ecoaram pelo corredor vazio. A sensação que eu tinha era que meu corpo estava em chamas e a minha atenção estava voltada para o objeto pulsante em minhas mãos, que mesmo batendo fraco me fez sentir um prazer imensurável ao arrancá-lo do peito do infeliz. O sangue escorria pelos meus dedos e ao sentir a presença do chefão da máfia levantei a minha cabeça.
— Você dará continuidade ao legado da nossa família e será temido e respeitado por todos.
Olhando fixamente para ele, levei a outra mão ao encontro do objeto e apertei com toda minha força. O esmagando por inteiro.
Uma coisa era certa. Depois de hoje jamais serei o mesmo.